A Itaipu Binacional convidou o Notícia Sustentável para uma press trip nos dias 29 e 30 de novembro, com o objetivo de compartilhar com jornalistas de todo o Brasil o trabalho de sustentabilidade que a companhia realiza nas margens brasileiras do empreendimento – é sempre bom lembrar que a usina também pertence ao vizinho Paraguai.
Aceitei o convite em nome do portal e saí de Salvador rumo à Foz do Iguaçu no início do domingo (28). Primeiramente, um breve contexto: o trabalho desenvolvido pela Itaipu para a restauração de ecossistemas começou antes mesmo dos primeiros giros de suas turbinas.
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Em 1979, com a criação das áreas protegidas, teve início a implantação da floresta ciliar no entorno do reservatório e a criação dos refúgios biológicos. Esta ação, desde então, não parou.
Passadas quase quatro décadas, a Fundação SOS Mata Atlântica publicou um estudo em 2017 indicando que Itaipu é a principal responsável pela regeneração de áreas florestais no Paraná. São 28% de recuperação do bioma observado no Estado nos últimos 30 anos, ou seja, quase um terço do que é preservado tem o trabalho da companhia.
Série de ações socioambientais
Na segunda-feira (29), o nosso passeio começou por volta das 8h30, no Refúgio Bela Vista, onde o superintendente de Gestão Ambiental da Itaipu Binacional, Ariel Scheffer, fez uma apresentação das ações socioambientais da companhia. Ele destacou que a usina conta com plano diretor desde 1982, o qual foi atualizado recentemente e conta com um manual de procedimentos de zoneamento.
“Trabalhamos com todos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, mas com maior ênfase nos ODS 6 [acesso à água potável] e ODS 7[acesso à energia limpa e renovável]. São projetos que vão desde à conservação da biodiversidade (fauna e flora), passando pelo monitoramento de sedimentos e qualidade da água, e chegando até mesmo ao fomento das energias renováveis”, ressaltou Scheffer.
Apoio aos pescadores
Para aprofundar o conhecimento adquirido na apresentação, iniciamos por volta das 10h o deslocamento de barco, visitando pontos de pesca artesanal.
Em Santa Terezinha de Itaipu, na Colônia São Pedro, consegui conversar com José Amâncio Rodrigues, 70 anos, mais conhecido como Zé Barba, um simpático pescador que atendeu muito gentilmente à imprensa.
Ele relatou que os tanques-rede disponibilizados pela Itaipu Binacional ajudam bastante, sobretudo nos períodos de defeso, quando a pesca na região fica restrita.
“Os tanques-rede nos ajudam com a nossa geração de renda. Pescamos aqui de 50 kg a 80 kg de peixes mensalmente. Aqui dá muito tucunaré, corvina e surubim, entre outros. Inclusive há muitos torneios de pesca esportiva por aqui também, o que ajuda a movimentar o turismo da região”, observou Zé Barba.
Em seguida, a visita foi voltada a uma área em início de restauração, e a uma outra, já com um processo avançado. A técnica responsável por compartilhar as informações com a imprensa foi a engenheira florestal Veridiana Pereira.
“Depois de realizar o reflorestamento, queremos entender agora o quê de processo ecológico e serviço ecossistêmico conseguimos resgatar e prover, principalmente no que diz respeito à biodiversidade”, projetou Pereira.
Flora e fauna resgatadas
Já no período da tarde, depois do almoço, conhecemos as cadeias de restauração florestal da Itaipu Binacional, que inclui um viveiro de produção de mudas florestais. Posteriormente, tivemos contato com dezenas de espécies animais, tais como onças, jacarés e harpias, onde nos foi explicado como funciona a relação da fauna com a restauração.
A visita contou ainda com um workshop do NIT, que é o centro de tecnologia da Itaipu Binacional, e uma rápida passagem pelo mirante da usina hidrelétrica, onde os jornalistas puderam produzir fotografias e vídeos.
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Para encerrar o nosso primeiro dia de visitas, o diretor de Coordenação da Itaipu Binacional, general Luiz Felipe Carbonell, nos falou sobre os desafios de administrar uma usina binacional, enfatizando que o consenso entre os dois países é fundamental para que a gestão do empreendimento seja devidamente conduzida.
Perguntei a ele a respeito de como é o relacionamento com o governo do Paraguai. “O desafio de administrar é mais fácil do que foi o da construção. Mas, evidentemente, tudo depende de consenso, não pode haver um sim de um lado e um não do outro. Claro que às vezes alguns interesses não convergem, mas, em linhas gerais, costumamos chegar a um denominador comum.”
Carbonell ressaltou que neste ano, mesmo em meio a uma das maiores crises hídricas do Brasil nos últimos 95 anos, a Itaipu Binacional seguiu operando de forma resiliente, graças a “capacidade técnica aliada à preservação ambiental”.
Impactos da Usina de Itaipu
Vale observar que qualquer empreendimento causa impactos socioambientais – os de grande porte, proporcionalmente, costumam ser mais graves. A grande questão é como lidar para reduzir e/ou eliminar tais impactos.
O nascimento da Usina Hidrelétrica de Itaipu, que é de fundamental importância para o País, contou com alguns episódios tristes, os quais envolveram desde a morte de trabalhadores durante as obras e desmatamento da Mata Atlântica até a desapropriação de centenas de famílias que não receberam a indenização devida.
Estes registros constam no trabalho acadêmico “Os problemas socioambientais causados pela hidrelétrica de Itaipu”, publicado em 2015 pelas estudantes do curso de Engenharia Civil do Centro Universitário Ritter dos Reis Ana Paula da Silva Picketti e Luiza Bartz Noschang, durante a XI Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação da instituição de ensino.
Contudo, também é verdade que a usina conseguiu virar esta página na sua história, e hoje faz muito mais pelo desenvolvimento sustentável da região do que a legislação brasileira exige. Em Foz do Iguaçu, não é preciso andar muito para perceber o quanto que a usina foi capaz de criar um trade turístico para a cidade, fortalecendo a economia local – isso sem falar nos inúmeros projetos socioambientais que eu pude conhecer in loco hoje.
Saiba também
Em 2019, os mais de 100 mil hectares de áreas protegidas no entorno do reservatório, em ambas as margens, foram reconhecidos como área-núcleo da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, dentro do programa “Homem e Biosfera”, da Organização das Nações Unidas.
No último mês de julho, a Itaipu e o Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica deram início às atividades da primeira Unidade de Gestão Descentralizada (UGD) da Reserva da Biosfera do mundo.
A UGD da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica (UGD RBMA Itaipu) soma cerca de 860 mil hectares, compreendendo as áreas protegidas da binacional e matas ciliares de 29 municípios que fazem parte da Bacia Hidrográfica do Rio Paraná 3, limitando-se com o Parque Nacional da Ilha Grande, ao Norte, e com o Parque Nacional do Iguaçu, ao Sul.
Na próxima sexta-feira (3) a Itaipu Binacional celebrará a marca de 24 milhões de árvores plantadas no lado brasileiro da usina.