Você consegue imaginar o poder de milhares de estudantes e professores engajados na restauração da natureza? Isto aconteceu durante a competição escolar colaborativa Restaura Natureza – Olimpíada Brasileira de Restauração de Ecossistemas, organizada pela WWF Brasil.
A iniciativa, coordenada pela Quero na Escola, uma instituição sem fins lucrativos dedicada à educação, também foi apoiada pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) no Brasil.
De Norte a Sul, cobrindo mais de quatro mil quilômetros longitudinais, os seis biomas brasileiros, 25 estados mais o Distrito Federal, a Restaura Natureza resultou em 7.424 estudantes envolvidos em sua primeira fase.
Alinhada com a Década da ONU para a Restauração de Ecossistemas, a competição considera que a introdução de temas de restauração no currículo escolar pode ser uma forma significativa de restaurar a natureza e a conexão das pessoas com ela.
O oficial de programa do Pnuma-WCMC Brasil e parte do júri das Olimpíadas, Matheus Couto, disse que momentos como este podem ajudar a formar uma nova geração de protetores e defensores da natureza.
“Foi fascinante ver os estudantes desenvolvendo seus projetos e pensando em como restaurar seus ecossistemas locais. A maioria dos projetos estudantis se baseou em uma variedade de estratégias como compostagem, plantação de árvores, reciclagem e educação ambiental, o que é ótimo porque não há uma solução única para reverter a degradação da natureza”.
Para a diretora de engajamento do WWF-Brasil, Gabriela Yamaguchi, as escolas podem ser fortes aliadas na restauração da relação humana com a natureza: “É crucial que deixemos de destruir e preservemos o meio ambiente, mas hoje isso não é suficiente. Precisamos restaurar a natureza e nossa relação com ela. Esta Olimpíada foi criada porque reconhecemos a importância da comunidade escolar como um ponto de partida para mudar a relação da sociedade com a natureza”, explicou.
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Para criar a competição, a equipe do Quero na Escola identificou as demandas da comunidade escolar em um processo de escuta realizado nas escolas de várias cidades brasileiras. Nas entrevistas, os professores falaram sobre suas visões de mundo, medos, frustrações, sonhos e obstáculos no contexto da pandemia.
“As ações tomadas pelos alunos junto com seus professores e colegas de classe são lições para toda a vida, que também deixam um legado para a sociedade. O impacto da Restaura Natureza é imenso”, defende a cofundadora do Quero na Escola, Cinthia Rodrigues.
O grupo Sauins Protetores, formado por cinco alunos da Escola Municipal Professora Tereza Cordovil de Manaus, Amazonas, coordenado pela professora Christinne Matos Marcos, conquistou o primeiro lugar na categoria Comissão Julgadora das Olimpíadas, entre 208 projetos apresentados. Durante o processo, os estudantes se comprometeram a obter a doação de mudas e a autorização de um espaço no Igarapé do Gigante para o plantio.
Os igarapés
Antes de continuar contando a história da restauração do Gigante, é preciso conhecer o significado da palavra “Igarapé”. Trata-se de uma palavra indígena do Tupí, que significa “caminho de canoa”. É chamada assim porque são caminhos aquáticos através da densa floresta amazônica, consideradas “veias” da floresta, ligando as ilhas fluviais entre si ou com o continente.
Os igarapés atuam como corredores ecológicos que permitem o fluxo de espécies animais e vegetais. Além disso, os igarapés foram e continuam sendo cruciais para o desenvolvimento da cidade de Manaus, que tem mais de dois milhões de habitantes e é uma das mais povoadas da Amazônia brasileira.
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Segundo a professora Christinne Matos Marcos, Manaus tem 150 igarapés, e quase todos eles sofrem com a poluição. O “Igarapé do Gigante” faz parte da bacia hidrográfica do Tarumã, considerada uma bacia hidrográfica mista, passando por zonas urbanas e rurais. Também está enfrentando a poluição.
Este Igarapé poderia ser um aliado essencial para melhorar a qualidade de vida da população. Ainda assim, ele vem sofrendo há décadas com mudanças ambientais significativas ao longo de seu curso de água e com o crescimento desenfreado das áreas urbanas. Mas agora o Igarapé do Gigante tem defensores: os “Saiuns Protetores”. O nome do grupo, “Sauins”, representa uma das espécies de macacos, pequenos e de cauda longa, comuns na região amazônica.
Mobilização
Para realizar uma significativa ação de restauração, os “Sauins Protetores” mobilizaram e reuniram diferentes organizações, tais como organizações não-governamentais, secretarias municipais de meio ambiente e planejamento, povos indígenas e comunidades tradicionais que vivem nas fronteiras do igarapé.
“Junto com os parceiros iniciamos a restauração em uma área de 200 metros quadrados em uma área de Preservação Permanente do Igarapé do Gigante com sete quilômetros de extensão. Foram plantadas 200 espécies de árvores, todas nativas da Amazônia. Os estudantes, professores, representantes de organizações parceiras, a líder indígena Munduruku, membros da comunidade que vivem ao redor do igarapé do Gigante, representantes da ONG Mata Viva, o Coletivo Todos pelo Gigante e o Comitê da Bacia do Tarumã se envolveram e contribuíram para esta importante missão”, explicou a professora Christinne Marcos.
Para monitorar a área, os alunos também envolveram tecnologia. Para acompanhar o crescimento das árvores que registraram cada uma no aplicativo Tree Earth, que permite, entre suas funções, a emissão de certificados, uma espécie de “registro de nascimento” de cada planta, relatórios, estatísticas de plantio e o cálculo de CO2 mitigado pelas plantas.
Além de realizar a restauração, a escola adotou o espaço, e os alunos se tornaram seus protetores oficiais. A instituição de ensino implementou um cronograma de visitas ao espaço reflorestado, garantindo que todos os alunos da escola tenham um contato próximo para conhecer e cuidar do Igarapé do Gigante. “A conservação do meio ambiente depende diretamente da consciência e mudança de hábitos, tais mudanças só são possíveis através da educação”, destacou a professora Christinne.
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Sauins Protetores
Os alunos compartilharam como a experiência transformou sua relação com a Natureza. Para Maria Eduarda Lucena Viana, 13 anos, as Olimpíadas transformaram sua relação com a natureza.
“Minha relação com a natureza antes era bastante triste. Na verdade, eu não me importava com a natureza ou algo parecido”, disse ela, destacando que agora, além da restauração, ela também tem muitas plantas em casa.
Dafne Monteiro da Silva, 12 anos, considerou que a competição ajudou os estudantes, incentivando-os a aprender mais sobre o meio ambiente e como ele contribui para nossas vidas. “Ela nos ensinou como restaurar, cuidar do meio ambiente e da natureza”, disse.
Em suas palavras, Dafne também lembrou que a restauração ajuda na luta contra o aquecimento global e explicou o que a restauração da natureza significa para ela: “Para mim, é muito importante preservar o meio ambiente e a natureza, porque eles são vitais para nossas vidas e para o futuro da humanidade. Sem eles, não viveremos”.
(Via ONU News)