Transição verde no mercado de energia é puxada por países em desenvolvimento

O Brasil foi o principal motor do crescimento das renováveis na América Latina, com expansão de 5,83%/Foto: Ali Farid/FreeImages
Os países em desenvolvimento fizeram a maioria dos investimentos em energias renováveis ​​em 2019, atingindo 54% do total global, superando as economias desenvolvidas pelo quinto ano consecutivo.

Embora a capacidade de investimento no setor tenha diminuído na China e na Índia no último ano, nos demais países pobres e de renda média subiu 17%, um valor recorde de 59,5 bilhões de dólares. Nos países ricos, esse aumento foi de 2%. O Brasil foi o principal motor do crescimento das renováveis na América Latina, com expansão de 5,83%.

As informações são do novo Relatório de Status Global de Renováveis da rede REN21, que acompanha a evolução das fontes renováveis ao redor do mundo. O investimento em energia renovável variou por região, aumentando nos Américas, incluindo Estados Unidos e Brasil, mas caindo em todas as outras regiões do mundo, incluindo China, Europa, Índia e Oriente Médio e África.

Considerando todo o financiamento de fontes renováveis – e excluindo hidrelétricas maiores que 50 MW – a China tem a maior participação do mercado (30%), seguida pelos Estados Unidos Estados (20%), Europa (19%) e Ásia-Oceania (16%; excluindo a China e Índia). África e Oriente Médio responderam por 5%, as Américas (excluindo Brasil e Estados Unidos Estados Unidos) representam 4%, Índia 3% e o Brasil 2%.

O resultado dos países em desenvolvimento é atribuído aos leilões de energia, que agora são um fenômeno global. O Brasil foi um dos pioneiros, mas há uma competição em andamento na América Latina e em partes da Ásia. Além disso, muitos dos metais e minerais de terras raras necessários para desenvolver tecnologias renováveis, como as placas solares, ​​são extraídos nos próprios países em desenvolvimento.

Mercado brasileiro

O Brasil turbinou o crescimento das renováveis na América Latina, com expansão de 5,83%. Só em energia solar, o país terminou 2019 com 4,5 GW de capacidade instalada, um acréscimo de 2,1 GW só no ano passado. Com isso, a fonte solar fotovoltaica foi a que mais cresceu na matriz elétrica brasileira no ano passado, com avanço de 88%, acompanhada bem atrás pela fonte eólica (7%) e hidrelétrica (5%).

No cenário internacional, o Brasil é o terceiro país do mundo em renováveis, com 144 GW de capacidade instalada acumulada total, a maior parte em função da energia hidrelétrica. Os biocombustíveis são outro destaque, com o país respondendo por 26% da produção mundial de etanol e biodiesel. A liderança mundial em renováveis continua sendo da China, com 789 GW, seguida pelos Estados Unidos, com 282 GW. Completam o top 5 a Índia, com 137 GW, e a Alemanha, com 124 GW.

Os dados brasileiros no REN21 incluem as usinas solares de grande porte e os sistemas distribuídos de pequeno e médio portes, em telhados e fachadas de edifícios – investimentos totais que ultrapassaram R﹩ 24 bilhões ao final de 2019. A geração distribuída foi o segmento com maior expansão no país, somando isoladamente 1,4 GW dos 2,1 GW totais de acréscimo.

No segmento eólico, a Bahia vem ganhando destaque no mercado nacional. Entre janeiro e abril deste ano, o estado gerou 31% da energia eólica produzida no país. O estado possui 170 parques eólicos em operação hoje, com mais de 1,3 mil aerogeradores e capacidade instalada de 4,1 GW. De acordo com o governo baiano, outros 38 parques estão em construção e, junto com 86 novos projetos ainda em fase inicial, promete gerar mais de 53 mil empregos.

Com a atual capacidade, o estado é superavitário em energia eólica. Isso porque a energia gerada nessa modalidade no estado é suficiente para abastecer 8,3 milhões de residências, aproximadamente 25 milhões de habitantes – o dobro da população baiana, que é de 14,8 milhões, segundo o IBGE. A eletricidade obtida nos parques eólicos baianos é distribuída para todo o país pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico.

Enxugando gelo

O conjunto de energias renováveis – solar, eólica, hidrelétrica, biocombustíveis e outros – tiveram um incremento de 200 GW de capacidade instalada no último ano em todo o mundo. A liderança em nível mundial também é da fonte solar fotovoltaica, que representou 57,5% (115 GW) desse montante, seguida da fonte eólica, com 30% (60 GW) de participação, e da fonte hidrelétrica, com 8% (18 GW). Esse aumento foi de 12% em comparação com 2018, segundo o relatório.

Se observada apenas a capacidade instalada de geração de energia solar, o crescimento mundial foi de 22,5% entre 2018 a 2019, alcançando 627 GW de capacidade instalada. Em 2009 havia menos de 23 GW de capacidade instalada em todo o mundo.

Apesar dos avanços significativos na geração de energia renovável, a participação dessas fontes na demanda total de energia final aumentou pouco entre 2013 e 2018, aponta o Relatório REN21, saindo de 9,6% em 2013 para 11% em 2018. O REN21 observa que há muito ainda a avançar nos segmentos de aquecimento, resfriamento e transportes, ainda dominados pelos combustíveis fósseis. A participação das fontes renováveis nesses segmentos é de 26%, 10% e 3%, respectivamente.

“Ano após ano, relatamos sucesso após sucesso no setor de energia renovável. De fato, ela supera todos os outros combustíveis em crescimento e competitividade”, reconhece Rana Adib, diretora executiva da REN21. “Mas nosso relatório envia um aviso claro: a fome de energia continua aumentando. Se não mudarmos todo o sistema energético, estaremos iludindo a nós mesmos.”

Outro aspecto observado pelo relatório é a real “limpeza” dos processos de obtenção de energia renováveis. A mineração para extração de terras raras pode gerar significativo impacto ambiental, assim como as hidrelétricas, que deslocam comunidades e podem inundar áreas extensas de florestas, como no caso de Belo Monte, no Brasil.

Além dos imperativos éticos, o relatório destaca ainda que o crescimento das renováveis ainda está muito aquém do que seria necessário para que sejam atingidas as metas de redução de emissões do Acordo de Paris. Embora o avanço tenha sido impressionante (a energia solar fotovoltaica saltou de 23 GW de capacidade instalada em 2009 para 627 GW, com crescimento de 22% somente em 2019), houve pouca alteração nos setores de aquecimento, refrigeração e transporte, indica o documento.

Economia de baixo carbono

Os pacotes de recuperação da economia pós-Covid-19 oferecem uma chance de transição para uma economia de baixo carbono, mas de acordo com Adib, muitos desses pacotes incluem medidas que podem “trancar” o mundo ainda mais em um sistema fóssil. “Alguns desse projetos promovem diretamente gás natural, carvão ou petróleo. Outros, apesar de reivindicarem um foco verde, constroem o telhado e esquecem da fundação. Pegue carros elétricos e hidrogênio, por exemplo. Essas tecnologias são verdes apenas se forem alimentadas por fontes renováveis”, alerta Adib.

“É claro que a energia renovável se tornou mainstream e isso é ótimo. Mas esse progresso não deve nos levar a acreditar que as energias renováveis ​​são um sucesso garantido. Governos precisam agir para além dos pacotes de recuperação econômica e criar as regras e os ambiente para mudar para o sistema de energia.”, defende Arthouros Zervos, Presidente da REN21.
Este post tem sinergia com, ao menos, quatro dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Para saber mais sobre os ODS, clique aqui.

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