As cascas de tangerina – fruta também conhecida em algumas regiões do Brasil como mexerica ou bergamota – que jogamos no lixo, podem virar biogás, em substituição ao uso de combustíveis fósseis como fontes de energia. A conclusão consta de uma dissertação defendida no Mestrado Profissional em Engenharia Urbana e Ambiental do Centro Técnico Científico da PUC-Rio (CTC/PUC-Rio).
As tangerinas representam o segundo maior grupo de cítricos produzidos no Brasil, atrás apenas da laranja, sendo um produto bastante presente no nosso dia a dia e, agora, com um comprovado potencial de reaproveitamento.
“Os resíduos orgânicos, se devidamente tratados, são capazes de gerar não apenas energia limpa, mas também adubo, movimentar a economia, reduzir os impactos dos aterros sanitários e serem grandes aliados na busca de um futuro mais sustentável”, reforça o engenheiro Rafael Vieira de Carvalho, autor da dissertação.
O biogás é um gás majoritariamente constituído por metano e CO2. Por meio de um ensaio de mensuração de potencial de geração de metano (Ensaio BMP – Biochemical Methane Potential), em que os resíduos orgânicos da tangerina foram triturados, misturados com lodo e deixados dentro de um equipamento de medição de variação do volume de biogás por 21 dias, Carvalho conseguiu gerar a produção do biogás a partir da fruta, utilizando uma metodologia padronizada na Alemanha.
Além disso, o estudo “Tratamento de Resíduos Sólidos Orgânicos: análise do potencial de geração de biogás proveniente da digestão anaeróbia da casca de tangerina” trouxe à tona uma revisão no processo de fabricação de sucos de fruta, realizando uma revisão bibliográfica acerca dos tipos de fruta que já tiveram seu potencial bioquímico de metano levantado, como laranja, banana, maçã, uva, manga, abacaxi, melão, lichia, cereja, maracujá, abacate e pitaia.
Reaproveitamento das frutas
“É importante que pequenos e grandes produtores de sucos fiquem cientes do ciclo-de-vida das frutas que utilizam, com a possibilidade de posterior reaproveitamento em biodigestores para gerar o biogás. Podemos e devemos repensar nosso consumo além da mera utilização do produto”, reforça Carvalho. Sua motivação na pesquisa foi buscar uma solução que gere o desenvolvimento sustentável no Brasil e no mundo, apresentando um novo insumo que pode ter sua cadeia produtiva repensada para a produção de energia limpa.
O professor Celso Romanel, coordenador do Mestrado Profissional em Engenharia Urbana e Ambiental do CTC/PUC-Rio, concorda e ressalta que “o biogás é um produto extremamente valioso, que pode ser empregado no combate ao aumento de emissões poluidoras, já que pode ser utilizado como energia térmica, elétrica ou combustível em detrimento aos combustíveis fósseis”.
