Robson Esteves

Pequenos eletroeletrônicos, grandes impactos: a importância de reciclar celulares, carregadores e notebooks

É comum que aparelhos eletroeletrônicos sejam substituídos com frequência, impulsionados por lançamentos constantes, novas funcionalidades e outros fatores que incentivam a troca. No entanto, a preocupação com o destino adequado desses itens após o descarte ainda é baixa, o que agrava os impactos ambientais.

Pequenos dispositivos, como celulares, notebooks e carregadores, muitas vezes ficam esquecidos em gavetas ou são descartados no lixo comum, resultando na perda de recursos naturais que poderiam ser reaproveitados. Isso intensifica a extração de matéria-prima e piora os problemas ambientais.

A demanda por esses produtos segue em alta, especialmente entre consumidores de classes sociais com menor renda (C, D e E). Segundo pesquisa da PwC e do Instituto Locomotiva, realizada no ano de 2024, 68% desse público pretende adquirir novos dispositivos nos próximos 12 meses.

Além disso, nos últimos 10 anos, a participação desse grupo no mercado de eletroeletrônicos cresceu, com 45% dos entrevistados afirmando que aumentaram seu consumo no período. Esse cenário reforça a necessidade de ampliar a conscientização sobre o descarte correto e a reciclagem.

Muitos desses aparelhos possuem em sua composição metais essenciais à produção de novos equipamentos. Quando descartados de maneira incorreta, esses materiais são perdidos e, em contrapartida, a extração de matéria-prima da natureza é aumentada resultando em mais degradação ambiental.

Além disso, esses “gadgets” contêm substâncias químicas perigosas, como chumbo, mercúrio e cádmio, que podem contaminar o solo e a água se não forem tratados corretamente. Dessa forma, a destinação inadequada desses itens representa um risco tanto para o meio ambiente quanto para a saúde pública.

O processo de reciclagem dos pequenos eletroeletrônicos envolve diversas etapas, como triagem, desmontagem e separação de componentes. Materiais como plásticos, metais e vidros, por exemplo, podem ser reaproveitados na fabricação de novos produtos.

Além disso, componentes ainda funcionais podem ser reutilizados, promovendo um ciclo produtivo mais eficiente e sustentável. Empresas especializadas nesse tipo de reciclagem garantem que substâncias tóxicas sejam tratadas de forma segura e responsável, evitando a contaminação do meio ambiente.

Para garantir o descarte correto, é essencial que os consumidores procurem alternativas seguras. Programas de logística reversa que oferecem pontos de recebimento em estabelecimentos comerciais, supermercados e ecopontos podem ser soluções nesse sentido. Alguns fabricantes e varejistas também disponibilizam iniciativas de recolhimento de produtos antigos, e os encaminham para destinação ecologicamente correta.

Campanhas de conscientização promovidas por entidades gestoras como a ABREE também desempenham um papel essencial, incentivando a participação da população e tornando a reciclagem mais acessível e eficaz.

Ainda que um carregador, um cabo USB ou um telefone antigo pareçam insignificantes quando comparados a grandes eletrodomésticos, o impacto coletivo do descarte inadequado desses itens é expressivo.

O acúmulo desse tipo de resíduo em aterros sanitários contribui para a poluição e o desperdício de materiais que poderiam ser reaproveitados. Pequenas ações individuais, como levar um aparelho a um ponto de recebimento ou incentivar amigos e familiares a fazerem o mesmo, geram grandes mudanças na preservação ambiental.

*Robson Esteves – Presidente da ABREE — Associação Brasileira de Reciclagem de Eletroeletrônicos e Eletrodomésticos.    


A jornada de um eletroeletrônico e eletrodoméstico descartado: do lixo à reciclagem

Todos os anos, milhões de eletroeletrônicos e eletrodomésticos chegam ao fim de sua vida útil. De acordo com o último relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), em 2022, apenas 22,3% desses resíduos foram documentados como corretamente coletados e reciclados. No Brasil, grande parte desses produtos ainda não recebe uma destinação ambientalmente adequada.

Mas o que acontece com os equipamentos descartados corretamente? A jornada desses resíduos passa por diversas etapas até que seus materiais sejam reaproveitados ou descartados de forma segura e sustentável.

A trajetória começa com o consumidor, que desempenha um papel fundamental na logística reversa. Ao decidir descartar um eletroeletrônico ou eletrodoméstico, ele deve buscar um ponto de recebimento especializado, como ecopontos, estabelecimentos comerciais participantes ou programas de coleta seletiva. Esse primeiro passo é essencial para garantir que o resíduo siga um fluxo adequado e não acabe no lixo comum, evitando danos ambientais.

Após serem depositados nos pontos de recebimento, os materiais são coletados e transportados até centros especializados. Esse transporte deve ser realizado por empresas autorizadas, garantindo que os produtos cheguem intactos aos locais de consolidação ou triagem. Dependendo da localização e da logística envolvida, os resíduos podem passar por uma etapa intermediária antes de serem enviados para a manufatura reversa.

Nos centros de triagem, os equipamentos são organizados e agrupados para otimizar o transporte e a destinação correta. Nessa fase, é fundamental que os produtos não sejam desmontados de maneira inadequada, pois algumas substâncias presentes em sua composição podem ser perigosas. A triagem garante que cada tipo de material siga para o destino mais adequado, seja a reciclagem ou o descarte ambientalmente correto.

A manufatura reversa é uma etapa crucial no processo de reciclagem de eletroeletrônicos e eletrodomésticos. Nesse estágio, os produtos são desmontados de forma segura por profissionais capacitados, garantindo que componentes reaproveitáveis sejam separados e que substâncias nocivas sejam tratadas corretamente. As empresas que realizam esse serviço devem atender a rigorosos requisitos ambientais e possuir licenças específicas para operar.

Na etapa final, os materiais extraídos seguem para a reciclagem ou para a destinação ambientalmente correta. Metais como cobre e alumínio são fundidos e reutilizados na fabricação de novos produtos, enquanto plásticos passam por processos específicos para se tornarem novos itens. Já componentes perigosos, como baterias e substâncias químicas, recebem tratamento especializado para evitar contaminação e impactos ambientais. Dessa forma, o ciclo da economia circular se fortalece, reduzindo a necessidade de extração de novos recursos naturais.

O descarte responsável de eletroeletrônicos e eletrodomésticos é essencial para minimizar o impacto ambiental e promover um futuro mais sustentável. A jornada desses resíduos, desde o momento em que são descartados até sua reciclagem final, envolve um trabalho conjunto entre consumidores, empresas e órgãos ambientais. Ao garantir que esses produtos tenham um destino correto, contribuímos para a preservação dos recursos naturais e para um futuro mais equilibrado.

*Robson Esteves – presidente da ABREE — Associação Brasileira de Reciclagem de Eletroeletrônicos e Eletrodomésticos.    


Benefícios econômicos e ambientais da economia circular no setor de eletroeletrônicos e eletrodomésticos

A economia circular tem se consolidado como uma solução estratégica para o setor de eletroeletrônicos e eletrodomésticos, trazendo impactos positivos tanto do ponto de vista econômico quanto ambiental.

Esse modelo diminui custos de produção e cria oportunidades de emprego, mas também contribui para a preservação ambiental ao reduzir a extração de matéria-prima virgem e minimiza o descarte inadequado dos equipamentos.

Um reflexo desse avanço é que, segundo pesquisa realizado ano passado da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e do Centro de Pesquisa em Economia Circular da USP, 85% das indústrias brasileiras já adotam pelo menos uma prática de economia circular, demonstrando compromisso com a sustentabilidade.

A adoção de princípios da economia circular no setor permite a reutilização de componentes, a remanufatura de produtos e a reciclagem de materiais, como cobre, vidro e lítio. Esse processo reduz a dependência de recursos naturais virgens, que são extraídos e geram altos custos econômicos e ambientais. Além disso, empresas que investem em design sustentáveis e tecnologias para facilitar a desmontagem e reaproveitamento de peças conseguem diminuir despesas com insumos e logística, tornando a cadeia produtiva mais eficiente e competitiva.

A transição para um modelo circular também estimula a economia ao criar postos de trabalho. Setores como reparo, recondicionamento, reciclagem e remanufatura ganham destaque, promovendo o surgimento de empresas especializadas e oportunidades para profissionais qualificados.

No Brasil, com a regulamentação via a Política Nacional de Resíduos Sólidos e o Decreto Federal n° 10.240, que aborda a gestão de resíduos eletroeletrônicos e eletrodomésticos, impulsiona investimentos na cadeia reversa. O resultado é a criação de espaços para parcerias entre setores públicos e privados e fomento dos modelos de negócio mais sustentáveis.

Do ponto de vista ambiental, os benefícios da economia circular são expressivos. A reutilização e reciclagem de componentes evitam a disposição inadequada de resíduos tóxicos, como metais pesados e plásticos de difícil degradação, que podem contaminar solos e águas.

Além disso, a redução na demanda por mineração e retirada de recursos contribui para a preservação de ecossistemas naturais e a diminuição das emissões de carbono associadas ao processo de extração e produção industrial. Esse impacto positivo também é percebido pelo setor produtivo: de acordo com pesquisa da CNI, 68% dos empresários que adotam práticas circulares reconhecem que essas medidas ajudam a reduzir a emissão de gases de efeito estufa, reforçando seu papel no combate às mudanças climáticas.

O incentivo à conscientização do consumidor também desempenha um papel essencial na redução do impacto ambiental. Ao estimular o descarte dos produtos ao final de sua vida útil, possibilitando o descarte ambientalmente adequado, é possível gerar a movimentação de um ciclo produtivo mais sustentável.

A economia circular no setor de eletroeletrônicos e eletrodomésticos representa um caminho inovador e necessário para equilibrar desenvolvimento econômico e responsabilidade ambiental. Deste modo, investir na circularidade desses produtos é, portanto, uma estratégia inteligente para um futuro mais próspero e ecológico.

*Robson Esteves – Presidente da ABREE — Associação Brasileira de Reciclagem de Eletroeletrônicos e Eletrodomésticos.

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