Restauração na Mata Atlântica

Em dois anos, entidade promete restaurar quase mil “campos de futebol” de Mata Atlântica em dois municípios do litoral paranaense/Foto: Projeto Café Gato-Mourisco/Unsplash

A SPVS (Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental) vai restaurar 886,3 hectares de Mata Atlântica nos municípios paranaenses de Antonina e Guaraqueçaba.

O trabalho será realizado do primeiro semestre de 2022 a dezembro de 2023, em áreas do bioma que ainda podem ser enriquecidas em termos de biodiversidade – plantando uma maior diversidade de espécies características de florestas maduras da região.

Ele será custeado com apoio financeiro do KfW Entwicklungsbank (Banco Alemão de Desenvolvimento), por intermédio do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio) no âmbito do Projeto Biodiversidade e Mudanças Climáticas na Mata Atlântica.

Do total, 720,8 hectares de vegetação serão restaurados em áreas de RPPNs (Reservas Particulares do Patrimônio Natural) e 165,5 hectares em regiões do entorno.

Estudo: cultivar as árvores nativas brasileiras gera quanto de retorno?

Agrofloresta

Além disso, um hectare (ou dez mil metros quadrados) será transformado em agrofloresta – o sistema de produção agrícola, que combina o cultivo de variados alimentos para consumo e comercialização com o plantio de árvores e arbustos de espécies nativas.

Serão implantadas duas unidades produtivas agroflorestais, com foco em espécies frutíferas da Mata Atlântica e, para isso, mão de obra local será contratada.

A proposta do projeto “Mata Atlântica, das encostas às áreas alagadas: restauração ecológica em RPPNs do Mosaico Lagamar” é dar continuidade aos trabalhos de restauração ecológica promovidos pela SPVS nas Reservas Naturais da instituição.

Espécies nativas

As três Reservas (Papagaio-de-cara-roxa, em Guaraqueçaba e Guaricica e Reserva das Águas, em Antonina) foram criadas na década de 1990, a partir da aquisição de 19 mil hectares de áreas, entre pastagens e florestas, degradadas no litoral do Paraná e a partir de  um esforço de restauração da vegetação nativa bastante degradada por anos de exploração desenfreada, essas áreas foram consolidadas.

As práticas incluíam o plantio e o controle de vegetação exótica, cultivada para alimentar os búfalos. Agora, na nova fase do projeto, a entidade vai trabalhar para plantar 240 mil mudas. Até dezembro de 2023, considerando os esforços da SPVS desde os anos 90, nada menos que 975.735 mil mudas (quase um milhão) de espécies nativas terão sido plantadas em áreas de Antonina e Guaraqueçaba.

Técnicas de restauração

Serão utilizadas três técnicas de restauração ecológica nos trabalhos: enriquecimento em áreas no início do processo de restauração com o plantio de mudas de espécies de florestas maduras, nucleação em áreas tomadas pela espécie exótica rasteira braquiária (Urochloa spp) (formação de ilhas ou núcleos de vegetação com espécies com capacidade ecológica de melhorar significativamente o ambiente, favorecendo a regeneração natural com a vinda de outras espécies) e estaqueamento também para controle da braquiária em áreas alagadas.

A espécie exótica rasteira, nativa da África, compete com o desenvolvimento das espécies nativas da Mata Atlântica e as sufoca. Hoje, mais de 230 hectares das Reservas da SPVS ainda são ocupadas por essa espécie invasora, que compromete um desenvolvimento ainda mais sadio da Mata Atlântica.

Recuperação da vegetação

Reginaldo Ferreira, coordenador geral do projeto, reforça que as ações de restauração não visam retorno econômico, já que boa parte dos espaços beneficiados são áreas protegidas por Lei. “A proposta tem como finalidade principal a recuperação da vegetação nativa, promovendo a captura do carbono da atmosfera, contribuindo com a mitigação e adaptação às mudanças do clima e a melhoria ambiental, visando a conservação da biodiversidade”, destaca.

Rodolfo Cabral Marçal, do Funbio, informa que o projeto é uma das iniciativas apoiadas pelo programa Biodiversidade e Mudanças Climáticas na Mata Atlântica, que tem o objetivo de recuperar 3.000 hectares da vegetação nativa. “A SPVS é uma importante parceira do programa, que além do Paraná atua nos estados da Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo, promovendo a recuperação vegetal do bioma, em 3.000 hectares, e capacitando mais de 600 pessoas em diferentes técnicas de restauração, fortalecendo a cadeia econômica e gerando subsídios para projetos futuros”, diz.

Mosaico Lagamar e Grande Reserva Mata Atlântica fortalecidos

A expectativa com o projeto agora, é contribuir ainda mais com o incremento da biodiversidade florestal das Reservas e com a geração e oferta de serviços ecossistêmicos para toda a região do Mosaico Lagamar, onde estão localizadas as Reservas.

O Mosaico Lagamar é um dos 14 mosaicos federais existentes no Brasil. Foi criado em 2006 e inclui áreas e unidades de conservação extremamente estratégicas. O Lagamar também integra os 2,2 hectares reconhecidos pela iniciativa Grande Reserva Mata Atlântica como o maior remanescente contínuo de Mata Atlântica do mundo ainda em bom estado de conservação.

A Grande Reserva Mata Atlântica é uma frente de trabalho em rede que reúne diversas instituições que atuam entre o litoral sul de São Paulo e litoral norte de Santa Catarina, englobando o estado do Paraná.

Ela conecta Unidades de Conservação já existentes, incluindo o Mosaico Lagamar, e auxilia na promoção de iniciativas voltadas à preservação do patrimônio natural, histórico e cultural e ao desenvolvimento regional desses estados.

Busca, ainda, contribuir com mais uma alternativa de modelo de desenvolvimento para a região, levando em consideração sua vocação de conservação da biodiversidade e cultura regional.

Em menos de meio século, mundo perde dois terços das populações de espécies selvagens

Base sólida

Reginaldo também lembra que, há mais de 30 anos atuando na região do Mosaico Lagamar, a SPVS vem mapeando e se relacionando com pessoas e instituições da região, e consolidando uma base de steakholders sólida e virtuosa.

“Este projeto de restauração é um importante elo dessa trajetória, que possibilitará incrementos importantes com relação à restauração e à cadeia produtiva relacionada a ela. Também vai promover muito envolvimento e participação de pessoas e grupos atuantes na região, que, hoje, já estão mapeados e mobilizados pela iniciativa Grande Reserva da Mata Atlântica”, conclui.

Leave a Comment

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

*