Relatório aponta que mudança “fundamental e urgente” é necessária para alcançar ODS

Mulher no Afeganistão junto a antena de energia solar/Pnud/Rob Few

Ainda é possível alcançar o bem-estar humano e erradicar a pobreza, mas apenas se acontecer “uma mudança fundamental e urgente na relação entre pessoas e natureza, além de uma redução significativa nas desigualdades sociais e de gênero.”

A conclusão é de um novo relatório produzido por um grupo independente de cientistas que será lançado durante o Encontro de Cúpula dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), nos dias 24 a 25 de setembro, em Nova York.

A pesquisa é a primeira desde que os ODS foram adotados há quatro anos. Com o tema “O futuro é agora: ciência para alcançar o desenvolvimento sustentável”, o relatório conclui que o atual modelo de desenvolvimento não é sustentável.

Segundo o estudo, os progressos realizados nas últimas duas décadas podem ser revertidos devido ao agravamento das desigualdades sociais e declínios potencialmente irreversíveis no ambiente.

Os cientistas afirmam que “um futuro muito mais otimista ainda é possível, mas apenas mudando drasticamente as políticas, os incentivos e as ações de desenvolvimento.”

Novo modelo

Conseguir crescimento econômico apenas aumentando o consumo de bens materiais deixou de ser uma opção viável. Segundo as projeções, o uso global de materiais deve quase duplicar entre 2017 e 2060.

O atual modelo trouxe prosperidade a centenas de milhões de pessoas, mas também levou à continuação da pobreza, níveis de desigualdade sem precedentes e mudanças no clima e perda de biodiversidade.

O relatório afirma que as transformações devem ser coordenadas entre governos, empresas, comunidades, sociedade civil e indivíduos. Quanto à ciência, “tem um papel particularmente vital a desempenhar.”

Os cientistas dizem que níveis mais altos de crescimento continuam sendo necessários nos países mais pobres, mas que “crescer primeiro e limpar depois não é uma opção.”

A pesquisa propõe que a ONU crie uma nova classificação de investimentos em desenvolvimento sustentável, com parâmetros e diretrizes claras, para incentivar e recompensar um tipo de investimentos e desencorajar outros.

Esta transformação extensa não será fácil e será necessário conhecimento científico para antecipar e mitigar as tensões que se podem gerar. Um dos exemplos é o das pessoas que perdem empregos na indústria dos combustíveis fósseis, que devem ser apoiadas para encontrar novos meios de subsistência.

Os autores enfatizam que “será necessária uma forte vontade e compromisso político” e que “não existem soluções únicas”. Segundo eles, “as intervenções nos países desenvolvidos serão muito diferentes das dos países em desenvolvimento.”

Propostas

O relatório identifica 20 intervenções que podem criar progresso em direção a vários objetivos e metas na próxima década.

O acesso universal a serviços básicos de qualidade é considerado um pré-requisito para a eliminação da pobreza. O fim da discriminação legal e social e o reforço de sindicatos e organizações não-governamentais também é destacado.

Os sistemas de alimentos e energia são considerados “particularmente importantes” devido aos seus impactos no clima e a sua importância para a saúde e bem-estar humanos.

Obesidade e subnutrição são dois problemas/Foto: FAOALC

Alimentação

Atualmente, cerca de 2 bilhões de pessoas sofrem de insegurança alimentar e outros 820 milhões estão desnutridas. Ao mesmo tempo, as taxas de excesso de peso estão crescendo em quase todas as regiões. Cerca de 2 bilhões de adultos têm excesso de peso e 40 milhões de crianças com menos de cinco anos estão na mesma situação.

Para os países em desenvolvimento, são necessários níveis de proteção social mais fortes. Os países devem reduzir o impacto ambiental de seus sistemas de produção de alimentos, reduzir o desperdício e a dependência de fontes de proteínas de origem animal.

Dois terços da população mundial devem viver em cidades em 2050, Diogo Moreira/Governo de São Paulo

Energia

Mais esforços são necessários para resolver o problema de acesso à energia. Cerca de 1 bilhão de pessoas não têm eletricidade, principalmente na África Subsaariana. Mais de 3 bilhões de pessoas dependem de combustíveis sólidos para cozinhar, causando cerca de 3,8 milhões de mortes prematuras a cada ano.

A quantidade de energia renovável aumentou, em média, 5,4% ao ano na última década. Ao mesmo tempo, desde 2009, o preço da eletricidade renovável caiu 77% para a energia solar fotovoltaica e 38% para a energia eólica. Nos últimos cinco anos, os investimentos globais em energia limpam ultrapassaram os US$ 300 bilhões todos os anos.

Apesar disso, o relatório afirma que “um crescimento ainda maior foi impedido por subsídios diretos e indiretos aos combustíveis fósseis, que continuam escondendo seus verdadeiros custos econômicos, de saúde e ambientais.”

Cidades e recursos

Até 2050, dois terços da população global devem morar em cidades. Por isso, o relatório afirma que “serão necessárias cidades mais compactas e eficientes, com melhores transportes públicos, infraestruturas, serviços sociais e uma economia que ofereça meios de subsistência decentes e sustentáveis.”

Em relação aos recursos naturais, governos, comunidades locais, setor privado e atores internacionais devem trabalhar em conjunto para conservar, restaurar e usar de maneira sustentável estas riquezas.

Uma avaliação destes ativos é considerada “um primeiro passo crítico”. Este trabalho deve depois ser refletido em preços, transferências, regulamentação e outros instrumentos econômicos, segundo as Nações Unidas.

Ouça a notícia em podcast:

 

(Via ONU News)

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