O papel dos catadores de materiais recicláveis para lidar com o desafio dos resíduos sólidos no Brasil foi um dos temas centrais do evento de lançamento da primeira edição do Anuário da Reciclagem 2017-2018, documento lançado na segunda-feira, 3 de setembro, em São Paulo, e que apresentou números consolidados da atuação de 270 associações e cooperativas em todo o Brasil.
A publicação, produzida pela Associação Nacional dos Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis (Ancat) e Pragma Soluções Sustentáveis, em parceria com a LCA Consultores, reúne dados que traduzem o impacto positivo do trabalho realizado pelos catadores na economia brasileira e no meio ambiente.
O lançamento contou com duas mesas de debates sobre o setor da reciclagem. Representantes dos catadores dividiram o palco com membros da indústria, de organizações não governamentais e do poder público. “Esse anuário é um marco para os catadores; um instrumento fundamental para os governos e a inciativa privada terem acesso a informações consistentes sobre a nossa categoria”, avaliou Roberto Rocha, presidente da Ancat.
Para Dione Manetti, diretor executivo da Pragma, havia uma lacuna na organização dessas informações sob a ótica dos catadores. ” O Anuário dá um passo importante, pois, pela primeira vez consegue-se, de forma técnica e consistente, e com linguagem de fácil absorção para o público, apresentar um trabalho que nos inspira a planejar e entender como a categoria dos catadores pode contribuir para a ampliação da reciclagem no Brasil”, ressaltou.
Avanços na gestão
Representante da secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo, José Valverde anunciou a tramitação de um protocolo de intenções entre a secretaria e a Ancat para avanços na gestão dos resíduos sólidos. “O governo estadual vai estabelecer seis eixos de atuação, e esse Anuário vai servir como ferramenta, um importante instrumento para revisar seu plano”, disse.
O presidente do Compromisso Empresarial pela Reciclagem (Cempre), Victor Bicca, que também é diretor de Relações Institucionais da Coca-Cola Brasil, destacou a necessidade de compromisso por parte da indústria. “Se não tivermos um esforço conjunto, não iremos chegar lá. Não acredito que teremos um modelo único que vai resolver a questão dos resíduos sólidos no Brasil. Por isso o papel fundamental dos catadores”, enfatizou.
Marco essencial
Filipe Barolo, gerente de Sustentabilidade Socioambiental da Ambev, também frisou o valor da união da indústria em prol do avanço da reciclagem no País. “Acreditamos que só construímos uma solução de forma colaborativa. Para isso, pensamos: nada melhor do que chamar a Coca-Cola, nossa grande concorrente, mas que também faz muita coisa boa para a reciclagem”, afirmou.
Anna Romanelli, da Iniciativa Regional pela Reciclagem Inclusiva (IRR), considerou o lançamento do Anuário um marco essencial para tomadas de decisões estratégicas. “É o catador gerando informações. Acho que o Brasil vai inspirar outros países para organizar seus dados”, disse. Visão semelhante tem José Eduardo Ismael Lutti, procurador de Justiça do Ministério Público de São Paulo, que observa o Anuário da Reciclagem como uma forma de fortalecer a credibilidade, não só dos catadores, mas de todo o setor. “Vejo que é um grande passo e acho que vamos deixar para as gerações futuras um caminho bastante adequado de como fazer o gerenciamento. Acho que o Brasil vai encontrar o caminho certo”, avaliou Lutti, que também é vice-presidente da Associação Brasileira dos Membros do Ministério Público do Meio Ambiente (Abrampa).
Além dos impactos positivos para o trabalho dos catadores, o Anuário da Reciclagem possui papel relevante no debate sobre o meio ambiente. Foi o que indicou Carlos Silva Filho, diretor-presidente da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), ao comentar os nove anos de criação do Plano Nacional de Resíduos Sólidos. “Creio que tudo que poderia ser testado ou experimentado, nós já tivemos a chance de fazer. Hoje nós não temos mais tempo a perder na questão do tratamento adequado dos resíduos sólidos no Brasil. Nós precisamos acertar”, frisou.
Para acessar a primeira edição do Anuário da Reciclagem 2017-2018 clique aqui.