Aulas nos fins de semana, criação de torneios próprios, aulas pelo computador. Os componentes da fórmula que leva estudantes de escolas públicas a vencerem olimpíadas de diversas áreas são os mais variados, mas um é ter alguém que acredita neles. No Dia do Professor, comemorado nesta terça-feira, 15 de outubro, a Agência Brasil conversou com professores que formaram alunos premiados sobre os diferenciais que os levaram ao pódio.
“Acredito muito na educação como agente transformador e faço questão que os alunos percebam que acredito nisso e que acredito neles”, diz o professor de Matemática Deivison de Albuquerque da Cunha.
“O que eu faço, na prática, é estar ao lado dos estudantes, não permitindo que eles desistam. Falo para não desistirem, para tentar de novo. O erro faz parte do aprendizado, errar não torna o aluno incapaz” afirma.
Cunha é professor na Escola Municipal Alberto José Sampaio, na Pavuna, bairro do Rio de Janeiro com um dos piores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do município, com alto nível de pobreza e violência.
Uma estratégia para motivar os alunos foi criar a Olimpíada de Matemática Alberto José Sampaio. “Os alunos se sentiam muito desmotivados porque não ganhavam as olimpíadas e não conheciam ninguém que tivesse ganhado. Então, fizemos uma olimpíada nossa, para ver que podem ganhar sim e que não é distante da realidade deles”.
Desde que começou a promover uma olimpíada própria, em 2013, a escola recebeu cinco menções honrosas e uma medalha de bronze na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep).
Coisas inimagináveis
Em Cocal dos Alves, no Piauí, o professor de matemática Antonio Cardoso do Amaral também confiou nos alunos da escola Ensino Médio Augustinho Brandão, tanto que fez questão de inscrevê-los já na primeira edição da Obmep, em 2005.
“Vi que passou na televisão e levei aos estudantes a ideia de participar. Eles não receberam de bom grado, acharam que não tinham condições, que não tinham preparo. Mesmo assim, consegui sensibilizá-los e tivemos um resultado importante, 25 alunos foram para a final e 17 ganharam prêmios, entre medalhas e menções honrosas”, lembra.
A cidade de 6,1 mil habitantes é hoje um “celeiro de medalhistas”, com a maior proporção de medalhas nas olimpíadas de acordo com a organização da Obmep.
Até 2018, só a escola de Amaral recebeu 154 premiações, entre medalhas e menções honrosas. Somadas as duas escolas do município, Cocal dos Alves teve até o ano passado 327 premiações.
Amaral e outros professores começaram, por conta própria, a dar aulas para os estudantes interessados na competição, oferecendo ajuda nos fins de semana.
Cada resultado positivo que a escola conseguia, motivava os estudantes a participar e a estudar para a competição. Segundo Amaral, foi a persistência que fez com que atingissem o que chama de “coisas muito inimagináveis”.
“No meu tempo de aluno, eu não tinha sequer um conhecido que estudasse medicina e não conhecia ninguém que conhecesse algum estudante de medicina. Isso era inatingível. Talvez a persistência desse nosso trabalho tenha levado a ver hoje meninos nossos formando em medicina, em direito”, afirma.
Valorização
Para o professor de história José Gerardo Bastos da Costa Júnior, as competições ajudam os estudantes a irem além dos conteúdos dados em sala de aula e a compreender melhor o mundo em que vivem. A preparação para a Olimpíada Nacional em História do Brasil, no campus Mossoró do Instituto Federal do Rio Grande do Norte, começa em fevereiro.
Os estudantes do ensino médio têm acesso a atividades virtuais e assistem a palestras com professores do Departamento de História da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte.
Apesar do foco da formação no instituto federal, segundo o professor, seja a formação no ensino médio juntamente com a formação técnica dos estudantes, eles têm obtido bom desempenho também em humanidades.
“A gente tem conseguido fazer com que os estudantes se engajem nesse processo, que gostem de participar. Eles percebem que crescem muito como pessoas”, diz.
A instituição recebeu 13 medalhas de ouro, 13 medalhas de prata e 16 de bronze, além de 77 menções honrosas.
Atuando como docente há 32 anos, Júnior diz que os professores brasileiros não são tão valorizados como deveriam.
Assim como os estudantes precisam de quem acredite neles, os professores também necessitam. “A maioria recebe salários que chegam a ser ridículos pelo tempo de estudo e pela importância que têm. É necessário maior incentivo aos professores”, defende.
Rumo à medalha
Foi com as aulas da professora de português Josane Chagas que Marcel Aleixo da Silva, menino wapichana de 10 anos, se classificou para a semifinal da Olimpíada de Língua Portuguesa. Em entrevista à Rádio Nacional, ela conta que considera este um desafio gratificante.
“Nós, professores, somos só os mediadores do conhecimento, o aluno é quem cria, é o protagonista de sua própria história”, destaca.
Josane viajará no fim do mês para São Paulo com o estudante, para representar a escola municipal Francisca Gomes da Silva, localizada na área rural de Boa Vista, em Roraima, na etapa regional da Olimpíada, com todos os finalistas do Norte do Brasil.
Ao todo, 443 produções de todas as categorias foram selecionadas para as semifinais regionais em todo o país. Desses, serão escolhidos 173 finalistas e seus professores para a etapa nacional. Somente 28 serão os grandes vencedores de 2019.