Produtora rural transforma fezes de porcos em energia de baixo custo

Além de ser a primeira mulher presidente do Comitê Cafeeiro Municipal, a colombiana Sandra Mendoza fundou a Associação de Mulheres Cafeeiras de Santo Antônio/Foto: FAO

As mulheres rurais são essenciais para a produção de alimentos. Porém, muitas vezes são invisíveis e trabalham em propriedades familiares sem receber nenhum tipo de remuneração, pois seu trabalho é considerado apenas uma ajuda.

A colombiana Sandra Mendoza é uma delas. Nasceu no município de Santo Antônio, no estado de Tolima, onde fez sua vida e criou três filhos.

Há alguns anos, Sandra herdou de seu pai uma fazenda cafeeira. A partir dos 18 anos, ela passou a se dedicar ao cultivo de café, principal produto da região. Mas acabou abandonando o campo para buscar melhores oportunidade na cidade.

Depois de várias experiências no mundo urbano, decidiu retornar ao meio rural com a ideia de cultivar e melhorar sua fazenda. Ela tinha o projeto, mas não o financiamento.

Bem-estar rural

Neste período, casou-se e trabalhou no plantio de outros produtos. Na mesma época, decidiu fazer um curso de saúde e bem-estar rural para implementar formas de geração de renda no campo a baixo custo.

Durante a capacitação, percebeu sua habilidade como liderança na comunidade para falar sobre como o café transforma vidas. Por isso, apesar da oposição de seu marido, candidatou-se para as eleições do cargo de delegada do Comitê Cafeeiro de Santo Antônio.

A primeira tentativa não deu certo. Mas nas, eleições seguintes, foi vencedora e se tornou a primeira mulher cafeicultora a ter este cargo no município.

Como presidente do Comitê Cafeeiro Municipal, Sandra conheceu a Fundação Microfinanças BBVA (Bancamía), uma entidade colombiana que ajuda empreendedores rurais a produzirem de forma sustentável.

Em uma reunião com a Fundação para tratar sobre o programa Microfinanças para a Adaptação Baseada em Ecossistemas (MebA), Sandra conheceu a oportunidade de colocar em prática medidas de adaptação às mudanças climáticas.

Na Colômbia, 35% das empreendedoras atendidas pela Bancamía vivem na zona rural, sendo que 85% delas se encontram em situação de vulnerabilidade e 36% estão na pobreza ou pobreza extrema.

Energia renovável

Graças a este programa, Sandra descobriu o biodigestor, uma tecnologia que permite o aproveitamento de resíduos para produzir energia renovável e de baixo custo. A assessoria do programa ofereceu formação e apresentou diferentes possibilidades de aplicação dos resíduos.

Por exemplo, a partir das fezes dos porcos, o sistema permite produzir fogo em uma estufa e acender algumas luzes de casa. Também é possível aproveitar os resíduos para produzir energia com um método não contaminante, que dispensa o uso de lenha, combustível que Sandra havia utilizado durante 23 anos.

Como o novo método, ela passou a contribuir com o cuidado com o meio ambiente e a economizar tempo de coleta e do corte da lenha.

Dois dias depois de receber o crédito do projeto MEbA, Sandra comprou uma porquinha, que deu crias para o projeto biodigestor. Em dois meses, ela conseguiu obter gás doméstico por meio de um resíduo líquido que usa como adubo orgânico para os pastos e que agora quer testar nas plantas de café.

A camponesa de 46 anos conseguiu ser a voz de sua comunidade e, além de ser a primeira mulher presidente do Comitê Cafeeiro Municipal, fundou a Associação de Mulheres Cafeeiras de Santo Antônio. Também é a primeira a utilizar um biodigestor no estado de Tolima.

Inovações que geram bem-estar

Este projeto é um divisor de águas na vida de Sandra e de sua família, pois está gerando bem-estar e também contribuindo para o cuidado do meio ambiente.

Sandra se diz feliz por todos os benefícios que a iniciativa está trazendo em seu dia a dia. Graças aos porcos, ela conquistou uma nova fonte de renda. Pretende também comprar painéis solares para secar o café.

Para ela, o apoio da Bancamía foi fundamental neste processo. A experiência foi relatada pessoalmente por ela na Espanha, durante um evento organizado pela Fundação Microfinanças BBVA para celebrar o Dia Internacional das Mulheres Rurais, em 15 de outubro de 2018.

Na ocasião, Sandra sobre sua trajetória como líder campesina, mulher chefe de família e empreendedora. “Propus me tornar a primeira mulher a presidir o Comitê de Cafeicultores da minha comunidade e consegui. São 11 homens e eu sou a única mulher”, disse.

Além disso, graças à tecnologia desenvolvida pela Fundação Microfinanças BBVA, a agricultora pode gerir seu dinheiro de casa, uma vez que a cidade mais próxima de sua localidade está a uma distância de mais de seis horas de carro.

“Poder acessar ao extrato da minha conta pelo aplicativo celular me dá muita liberdade, já que moro longe de qualquer instituição financeira. Saber quanto dinheiro tenho ou poder pagar as contas do meu crédito me dá independência”, relatou.

Mulheres líderes

Meses mais tarde, Sandra viajou a Nova York para participar do ato “Mulheres protagonistas da mudança”, sobre igualdade de gênero, inclusão financeira e transformação digital, organizado pela Fundação na sede das Nações Unidades, no marco da Comissão sobre a Condição Jurídica e Social da Mulher (CSW63).

Durante sua fala, Sandra explicou como uma mulher camponesa e chefe de família como ela pode progredir apesar dos obstáculos. “No campo, a barreira mais difícil de superar é o machismo.”

A ONU destaca que mulheres líderes como Sandra são fundamentais para implementar e expandir inovações tecnológicas no campo.

Elas se comprometem em ser pioneiras na utilização das novas tecnologias, buscando opções de melhoria e desenvolvimento de suas atividades produtivas.

Além disso, as mulheres têm impulsionado a adoção de medidas de adaptação e mitigação dos efeitos das mudanças climáticas nas comunidades cafeicultoras de Santo Antônio.

Graças à sua obstinação, Sandra tem superado desafios enfrentados pelas mulheres rurais, como falta de posse da terra, de entrada nas associações de cafeicultores ou na aposta em inovações tecnológicas.

Ela tornou-se uma referência em sua organização e em sua comunidade, superando as barreiras e compartilhando com outras mulheres rurais as conquistas alcançadas.

Por isso, é importante identificar os aliados estratégicos e provedores comerciais para a implementação das novas tecnologias que geram bem-estar, assim como a assistência técnica especializada e a sensibilização que puderam oferecer às pequenas empreendedoras.

Campanha

De 1º a 15 de outubro, a Campanha #Mulheres Rurais, Mulheres com Direitos promove 15 dias de mobilização para valorizar a contribuição das trabalhadoras do campo ao cumprimento dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável relacionados à igualdade de gênero e ao fim da pobreza rural.

O tema norteador da quinzena ativista é “O futuro é junto com as mulheres rurais”, com a hashtag #JuntoComAsMulheresRurais.

O principal objetivo da campanha é destacar o trabalho promovido por pescadoras, agricultoras, extrativistas, indígenas e afrodescendentes.

A campanha no Brasil é coordenada pela Secretaria de Agricultura Familiar e Cooperativismo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), em parceria com FAO, ONU Mulheres, Reunião Especializada sobre Agricultura Familiar do Mercosul (Reaf) e Direção-Geral do Desenvolvimento Rural do Ministério da Pecuária, Agricultura e Pesca do Uruguai.

(Via ONU News)

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