Com informações do ClimaInfo
Exatamente 24 horas após o fim oficial da COP28, a nova versão do texto do Global Stocktake (GST) foi aprovada em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. O documento aprovado é mais forte em relação à eliminação dos combustíveis fósseis do que o primeiro que circulou há alguns dias, mas deixou de lado o termo “phasing out” e utilizou “transitioning away”. Na prática, também quer dizer abandonar os combustíveis fósseis nos sistemas energéticos, mas não com o afinco desejado pelos países-ilha e várias outras nações. Ao menos a emenda não foi pior que o soneto.
O texto também não diz claramente que os países desenvolvidos devem liderar o processo, destaca o Valor. Reconhece a “necessidade de reduções profundas, rápidas e sustentadas das emissões de gases de efeito estufa, em conformidade com as trajetórias de 1,5°C”, e apela aos países para outros seis objetivos energéticos. Assim, pede que se “acelerem os esforços no sentido da eliminação progressiva da produção de energia a partir do carvão” e busca a transição para emissões líquidas zero, “utilizando combustíveis com zero ou baixo teor de carbono muito antes ou até meados do século”.
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Apesar das críticas, a Folha ressalta que o teor do documento, inédito, sinaliza que a era do petróleo pode estar se encaminhando para o fim, ainda que a linguagem escolhida seja mais fraca do que a necessária para a urgência de conter as mudanças climáticas, apontam especialistas em clima e líderes de países-ilha, os mais vulneráveis às consequências do aquecimento do planeta.
Assim, a COP28 se tornou a primeira conferência do clima a citar em seu documento final uma rota de saída para os combustíveis fósseis. “É um pacote histórico”, disse seu presidente, Sultan Al-Jaber. “Muitos disseram que não poderia ser feito, mas foi aprovado por consenso”.
Frear o aquecimento
Em fala na plenária, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, comemorou o resultado por incluir no texto final o objetivo de frear o aquecimento em 1,5°C acima dos níveis pré-industriais, a meta mais ambiciosa do Acordo de Paris. O documento de 2015 cita a possibilidade de aquecimento até 2°C, o que representa um risco maior de eventos climáticos extremos.
Marina reforçou que os países desenvolvidos precisam tomar a dianteira na transição energética e assegurar os “meios necessários para os países em desenvolvimento poderem implementar suas ações de mitigação e adaptação”. Nas discussões ao longo das últimas semanas, o Brasil, que levou a maior delegação desta COP (1.337 participantes), defendeu uma linguagem mais forte para o compromisso sobre combustíveis fósseis.
“A questão central nas negociações deste ano foi garantir o consenso global sobre a eliminação progressiva da utilização de combustíveis fósseis – na verdade, reduzir o fornecimento de petróleo e gás. Mas também precisamos reduzir a procura de combustíveis fósseis na economia global. Feito o Balanço Global, o próximo passo do Acordo de Paris é que os países desenvolvam planos e políticas climáticas nacionais mais ambiciosos até ao prazo de 2025. Apelamos a todos os países para que desenvolvam compromissos robustos em toda a economia, que também salvaguardem e maximizem a contribuição da natureza, na nossa jornada coletiva rumo a um mundo mais limpo e mais justo”, destacou Andrew Deutz, diretor geral de Política Global e Financiamento para a Conservação na The Nature Conservancy.
Para Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas, ”a menção pela primeira vez a uma transição para fora dos combustíveis fósseis é um marco importante. É a primeira vez desde 1992 que se conseguiu isso. Mas uma transição até 2050 é muito pouco – mais importante foi a indicação de que precisa começar esta década. Além disso, o texto deixou aberta uma brecha gigante para o gás fóssil como ‘combustível de transição’”, ressalta. Ele adverte que “o que está na decisão não chega nem perto de garantir a limitação do aumento da temperatura em 1,5 graus alinhado com Paris, mas é um passo importante nessa direção”.
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COP30, em 2025, será no Brasil
Mauricio Voivodic, do WWF-Brasil concorda: “Tivemos avanços em questões relacionadas com preservação de florestas, fundo de perdas e sistemas alimentares, área importantíssima para o Brasil, mas isso não será suficiente para alcançarmos o 1,5°C, delimitado no Acordo de Paris”, completa.
Ele ressalta que o resultado da COP 28 reforça a importância de o Brasil se engajar fortemente no estreitamento da confiança entre os países para alcançarmos os resultados necessários na COP 30, que acontecerá em Belém em 2025. “Isso precisa começar já, durante a presidência do G20, em 2024, quando será possível reforçar o comprometimento climático das maiores economias do planeta. Porém é preciso liderar pelo exemplo, o que significa que temos um grande desafio interno, já que parte do governo ignora a crise climática e trabalha para alinhar o Brasil ao grupo das nações responsáveis pelo quase fracasso da COP 28. Prova disso é o leilão da ANP, que numa perversa coincidência acontece no mesmo dia em que a Conferência se encerra. ”