O embaixador André Aranha Corrêa do Lago será o presidente da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), que será realizada em novembro, em Belém (PA).
Ele é o secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores e terá a missão de conduzir as negociações para o acordo global sobre o tema.
A secretária nacional de Mudança do Clima do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), Ana Toni, será a diretora executiva da COP30.
O anúncio foi feito nesta terça-feira, 21 de janeiro, pelas ministras do Meio Ambiente, Marina Silva, e das Relações Exteriores substituta, Maria Laura da Rocha, após reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Planalto.
“Essas duas posições são fundamentais e estratégicas na parte de conteúdo, negociação e liderança de todo o processo da COP”, disse Marina. Já as questões de logística e infraestrutura estão a cargo da Casa Civil da Presidência da República.
Ana Toni tem longa trajetória direcionada ao fomento de projetos e políticas públicas voltadas à justiça social, meio ambiente e mudança do clima.
Os dois integraram ativamente a delegação oficial brasileira da COP29, realizada em novembro de 2024, em Baku, no Azerbaijão.
Em entrevista à imprensa, o embaixador agradeceu a confiança do presidente Lula e disse que o Brasil pode ter um “papel incrível” na COP deste ano, que, segundo ele, será construída com diversos atores – governo, sociedade civil e empresariado.
Corrêa do Lago garantiu que a participação das populações da Amazônia, onde ocorrerá a conferência, é “absolutamente essencial”:
“A COP tem várias dimensões, ela vai ter uma imensa dimensão para o próprio Brasil, como a RIO-92 [Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, no Rio de Janeiro, em 1992] teve um impacto muito grande sobre a maneira como o brasileiro percebeu a mudança do clima, percebeu o meio ambiente, percebeu a biodiversidade. Então tem uma dimensão nacional extremamente importante.”
“Durante esse período preparatório nós vamos ter muito diálogo com a sociedade civil porque é essencial que eles estejam envolvidos no processo. Porque, como na RIO-92 são as populações que tem que acreditar nessa agenda [de combate à mudanças do clima] e que tem que contribuir para que essa agenda dê certo”, acrescentou o embaixador.
Embora a presidência formal da COP permaneça sob a responsabilidade do Azerbaijão até a abertura oficial do evento em novembro, caberá desde já ao Brasil, como presidência designada, liderar os esforços para o êxito das negociações, promovendo o diálogo entre países e demais partes interessadas.
Estados Unidos
Corrêa do Lago foi questionado sobre o esvaziamento da COP30 com a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris, tratado internacional adotado em 2015 sobre mitigação, adaptação e financiamento do combate às mudanças climáticas.
Ele esclareceu que o país norte-americano deixou o acordo mas continua signatário da Convenção das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima.
“Há vários canais que permanecem abertos, mas não há a menor dúvida de que é um anúncio político de muito impacto”, disse sobre a decisão do novo presidente do Estados Unidos, Donald Trump.
“Os Estados Unidos é um ator essencial, porque não só é a maior economia, mas é também um dos maiores emissores [de gases de efeito estufa], um dos países que têm trazido respostas à mudança do clima, com tecnologia. Os Estados Unidos têm empresas extraordinárias e também têm vários estados americanos, cidades americanas que estão muito envolvidos nesse debate”, explicou.
“Estamos todos ainda analisando as decisões do presidente Trump, mas não há a menor dúvida de que terá um impacto significativo na preparação da COP e na maneira como nós vamos ter que lidar com o fato de um país tão importante estar se desligando desse processo”, complementou.
Participação do setor empresarial
Para o CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável), representante do empresariado do país, a nomeação de André Corrêa do Lago ampliará a colaboração entre o setor público e privado.
“O repertório em negociações climáticas do embaixador André Corrêa do Lago, e sua capacidade de articular interesses diversos são habilidades essenciais para não só facilitar as negociações durante a Conferência das Partes da ONU no Brasil, como para posicionar o nosso país como protagonista na agenda global. Ao longo dos anos, a atuação do presidente da COP 30 tem sido fundamental para engajar empresas de diversos setores, ampliando a participação do setor privado nas discussões sobre mudanças climáticas e desenvolvimento sustentável”, afirmou Marina Grossi, presidente do CEBDS.
Posicionamento do Greenpeace
A organização não governamental ambientalista Greenpeace também se posicionou sobre a escolha para a presidência da COP30. A diretora executiva do Greenpeace Brasil, Carolina Pasquali, afirmou:
“Após uma série de presidências da COP alinhadas a empresas de petróleo e gás, a exemplo da última Conferência, ocorrida no Azerbaijão, recebemos com bons olhos a nomeação do Embaixador André Corrêa do Lago como Presidente da COP30. Com ampla experiência em diplomacia climática, o embaixador possui o conhecimento e as capacidades necessárias para mediar as negociações entre os mais de 190 países. Corrêa do Lago terá uma grande responsabilidade pela frente: em um mundo polarizado, com os Estados Unidos – o segundo maior emissor do mundo de gases do efeito estufa – deixando o Acordo de Paris, enquanto vemos os eventos extremos se intensificarem, será necessária muita habilidade para que avanços cruciais aconteçam.”
“O maior desafio da Presidência da COP30 sem dúvida será imprimir a urgência necessária a um processo que encontrará, no cenário político, sinais invertidos. Não podemos nos distrair do que precisa ser feito: a transição para um mundo sem combustíveis fósseis e a viabilização de recursos para que os países em desenvolvimento possam cumprir seus planos de mitigação e adaptação”, acrescentou Pasquali.
Com informações da Agência Brasil.
*Matéria atualizada às 19h40 para inclusão de nota do Greenpeace.