Países fracassam e mundo segue sem acordo sobre poluição por plástico

Mar de poluição plástica na Praia do Bananal na Ilha do Governador; no Rio de Janeiro. Crédito: Aline Massuca / WWF-Brasil
Mar de poluição plástica na Praia do Bananal na Ilha do Governador; no Rio de Janeiro/Foto: Aline Massuca / WWF-Brasil

Por ClimaInfo

O ano de 2024 será lembrado por ser o primeiro da história em que o aumento da temperatura média global vai superar o limite de 1,5°C sobre os níveis pré-industriais, estabelecido no Acordo de Paris. E também pela decepção extrema para o multilateralismo nas discussões sobre desafios ambientais globais. Mesmo diante da urgência, os países foram incapazes de chegar a acordos cruciais para conter as mudanças climáticas, a perda da biodiversidade e a poluição.

O mais recente fracasso se deu no domingo, 1º de dezembro, em Busan, na Coreia do Sul. Após uma semana de intensos debates, as negociações da ONU em torno de um novo tratado global contra a poluição por plásticos terminaram sem um documento. Houve uma promessa de um novo encontro nos próximos meses para tentar, enfim, resolver impasses e chegar a um consenso – assim como se tentará com a também fracassada COP16 da Biodiversidade, realizada no fim de outubro em Cali, na Colômbia [saiba mais abaixo].

Um rascunho de texto divulgado na tarde de domingo, 1º de dezembro, após vários atrasos, incluía uma ampla gama de opções, deixando claro o nível de desacordo. Quando uma sessão plenária aberta finalmente foi convocada no domingo à noite, o presidente da 5ª sessão do Comitê Intergovernamental de Negociação (INC-5) sobre o tratado, Luis Vayas Valdivieso, disse que houve progresso, mas que “também devemos reconhecer que algumas questões críticas ainda nos impedem de chegar a um acordo abrangente”, destaca o Guardian.

Surpreendendo zero pessoas, o entrave às negociações foi comandado pelos países produtores de combustíveis fósseis, especialmente Arábia Saudita e Rússia, informa o New York Times. Como a vasta maioria dos plásticos é feita com petróleo, os petroestados se opuseram veementemente a qualquer possibilidade de limitar a produção de plásticos. Não à toa havia pelo menos 200 lobistas da indústria petroquímica em Busan.

O financiamento, sempre ele…

Além da produção, houve divergências envolvendo o gerenciamento de produtos plásticos e produtos químicos preocupantes, bem como sobre – adivinhe? – o financiamento para ajudar os países em desenvolvimento a implementar o tratado. Enquanto uma opção proposta pelo Panamá, apoiada por mais de 100 países, teria criado um caminho para uma meta global de redução da produção de plástico, outra não incluía limites de produção, lembra a Reuters.

Delegada de Ruanda, Juliet Kabera, que liderou a pressão por um tratado abrangente, disse que um “pequeno número” de países permaneceu “sem apoio às medidas necessárias para impulsionar uma mudança real. (…) Ruanda não pode aceitar um tratado inócuo”, disse.

Já para a Arábia Saudita, os países precisam considerar outras abordagens. “Se abordarmos a poluição plástica, não deve haver problema em produzir plásticos”, disse Abdulrahman Al Gwaiz, um delegado saudita. “O problema é a poluição em si, não os plásticos”, completou, numa típica estratégia cínica e proposital de atacar apenas o efeito, não a causa.

“É lamentável que, apesar de um apoio significativo para medidas ambiciosas, não tenhamos chegado a um consenso”, afirma Michel Santos, gerente de políticas públicas do WWF-Brasil. “Precisamos agir com urgência, pois cada dia sem ação tem consequências devastadoras. A poluição plástica é uma crise global que afeta todos os seres vivos em nosso planeta. Ignorar isso é ignorar nosso futuro. Precisamos de um compromisso global e urgente para enfrentar esta crise. Medidas ambiciosas são essenciais para proteger nossos oceanos e a biodiversidade”, adverte.

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