Setor privado brasileiro lança “Pacto Econômico com a Natureza”

A declaração tem a assinatura de mais de 50 lideranças das maiores companhias do país
A declaração tem a assinatura de mais de 50 lideranças das maiores companhias do país

Mais de 50 lideranças das maiores companhias do Brasil lançaram, na quarta-feira, 28 de agosto, o “Pacto Econômico com a Natureza”, um manifesto cujo principal objetivo é fazer um chamamento ao poder público, à sociedade e ao próprio setor privado para uma mobilização voltada ao enfrentamento desse cenário.

Segundo informações de João Sorima Neto, do jornal O Globo, a ideia é que sejam realizados fóruns permanentes de discussão para que se chegue a propostas concretas para lidar com o impacto socioeconômico causado pelos eventos extremos.

“Acho que é fundamental reconhecermos que nós temos um processo de mudanças climáticas extremas no mundo, não apenas no Brasil, com efeitos que vão provocando desequilíbrios em todas as regiões do planeta. A questão é que nós temos subdimensionado os riscos que esse cenário pode causar, inclusive econômicos, para os países”, afirmou Walter Schalka, membro do Conselho de Administração da Suzano, do setor de papel e celulose.

Schalka citou como exemplo concreto e próximo dos brasileiros as enchentes recentes no Rio Grande do Sul. Ele lembrou que, além da perda de vidas, o evento climático trouxe um custo econômico para o país muito importante.

Fabio Barbosa, CEO da Natura, do setor de cosméticos, produtos de higiene e beleza, empresário que também assina o manifesto, ressaltou que a ideia desse chamamento é colocar todo mundo na mesma mesa — poder público, sociedade civil, iniciativa privada — para que juntos construam um programa de defesa dos biomas brasileiros, ao mesmo tempo em que se pensa em descarbonização.

Ele lembrou que o Brasil sediará, em 2025, a 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30), em Belém, no Pará, uma oportunidade única para o país colocar em pauta alternativas para enfrentar o problema.

“Nós temos uma oportunidade única de inserção geopolítica através da questão ambiental. E nós temos que usar nossa máxima potência”, defendeu Barbosa.

Os dois empresários concordam que o Brasil pode vir com uma agenda de enfrentamento das mudanças climáticas e se tornar protagonista nesse tema, que impacta todo o planeta.

Plano colaborativo

Pelo menos 50 empresários já assinaram o manifesto. E a expectativa é que outros também assinem. A ideia de construir um plano de enfretamento climático, por meio de um processo colaborativo, nasceu de encontros e troca de ideias entre alguns desses executivos, que decidiram se mobilizar de forma prática. A palavra de ordem do manifesto é “construir” alternativas de enfrentamento climático, já que não existem fórmulas prontas.

“O governo, sozinho, não vai resolver isso. A iniciativa privada também não. E o Brasil tem um papel importante nesse tema. Somos uma potência ambiental. O controle do desmatamento nos vários biomas, a absorção do carbono. São coisas que fazem a diferença em termos de impacto global”, observou Fabio Barbosa.

Schalka recordou que 97% do desmatamento registrado no Brasil são ilegais. Portanto, não é uma questão de legislação (que o país tem), mas sim de cumprimento dessa legislação. Mas para poder cumpri-la, ponderou Schalka, é preciso resolver uma questão social que acontece nessas áreas, já que poucos ganham dinheiro com a ilegalidade, mas muitos vivem da ilegalidade.

“Nós precisamos nos interessar mais por essa questão e endereçar a questão fundiária brasileira”, destacou Schalka, lembrando que o diagnóstico dos problemas já está feito e agora é necessário um plano de ação. “Porque senão a gente fica sempre no diagnóstico e não sai do lugar. Nós não podemos ser espectadores desse processo, nós temos que ser protagonistas”, acrescentou o empresário.

Restauração de áreas degradadas

Fabio Barbosa chamou a atenção para o fato de que o país tem muita energia limpa e isso é uma questão importante para o crédito de carbono. A restauração de áreas degradadas é outra questão que precisa ser enfrentada, acrescentou. Para o empresário, os eventos recentes, como as queimadas no Pantanal e em São Paulo, além da catástrofe no Sul, fizeram as pessoas sentirem o problema das mudanças climáticas “na pele”.

“Temos a melhor matriz energética do mundo. Tem muita coisa boa no Brasil, é preciso alavancar isso. Na energia renovável, se nós continuarmos ampliando, podemos exportar hidrogênio verde. Há muito potencial”, exemplificou.

E complementou:

“O problema não é simples, é complexo, mas com esforço e qualidade da sociedade civil, dos cientistas brasileiros, do poder público e da iniciativa privada, temos certeza de que vamos trazer as melhores soluções para a sociedade e implementá-las.”

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