O novo ônibus elétrico, que começou a circular em Salvador na manhã de 16 de julho, deixou uma boa primeira impressão para passageiros e rodoviários. Equipado com ar-condicionado e com um sistema diferente dos coletivos tradicionais, ele foi bastante elogiado pelo conforto que oferece.
Durante os 30 dias de testes, o veículo irá operar em quatros linhas da cidade: Estação Pirajá/Ribeira, Pirajá/Barra, Pirajá/Pituba e Paripe/Aeroporto, uma por semana.
De folga do trabalho, a gestora de Recursos Humanos Danusa França, 41 anos, mora em Campinas de Pirajá e aproveitou a terça-feira para fazer algumas compras no bairro da Calçada. O que ela não esperava era que aproveitaria a viagem até a Cidade Baixa no conforto do novo ônibus.
“É uma diferença muito grande dos ônibus comuns. Não tem barulho, é muito seguro também. Deu para perceber pelos degraus. Nos outros eles são mais altos, mas nesse são bem baixos, mais acessíveis. Eu tenho uma dificuldade física no quadril, o que me incomoda em fazer esforço para subir” , justificou Danusa ao repórter Eduardo Dias, jornal CORREIO.
Ela disse ainda que pretende ficar atenta aos horários de saída do veículo para, sempre que puder, viajar no novo ônibus. “A viagem é muito tranquila, é de uma suavidade incrível. O ar-condicionado é perfeito, muito bom mesmo. Percebi que esse é mais largo, mais espaçoso. Gostei muito, sempre que tiver a oportunidade vou dar a preferência de pegar ele”, ressalta.
Também aproveitando a viagem, a moradora do São Caetano, Valdeci de Lima, 49, estava indo levar seu marido para uma consulta médica na Rua Carlos Gomes. Ela contou que, quando viu o novo ônibus parar no ponto, não pensou duas vezes e entrou para conferir a novidade.
“Está tudo diferente, a viagem é bem mais tranquila, nem dá para sentir calor ou abafamento. Eu nem sabia que teria essa novidade hoje, foi uma surpresa, eu adorei a viagem, foi muito bom”, contou.
Manuseio
Não foram só os passageiros que gostaram da novidade. Os rodoviários também ficaram bastante animados com o buzu elétrico. Responsável pelo manuseio do equipamento, o instrutor de motoristas da Integra Plataforma, Antonieudes Câmara, 53, contou que em 35 anos atuando na profissão, essa é a melhor experiência que já viveu como motorista.
“É uma sensação muito boa. Só de ter um equipamento que não faz barulho nenhum, o conforto que esse nos proporciona, nos dá a possibilidade de dirigir melhor. A tecnologia é muito simples de operar, mas temos que ter um cuidado maior por ele ser um veículo mais largo que os comuns, temos que ter muito mais atenção nas laterais”, alertou.
Cobrador há 15 anos, o cobrador Reginaldo Barbosa, 56, disse que, se pudesse escolher, não hesitaria em optar por trabalhar no ônibus elétrico. “Os passageiros ganharam um presentão. Principalmente destacando que é um veículo não-poluente, a viagem é super confortável, sem ruídos. Se fosse para escolher, não menosprezando os outros ônibus, eu daria preferência em trabalhar nesse daqui”, brincou.
Primeira viagem
O primeiro ônibus 100% elétricos da empresa chinesa BYD, em parceria com o consórcio Integra Plataforma, rodou nest aterça pela manhã. A linha escolhida para daro pontapé inicial na nova tecnologia foi a 1505, que sai do fim de linha de Pirajá com destino à Barra. No trajeto, o novo veículo passou pelos bairros de Campinas de Pirajá, São Caetano, Largo do Tanque, Calçada, Comércio e Campo Grande pegando passageiros nos pontos de ônibus. Durante o percurso, a tarifa não foi cobrada, pelo menos nesta primeira viagem. Nos próximos 30 dias de testes, a tarifa de R$ 4 será cobrada normalmente, assim como acontece com os ônibus convencionais.
De acordo com a Secretaria Municipal de Mobilidade (Semob), o objetivo neste mês é checar a adequação do veículo às condições do dia a dia do transporte coletivo e as características geográficas da cidade.
O secretário da pasta, Fábio Mota, destacou a importância e os benefícios do novo modelo de transporte para os usuários e também para o meio ambiente. Ele disse ainda que, caso os ônibus elétricos sejam aprovados, circularão apenas nos trilhos destinados ao sistema BRT (Bus Rapid Transit), por causa da sua estrutura física. O equipamento, que custa cerca de R$ 1,4 milhão, é cerca de quatro vezes mais caro que um ônibus convencional, que são comercializados por R$ 400 mil.
“Estamos testando as questões da autonomia, motorização, acessibilidade e logística do carregamento, assim como a funcionalidade do veículo. O ônibus elétrico é uma tecnologia limpa. É evidente que, entre esse ônibus e o normal, o elétrico leva todas essas vantagens por ser um aliado do meio ambiente. Se for aprovado nos testes, irá agregar muito no nosso pensamento de que o sistema BRT seja operado por esse tipo de veículo. A conta para a utilização desses veículos nas frotas convencionais vai depender dos testes e a avaliação das concessionárias nesses 30 dias”, disse.
O protótipo elétrico possui capacidade para 51 passageiros em pé e 26 sentados. Como não utiliza combustíveis, o veículo não emite qualquer tipo de poluição. O equipamento possui dois motores, sendo um em cada roda, tem freio ABS, potência de 400cv e consegue rodar 250km com a bateria completa, que leva até 4 horas para ser recarregada.
De acordo com o gerente de manutenção do Consórcio Integra Plataforma, Marcos Matos, outra vantagem do transporte elétrico é o maior conforto ao passageiro.
“A emissão de poluentes é zero. É um veículo com suspensão pneumática, que oferece um maior conforto ao passageiro. Isso é uma grande diferença para os ônibus comuns que circulam na cidade, que são de molas. Fizemos teste com o ônibus vazio antes. Hoje, resolvemos testar com passageiros e a experiência está sendo satisfatória. Precisamos identificar em quais linhas os ônibus se adaptam melhor, por conta da realização de manobras, onde o veículo ainda possui alguma dificuldade”, explicou.
Já o representante da empresa chinesa BYD, o gerente de pós-venda André Perandin, disse que a fabricação do ônibus está desde 2014 passando por um processo de nacionalização.
“Estamos fazendo com que o chassi seja produzido aqui no Brasil. Juntamos à tecnologia chinesa e completamos a nacionalização com a carroceria, que é a mesma da maioria dos outros ônibus nacionais. Fizemos apenas a adaptação dessa tecnologia às condições brasileiras. Mesmo Salvador sendo uma cidade de muito sobe e desce, muitos desníveis e ladeiras, notamos que o ônibus apresentou bons resultados nos testes de hoje. Tudo isso está de acordo com toda a modernização que Salvador está passando”, analisou.
Sustentabilidade
Durante o teste será avaliado o sistema de regeneração do ônibus. Quando acionado o freio, será possível recarregar as baterias em movimento, o que foi pensado para aumentar a durabilidade da carga durante as viagens.
Inicialmente, a autonomia da bateria é de 250 km com a carga máxima. O protótipo terá seu comportamento no dia a dia da cidade avaliado. A expectativa é que, se o teste for positivo, o veículo integre a frota que será utilizada no BRT.
O sistema de carregamento da bateria é feito em uma central de abastecimento, que pode ser instalada na garagem dos veículos. O ônibus é conectado em uma tomada até concluir o processo.
Sustentável, o ônibus possui, dentre as características, a presença de 100% de suspensão pneumática, que justifica a sensação de conforto narrada pelos passageiros. Ele possui um sistema de ajoelhamento, que é a compreensão de um piso baixo e a ausência de degraus.
Com acionamento de um botão, o veículo é inclinado para o lado direito, onde uma prancha é deslizada para facilitar o acesso dos cadeirantes e pessoas com deficiência com tranquilidade e segurança.