O Brasil já conta com sistemas de monitoramento do desmatamento reconhecidos internacionalmente por sua eficiência. Porém as informações sobre restauração e reflorestamento ainda eram uma incógnita.
Parte das respostas começam a aparecer agora, com o lançamento do Observatório da Restauração e Reflorestamento pela Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura com apoio de WRI Brasil, Imazon, Pacto pela Restauração da Mata Atlântica e TNC. O lançamento será nesta terça-feira, 9 de março, às 10h. Para acompanhar, basta acessar: https://bit.ly/lancamento-obs
O Observatório da Restauração e Reflorestamento é uma plataforma online que reúne em um só lugar dados georreferenciados de projetos que foram coletados em campo com o que há de melhor da tecnologia de monitoramento via satélite.
O resultado é um panorama completo da restauração, do reflorestamento e da regeneração natural em todos os biomas do Brasil. Com isso, o país será capaz de acompanhar a evolução de compromissos de restauração e reflorestamento assumidos em iniciativas internacionais.
Transparência e confiabilidade
Além de dar o devido reconhecimento das organizações que estão implementando projetos de restauração, a plataforma traz também transparência e confiabilidade nos dados de restauração em escala nacional.
A primeira coleta de dados revelou que o país já conta com cerca de 66 mil hectares em áreas de restauração ativa em projetos com finalidade ecológica, ou seja, que utilizam espécies nativas e favorecem a biodiversidade. Esse número pode estar subestimado pelos técnicos e deve crescer ao longo do ano com a identificação e contribuição de novos dados.
A etapa inicial de levantamento encontrou também 10 milhões de hectares que se regeneraram naturalmente, isto é, áreas que estão retornando sua cobertura de vegetação natural. No entanto, não é possível afirmar se essas florestas regeneradas serão mantidas, pois os dados de satélite não permitem identificar se houve a intenção de deixar essas áreas regenerarem ou se foram áreas abandonadas que seguem ameaçadas por novos desmatamentos.
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Lacuna suprida
Além disso, foram identificados 9 milhões de hectares reflorestados quase totalmente com monoculturas exóticas – com espécies que não são nativas do Brasil, como eucalipto – e que se destinam à indústria de papel e celulose.
“O Observatório da Restauração e Reflorestamento supre uma lacuna vital para o Brasil, que até agora não tinha um inventário consolidado do que já foi restaurado ou reflorestado”, destaca Laura Lamonica, coordenadora de Relações Institucionais da Coalizão. “Além disso, ele permite dar o devido reconhecimento e visibilidade às organizações que estão executando os projetos de restauração no campo, e convida outras organizações a entrarem em contato para constarem na plataforma”, completa.
Compromissos internacionais
Para Marcelo Matsumoto, biólogo e especialista em geoprocessamento do WRI Brasil, “o que esta plataforma comprova é que a restauração florestal já está acontecendo no Brasil. Identificar os projetos que estão restaurando e contabilizar as áreas restauradas é crucial para que as políticas públicas ganhem escala e o país possa alcançar as metas assumidas em vários compromissos internacionais, como o Acordo de Paris, a Declaração de Nova York, a Iniciativa 20 x 20 e o Desafio de Bonn”, salienta.
A plataforma conta com duas interfaces com o usuário: uma delas apresenta os dados principais de forma simples e direta, para o público em geral; a outra interface traz ferramentas para filtrar as áreas por biomas, municípios e estados, oferecendo aos gestores públicos e demais interessados uma ferramenta robusta para melhor planejar e dar escala à restauração.
Informação crucial
Com isso, a plataforma torna possível identificar geograficamente quais as áreas que já contam com projetos de restauração, reflorestamento ou regeneração natural – informação crucial para acompanhar a permanência e sucesso dessas iniciativas, assim como planejar novos plantios.
Para as empresas privadas, é mais uma ferramenta para rastrear cadeias de produtos florestais ou verificar o cumprimento de suas políticas de sustentabilidade, bem como para monitorar áreas de restauração para fins de compensação ambiental.