Por Jorge Moreira da Silva*
Na próxima semana, líderes mundiais se reunirão em Baku (capital do Azerbaijão) na COP29 para discutir compromissos climáticos e traçar nossos próximos passos. A ciência é clara: se quisermos um planeta habitável, o aquecimento global precisa ser limitado ao máximo – e com urgência. Limitar o aquecimento global a 1,5°C ainda é possível. Mas nossa capacidade coletiva de alcançar essa meta depende de três aspectos fundamentais: ambição, financiamento e ação.
Em um ano de recordes de calor sem precedentes em todo o mundo, com secas, incêndios florestais, ondas de calor, tempestades e chuvas intensas causando estragos e ameaçando vidas, meios de subsistência e nossa biodiversidade, os riscos são altos. O cenário não é apenas sombrio, contudo. Soluções existem. E, pelo menos no papel, também existe uma determinação para enfrentar a crise climática. Mas precisamos começar a trabalhar. Agora.
Os grandes emissores – incluindo aqueles do G20 – devem assumir a maior responsabilidade. No entanto, cortar emissões e se adaptar a um clima em mudança está na lista de tarefas de todos os países. Os próximos meses são cruciais.
Isso porque, antes da COP30 no Brasil, marcada para novembro de 2025, os países estão trabalhando em planos de ação climática, as chamadas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs). Os planos atuais, mesmo que totalmente implementados, estão longe do que o mundo precisa. Portanto, precisamos aumentar a ambição e transformar esses planos em modelos para economias e sociedades mais fortes. Porque a descarbonização das economias, a redução das emissões e a construção de resiliência aos impactos climáticos são profundamente positivas.
O financiamento é, corretamente, um foco central. Um dos principais objetivos da COP29 é concordar com uma nova meta financeira para apoiar os países em desenvolvimento após 2025. Esses países precisam de trilhões de dólares para apoiar seus esforços de mitigação, adaptação e perdas e danos.
Mas, como destaca a lacuna de emissões de 2024, “ambição não significa nada sem ação”. O sucesso depende do aumento da ambição e do financiamento, mas também de entender e abordar as lacunas de implementação.
O sucesso vem quando os países adotam uma abordagem holística, na qual o desenvolvimento econômico e a ação climática andam de mãos dadas. O sucesso ocorre quando os países pensam a longo prazo, além dos ciclos políticos. Quando o clima está ligado a metas de desenvolvimento mais amplas. Quando as decisões são respaldadas por dados sólidos e as estratégias nacionais, setoriais e locais estão alinhadas, são realistas e transparentes. E onde todas as partes interessadas têm um senso de propriedade. Acima de tudo, o sucesso depende de parcerias que possibilitem a ação conjunta.
Triplicar a capacidade de geração de energia renovável e dobrar a eficiência energética são fundamentais para cortar as emissões de gases de efeito estufa. O UNOPS – a organização que lidero – apoia os esforços globais para descarbonizar o setor de construção e edificações, como parte da Aliança Global para Edifícios e Construção, junto com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, o UN-Habitat e outros.
Esse é um setor de alta emissão, que em 2021 foi responsável por cerca de 37% das emissões de CO2 relacionadas à energia e processos e mais de 34% da demanda de energia global. No entanto, os edifícios e suas emissões estão atualmente amplamente ausentes das NDCs dos países. Trabalhamos com nações como Senegal, Gana, Bangladesh, Sri Lanka e Burkina Faso para ajudá-los a desenvolver roteiros de planejamento de seus novos objetivos de NDC e a identificar as ações necessárias. Nosso foco é ajudar a tornar esses planos práticos e inclusivos.
A conclusão é: cada fração de grau de aquecimento importa, para vidas, para meios de subsistência e para o nosso planeta. Precisamos de ações rápidas, justas e determinadas para cortar emissões e construir resiliência. Financiamento e política são fundamentais, mas, em última análise, é a disposição dos países – e a capacidade de implementar – que pode fazer a diferença na nossa habilidade de manter viva a meta de 1,5°C.
*Subsecretário-geral da ONU e diretor-executivo do UNOPS (Escritório das Nações Unidas de Serviços de Projetos). Artigo publicado originalmente no jornal Folha de S. Paulo.