Moradores do Subúrbio optam por energia solar para reduzir custos

A energia solar é uma opção mais econômica e sustentável para a população/Foto: Divulgação: Designed / Freepik

Por Vagner Ferreira

‘É Sol Que Me Faltava’! Certamente você já deve ter visto esta frase em algum lugar. E para quem deseja aproveitar os momentos de calor em Salvador, o Subúrbio – tais como as suas variadas praias – é, sem dúvidas, uma das principais opções de escolha.

No entanto, o astro-rei não apenas proporciona vitamina D, como também gera uma fonte de energia fotovoltaica ou térmica, com a luz solar sendo convertida em eletricidade, tornando-a assim, mais econômica e sustentável para a população.

Morador do bairro São Tomé de Paripe, no Subúrbio de Salvador, o comerciante Ubiratã Xavier decidiu adotar a energia solar para a sua residência devido à insatisfação com as altas taxas cobradas pelos serviços realizados pela concessionária de energia elétrica. “Começou com a cobrança das bandeiras tarifárias: a bandeira verde, amarela e vermelha. Depois da vermelha, ainda tinha mais uma taxa em cima do valor cobrado, e eu estava me sentindo lesado. Eles cobram muito caro. E aí eu passei a investir e a consumir a energia solar, que até então tem dado muito certo”, avalia ele.

Além das bandeiras tarifárias, a conversão para a energia solar acontece por diversos outros motivos, como altos preços nas contas de energia elétrica, tarifas bancárias, dependência de combustíveis fósseis, falhas e interrupções no fornecimento, manutenção e reparos constantes, impacto ambiental significativo, infraestrutura obsoleta, e ineficiências no sistema.

Ubiratã utiliza esse sistema de energia também no Restaurante e Similares Cara e Coroa, que faz parte do mesmo prédio. “Se eu não mudasse, estaria pagando por volta de R$3.000 a R$4.000 de energia. Hoje em dia, pago uns R$130,00, que é referente a iluminação pública e afins. Em dois anos, eu tirei todo o investimento que foi feito. Então, eu digo que se a pessoa tiver um capital, por exemplo, para trocar um carro, eu recomendo que é melhor investir na energia solar, que vai ser muito mais vantajoso. É um sistema que eu recomendo para qualquer pessoa”, acrescenta.

Quem também adotou o sistema de energia solar foi a administradora Alexsandra Pereira (foto abaixo, à esq.), responsável pelo mercadinho e padaria Comercial Pereira, e pela fábrica de picolé, sorvetes e açaiteria, Pereira’s Gelados, ambos em Paripe – também no Subúrbio de Salvador. A instalação das placas solares foi feita em Janeiro de 2022 e ela explica: “A necessidade veio com o aumento abusivo das contas da energia elétricas, e aí comecei a buscar outros meios, a fazer pesquisas”, lembra ela, sobre a sua escolha. “E há também um impacto ambiental por produzir uma energia limpa e sustentável, não é? É a gente fazer a nossa parte”.

A administradora ressalta a importância de escolher com cuidado a empresa que realizará a instalação dos painéis solares, pois muitas fazem promessas exageradas e acabam entregando um serviço de baixa qualidade, resultando em uma instalação inadequada e, consequentemente, sem os benefícios esperados.

Segundo ela, algumas pessoas próximas não tiveram sucesso com suas instalações devido a esses problemas. No entanto, sua experiência tem sido positiva e os serviços foram realizados por uma empresa que surgiu no próprio Subúrbio de Salvador: a Solares Automação.

O Sol do Subúrbio

A Solares Automação foi criada em 2013 em uma parceria/sociedade feita por Alielson Paz, juntamente com o amigo Rafael Luciano, que à época estudavam Mecatrônica e eram moradores de Periperi, bairro da periferia de Salvador, com o intuito de tornar a energia solar acessível para a comunidade. 

“O que motivou o projeto foi perceber que temos uma orla linda, que o nosso Subúrbio é rico e a gente estava em uma área que é extremamente aberta, que tem uma iluminação e uma incidência solar gigantescas. Unindo a isso, percebemos também que estava aumentando o número de pessoas fazendo orçamentos e procurando saber mais sobre esse tipo de energia, mas faltava informação e educação sobre as formas de investimento”, descreve Alielson Paz. Segundo informações da Prefeitura através do ‘Salvador Cultura Todo Dia’, o Subúrbio engloba 22 bairros onde residem aproximadamente 600 mil pessoas, representando cerca de 24,55% da população de Salvador.

A Solares Automação surgiu com o intuito de tornar a energia solar acessível para as pessoas da Periferia de Salvador/Foto: Reprodução / Redes Sociais: @solares.automocao

“Uma coisa que eu passei a notar é que as pessoas não tinham dificuldade em pagar, elas tinham dificuldade na forma do pagamento. Então, conseguimos os equipamentos com preços mais baratos e passamos com um custo mais baixo, começamos a dividir mais as parcelas, a diminuir o valor da entrada e fomos fazendo uma forma de pagamento quase que personalizada para cada cliente”, continua ele, que foi para a Bélgica se especializar em Automação e Energias Renováveis. Alielson reforça que o apoio aos clientes não é apenas na instalação, como também quando necessitam de manutenção, que acontece geralmente entre um a dois anos após os serviços.

Para determinar o valor da instalação de placas solares é realizada uma análise detalhada do consumo de energia do imóvel, solicitando a fatura da Coelba para entender a demanda específica. O sistema é dimensionado com base nesse consumo, reconhecendo que cada imóvel possui necessidades únicas. O investimento médio pode variar entre R$10.000 e R$30.000, dependendo da classe social dos moradores e do seu consumo energético mensal.

Alielson destaca dois pontos importantes referentes ao uso de energia solar. O primeiro é adquirir uma energia limpa e renovável, contribuindo para a preservação do planeta. O segundo é em relação à economia, pois conta que, diante das dificuldades econômicas que o país enfrenta, investir em um sistema de energia solar garante que, em dois ou três anos, o valor economizado possa ser direcionado para outros investimentos. Dentre os exemplos de clientes, ele ressalta um comerciante, dono de um bar do Subúrbio que dobrou sua capacidade de refrigeração, aumentando de 8 para 17 freezers.

Mas há também casos de clientes que conseguem maximizar sua economia ao usar energia solar de maneira eficiente. Quando há um excedente nessa produção, esse excesso é devolvido à rede elétrica da Coelba, gerando créditos de energia. Esses créditos permitem aos consumidores compensar o consumo durante períodos em que a produção solar é menor, como à noite ou em dias nublados, ou, ainda, solicitar isenção em outras residências que estejam no mesmo espaço da concessionária de energia elétrica durante um tempo estipulado, como explica Elielson. “O que eu vejo é que há muita desinformação, e isso é muito perigoso. Então, o nosso principal objetivo não é simplesmente vender energia solar, mas gerar informação para os nossos pares, para o povo do Subúrbio”, ressalta.

Salvador Solar

A Prefeitura realiza o programa Salvador Solar e, segundo informações disponibilizadas, entre 2015 a 2021, a energia solar atraiu R$90 milhões em investimentos para a capital baiana, gerando 460 novos empregos e contribuindo significativamente para a arrecadação de tributos municipais, estaduais e federais. Como resultado, a cidade agora lidera o ranking de potência instalada na Bahia, consolidando sua posição como um centro de referência em energia solar.

O programa implementa medidas significativas para promover o uso de energia solar na cidade. Isso inclui uma redução de 60% no Imposto sobre Serviços (ISS) para a instalação de placas fotovoltaicas, o que diminui os custos de investimento e torna a energia solar mais acessível para todos. Além disso, por meio do programa IPTU Amarelo, a Prefeitura oferece descontos de até 10% no Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) para imóveis que adotam essa tecnologia. Esses benefícios se estendem a residências, estabelecimentos comerciais e indústrias, resultando em um aumento de 132% no número de imóveis contemplados com o IPTU Amarelo em 2023.

Segundo dados de 2022 da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), a tecnologia fotovoltaica aplicada em telhados e pequenos terrenos não apenas impulsionou a geração de mais de 14,6 mil empregos, mas também contribuiu significativamente para a arrecadação pública, somando mais de R$ 640,4 milhões. Além disso, a Bahia se destaca na região Nordeste com 41 usinas solares em operação, totalizando 1.349 MW de potência instalada.

Em Salvador, projetos fotovoltaicos atraíram investimentos privados de cerca de R$ 213,1 milhões, gerando, aproximadamente 1,2 mil empregos e contribuindo com R$ 60,1 milhões em arrecadação fiscal. Esses esforços posicionam o estado como líder na geração de energia solar na região, com 487,0 MW instalados, correspondendo a 4,3% do total nacional de energia solar.

O Secretário Municipal de Sustentabilidade e Resiliência e Proteção Animal (Secis), Ivan Euller, destaca a preocupação da Prefeitura em expandir a geração de energia solar em 500% e recomenda para a realização de pesquisas prévias: “A gente tem um mapa solar de Salvador, que é gratuito. Neste mapa, a população faz um clique em cima da sua residência, do seu galpão, do seu prédio comercial, e verifica o potencial de gerar essa energia solar. Se tiver o potencial, ele pode procurar um profissional habilitado para fazer o projeto e a instalação. Se, por acaso, há um problema de sombreamento ou a inclinação não está adequada para colocar as placas, é indicado que o potencial é baixo de energia solar, então ele não precisaria nem ter esse custo de contratar um profissional para isso.”

Um dos incentivos para o uso de tal energia é através do curso de capacitação de Instalação Fotovoltaica promovido pela formação Treinar Para Empregar. A iniciativa é realizada pela Prefeitura de Salvador, fruto da parceria entre a Secis e a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Emprego e Renda (Semdec), juntamente com a Associação Baiana de Energia Solar Fotovoltaica da Bahia (ABS).

Um dos incentivos para o uso de tal energia é através do curso de capacitação de Instalação Fotovoltaica promovido pela formação Treinar Para Empregar/Foto: Arquivo Pessoal

Treinar Para Empregar

O curso acontece diariamente, com turmas entre 20 a 30 pessoas, e carga horária de 128 horas, podendo ter a sua duração prolongada, e é dividido em aulas práticas e teóricas.

As aulas teóricas acontecem no Serviço Municipal de Intermediação de Mão de Obra (SIMM) e também nas empresas parceiras, onde os alunos passam a acompanhar um pouco da vivência com a área, aprendendo como funciona o sistema fotovoltaico. Depois, com as aulas práticas, elas são encaminhadas para um estande com todos os componentes de uma instalação fotovoltaica e passam a fazer uma simulação como se fosse um telhado real, com a prática completa da montagem dos painéis e das demais funções relacionadas. O cadastro é feito online, através do site da Prefeitura e do SIMM.

“A intenção é capacitar pessoas. Mudar vidas e trazer renda para essas famílias, entende? É uma oportunidade de descobrir talentos, de levar esse conhecimento para os alunos e levá-los a ter essa vivência com toda a qualidade máxima possível”, diz o Engenheiro Eletricista e CEO da Cenget Engenharia, Caio Sá, um dos instrutores do programa, que tem como expectativa, formar mais de 100 pessoas até o final do ano.

“O principal objetivo do programa é a economia, porque você vai estar deixando de comprar energia elétrica na concessionária de energia, para estar produzindo sua própria energia. E é uma energia renovável. Então, é um investimento que se paga em torno de um ano e dois meses, um ano e meio, e com essas economias as famílias podem estar investindo em uma escola melhor para o seu filho, em uma reforma da casa que estava pendente, e então ter um caixa extra”, prossegue ele.

O curso é uma das formas de gerar emprego e renda para os alunos/Foto: Arquivo Pessoal

Um dos alunos mais recentes do curso é o eletricista Pedro Paulo (43), morador do bairro de Periperi, localizado no Subúrbio soteropolitano: “O curso foi muito amplo para mim, veio como uma forma de aumentar a oportunidade de trabalho, estando ligado diretamente à energia renovável. E como eu meio que já trabalhava na área, então foi mais fácil pegar os conhecimentos”, avalia ele, que conta ter influenciado a um amigo na área, e que também já ingressou na nova turma, iniciada em julho de 2024.

Um outro aluno do curso de instalação fotovoltaica foi o mecânico de manutenção industrial, Cristiano Costa (50), morador de Praia Grande, na Suburbana, bairro também localizado no Subúrbio de Salvador. “O curso me surpreendeu. Fui achando que era para montador, mas quando cheguei lá vi que agregou em várias outras coisas. E foram praticamente quatro cursos em um, o de NR10, o de NR35, a parte elétrica e o curso de fotovoltaica. Tinha coisas que eu sabia fazer na prática, mas a parte teórica abriu meu conhecimento. Eles me ensinaram a calcular muitas coisas, como o dimensionamento, me ensinaram a como usar um disjuntor, a como fazer e a como não fazer na área”, analisa o mecânico.

“E é uma energia limpa, não é? Eu vejo que na Europa, nos Estados Unidos, usam praticamente só a energia fotovoltaica. No Brasil, estamos começando agora. E acho que a tendência é essa, tanto nas indústrias como nas residências”, prossegue Cristiano.

E com estratégias alinhadas a essa tendência, Ivan Euller destaca ações para implementar painéis solares em comunidades de Salvador e contemplar pessoas com baixa renda, como já está acontecendo com as escolas municipais entregues desde 2021, e também nos residenciais Guerreiras Zeferinas e no Mané Dendê, ambos no Subúrbio.

Para quem deseja adotar a energia solar por conta própria, o secretário comenta: “Algumas pessoas falam que energia solar é para quem tem dinheiro, para quem é rico, porque o investimento é elevado. É, realmente tem um investimento elevado de comprar o sistema e colocar, mas isso as empresas financiam através de bancos, e o valor que você paga da conta de energia, de R$ 500 a R$ 600, você paga ao banco, você paga a empresa que faz a instalação durante aí um período de três a quatro anos, e depois desse período, o sistema é da própria pessoa”, conclui.

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