O Parque Nacional da Tijuca recebeu na quinta-feira, 16 de janeiro, 28 jabutis-tinga, animais que não eram vistos no local há mais de 200 anos. Importantes para a distribuição de sementes, especialmente as grandes, os jabutis-tinga são a terceira espécie a ser reintroduzida no Parque desde 2010 pelo projeto Refauna e serão monitorados por pesquisadores, informa Mariana Tokarnia, da Agência Brasil.
Em 2010, foram reintroduzidas as cutias e, em 2015, os bugios, que são macacos de médio porte.
“Cada animal desempenha um papel importante na floresta”, disse a professora Alexandra dos Santos Pires, integrante do Refauna na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). “O objetivo principal desse projeto é reconstituir a fauna que houve um dia nessa floresta. O que estamos fazendo é como se fosse um quebra-cabeça, [estudando] quais são as pecinhas que estão faltando aqui e que podem ser restabelecidas”, explicou.
O Refauna é uma iniciativa da UFRRJ e do Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ), desenvolvida em conjunto com outras instituições de ensino.
Dispersão de sementes
Segundo Alexandra, os jabutis têm um papel importante na dispersão de sementes. Caminhando, eles pisoteiam plantas que têm mais facilidade de se estabelecer e acabam impedindo o crescimento de outras espécies. Além disso, comem sementes grandes quase sem mastigá-las. Quando defecam, levam as sementes para novas áreas e ajudam no processo de germinação.
“Sementes grandes são características das espécies maiores da floresta, que são as mais ameaçadas. O jabuti leva essas sementes para longe da área onde encontrou o fruto, permitindo que essas plantas se estabeleçam. Uma área onde tem muitos desses indivíduos adultos é uma área na qual as jovens não conseguem se estabelecer”, ressaltou.
Os 28 jabutis-tinga foram trazidos de Cuiabá para o Rio de Janeiro e passaram por uma série de exames. Parte dos animais passou os últimos seis meses em uma área delimitada pelos pesquisadores na própria floresta para aclimatação. Parte chegou hoje ao parque. Com o monitoramento, a equipe pretende avaliar se a aclimatação é necessária para o restabelecimento.
Para que o acompanhamento possa ser feito, todos os animais tiveram um radiotransmissor fixado no casco. “Cada um tem uma frequência única, para não confundirmos um animal com outro. Sei exatamente [é] o animal que estou monitorando e, com o rádio receptor, chego até o animal, sei o que está fazendo, se está vivo, ou se veio a óbito, se está se reproduzindo, se está se alimentando e o que está comendo”, disse o biólogo da UFRJ e pesquisador do Refauna, Marcelo Rheingantz.
“Conseguimos monitorar se essa população está se restabelecendo, ou não, e quais as consequências desse restabelecimento, ou seja, quais as interações que estão sendo restauradas”, acrescentou.
Orientações à população
De acordo com Rheingantz, no passado, os jabutis eram abundantes na Mata Atlântica. As populações desses animais foram sendo dizimadas principalmente pela caça e pelo desmatamento. Por isso, o projeto pretende desenvolver ações de conscientização das comunidades vizinhas à área.
As orientações do Refauna são: não mexer com os animais, nem retirá-los do local, caso encontre algum no parque; não trazer outros jabutis da mesma espécie ou de espécies diferentes para interagir com eles; trafegar dentro da velocidade permitida nas vias internas ou que circundam a área, permitindo que os bichos atravessem tranquilamente as vias, e nunca alimentá-los.
A reintrodução do jabuti é mais um passo para a reconstituição da fauna no Parque da Tijucal. Segundo Alexandra, a próxima espécie a ser reintroduzida no local é a arara-canindé. “Apesar de a floresta estar aqui, existem muitas espécies que precisam ser favorecidas. Espécies características de estágios mais maduros. É uma floresta que ainda precisa caminhar para a frente e o jabuti, mesmo caminhando lentamente, vai ajudar nesse processo de desenvolvimento.”