Uma pesquisa inédita estima que, no Brasil, entre 2018 e 2030 sejam produzidos 1,38 milhão de toneladas de brinquedos de plástico, somente no mercado formal. Esse volume equivale a 198 mil caminhões de lixo, que, enfileirados, chegam à distância de São Paulo à Salvador.
Com relação ao impacto das embalagens – muitas vezes feitas de plástico e para uso único – calcula-se que, no mesmo período, sejam descartadas 582 mil toneladas só no Brasil. Tal problema se agrava por 90% dos brinquedos de todo mundo serem feitos a partir de algum tipo de material plástico.
No Brasil, a categoria de brinquedos lidera os anúncios de publicidade infantil e as empresas lançam, o tempo todo, novidades para chamar a atenção e estimular o desejo de consumo das crianças. Essas informações são parte da recém-lançada pesquisa Infância plastificada – O impacto da publicidade infantil de brinquedos plásticos na saúde de crianças e no ambiente, encomendada pelo programa Criança e Consumo, do Instituto Alana, ao Grupo de Estudos e Pesquisa em Química Verde, Sustentabilidade e Educação da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
A pesquisa investiga a correlação entre publicidade infantil, consumo de brinquedos plásticos, descarte de plástico e os impactos na saúde infantil e no meio ambiente, ilustrada com dois estudos de casos. O primeiro apresenta o caso L.O.L. Surprise!, uma pequena boneca colecionável envolta em diversas camadas de plástico que, quando removidas pela crianças, revelam dicas, itens do vestuário e, por fim, a boneca em si. Desembalar a boneca faz parte da brincadeira e é o principal apelo na publicidade infantil deste produto. Considerando seus 800 milhões de exemplares vendidos em todo mundo entre 2016 e 2018, estima-se que a quantidade de embalagens descartadas seria suficiente para dar cerca de 24 voltas ao redor da Terra.
O outro caso estudado na pesquisa é o McLanche Feliz, do McDonald’s, que associa alimentação com entretenimento, via desejo de consumo do brinquedo. Essa prática abusiva fez da rede de fast-food a maior distribuidora de brinquedos do mundo. Nos Estados Unidos, o McDonald’s e seus concorrentes representam quase um terço de todos os brinquedos distribuídos no país.
“Os brinquedos têm papel importante no desenvolvimento das crianças e têm, para todos nós, um valor simbólico e emocional. No entanto, com as estratégias de marketing direcionadas ao público infantil pela indústria de brinquedos, devemos refletir sobre o consumismo desenfreado que se gera por este mercado e, consequentemente, seus impactos na saúde infantil e no meio ambiente. Se estamos realmente considerando o bem-estar das nossas crianças e a garantia de um futuro saudável e sustentável para elas, precisamos considerar os impactos ambientais dos estímulos de consumo gerados pelas empresas fabricantes de brinquedos”, ressalta JP Amaral, mobilizador do programa Criança e Consumo.
Substâncias tóxicas
No que se refere à toxicidade dos brinquedos de plástico, a pesquisa mostra que, para dar flexibilidade ao PVC (policloreto de vinila), principal material utilizado na fabricação de brinquedos, são utilizadas substâncias já identificadas como tóxicas e como potenciais causadoras de cânceres e problemas hormonais em crianças. Um estudo recente levantado pela pesquisa analisou 248 brinquedos comercializados na Europa e revelou que 92% deles apresentavam, em sua composição, elementos agressivos para a saúde das crianças.
Problemas de saúde
“As crianças, por manusearem brinquedos plásticos, acabam tendo contato com diversos elementos tóxicos que podem provocar sérios problemas de saúde. Com isso, é preciso um alerta em relação à composição dos brinquedos plásticos, principalmente os de origem duvidosa”, ressalta Vânia Zuin, professora e pesquisadora da UFSCar, Brasil (GPQV) e professora visitante da Universidade de York, UK (GCCE).