As mudanças climáticas motivadas por fatores humanos têm causado danos graves a diversas regiões do planeta, isso de acordo com o último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), lançado pela ONU.
Além disso, segundo o estudo, as decisões voltadas para o meio ambiente tomadas na próxima década serão determinantes para o futuro da Terra. Nesse sentido, cada vez mais a sustentabilidade se torna um ponto chave, levando a uma crescente demanda por profissionais com as chamadas “green skills”.
Segundo a Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Unido), as “Green Skills”, ou habilidades verdes, são conjuntos de conhecimento, habilidades e competências necessárias em diversos setores para alcançar o desenvolvimento sustentável e enfrentar desafios ambientais de forma eficaz.
Atualmente, há uma tendência para o crescimento de “empregos verdes” à medida que as economias priorizam a sustentabilidade ambiental. Segundo o relatório Global Green Skills 2022, elaborado e divulgado pelo Linkedin, as habilidades verdes já aparecem como exigência em 10% dos anúncios de emprego na plataforma; e os números devem continuar aumentando. Isso porque, de acordo com o relatório, a participação dos “talentos verdes”, na forma de trabalho global, saltou 38,5% entre 2015 e 2022, com tendência para um contínuo crescimento. O Linkedin ainda destaca uma subida de 15% nas ofertas de vagas exigindo ao menos uma dessas habilidades entre fevereiro de 2022 e fevereiro de 2023.
Essa busca por Green Skills não está restrita a um só setor, atingindo diversas atividades profissionais. Segundo o Programa das Nações Unidas para Meio Ambiente (Pnuma), uma das principais autoridades ambientais do mundo, áreas de trabalho como agronomia, arquitetura, administração, ciências, comércio, direito, economia, engenharia e projetos – além, lógico, de profissionais técnicos – são alguns setores com maior foco em práticas sustentáveis. Desse modo, os profissionais que não possuem esses conhecimentos precisam se requalificar para permanecerem competitivos no mercado de trabalho.
Saville Alves, fundadora da SOLOS, startup nordestina com foco sustentável que tem como uma das principais áreas de atuação a promoção da reciclagem e da economia circular, destaca a importância das green skills.
Reciclagem otimizada
A SOLOS atua no desenvolvimento de projetos que otimizam o processo de reciclagem, inserindo-o na vida das pessoas, junto aos setores público e privado. A partir das suas operações, a startup promove o descarte correto de embalagens pós-consumo, com o intuito de gerar ganho na qualidade de vida de todos, seja dos catadores e até de animais como as tartarugas marinhas. Por meio de uma combinação entre tecnologia, inovação e parcerias estratégicas, a empresa trabalha no desenvolvimento de soluções inteligentes e eficazes para os desafios ambientais enfrentados não só no Brasil, mas no mundo.
Em seus seis anos de trajetória, a empresa tem como clientes grandes marcas como Ambev, Braskem, Heineken, iFood, Nubank e Coca-Cola. A partir de suas operações, já foram coletadas mais de 1400 toneladas de resíduos, gerando R$3.9 milhões em renda para os catadores. Os resultados expressivos renderam à SOLOS o Prêmio Nacional de Inovação em 2023, quando foi reconhecida como a pequena empresa que mais inova em sustentabilidade.
Competências para a sustentabilidade
É levando isso em conta que torna Saville Alves uma entusiasta das green skills: sem pessoas com competências voltadas para a sustentabilidade, não seria possível conseguir resultados tão marcantes.
“Quando falamos desses conhecimentos, pensamos na combinação de ideias e aplicações práticas, que envolvem desde atitudes cotidianas, como capacidade de colaborar com equipes multidisciplinares, até o desenvolvimento de novas tecnologias e processos. A partir das habilidades verdes é possível expandirmos os resultados nas mais diversas áreas das empresas e setores das indústrias, sem uma relação obviamente ligada ao sustentável, como moda, energia, agricultura, bens de consumo”, comenta.
Além da SOLOS, a empreendedora atuou em empresas como Braskem S.A. e Oi S.A, e no terceiro setor, nas ONGs TETO e ARCAH. Essa pluralidade de percepções gerou um olhar que busca harmonia e a levou a ser eleita pela Forbes uma das 20 mulheres mais inovadoras das AgTechs.
As green skills, assim, configuram-se como uma tentativa dos mercados de promover uma economia com maior responsabilidade verde, visando mitigar os efeitos negativos que a ação danosa do ser humano já causou ao planeta. Esse trabalho também passa pela conscientização da necessidade de abraçar a causa ambiental em prol de um futuro para a humanidade.