Por Marco Aurélio de Castro*
Nos últimos anos, com a ampliação do debate em torno dos temas ambientais, sociais e de governança, reunidos sob a sigla ESG, muitas empresas têm divulgado mais informações a esse respeito, com o intuito de chamar atenção para a adoção de boas práticas corporativas ligadas à promoção desses pilares.
No entanto, apesar da crescente disseminação dessa pauta entre as organizações, ainda não há um padrão consolidado para a apresentação de métricas e resultados ESG.
Com isso, muitos investidores, consumidores e até mesmo órgãos reguladores, têm tido dificuldades em identificar quais corporações estão, de fato, comprometidas com a divulgação de seus impactos na sociedade e no meio ambiente, e quais, por outro lado, desejam apenas ostentar uma roupagem sustentável, sem uma real preocupação com a promoção de mudanças efetivas.
Essa prática, conhecida como greenwashing, não só tem despertado a preocupação de diversas entidades dos setores público e privado, como também chama a atenção para o risco da banalização do tema no ambiente corporativo.
Nesse sentido, uma das expressões que vêm sendo amplamente difundidas mercado afora, em especial entre os profissionais de RH, é green skills – ou “habilidades verdes”, em tradução livre. Ao contrário do que, à primeira vista, o termo possa sugerir, essas competências não estão associadas apenas aos profissionais alocados em áreas diretamente ligadas à sustentabilidade, mas a todo um regime de trabalho baseado em práticas eficazes, além de ambiental e socialmente responsáveis, em qualquer que seja o cargo ou setor de atuação.
É bem verdade que, em 2009, um estudo elaborado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), cunhou o termo “empregos verdes” para se referir a uma série de ocupações dedicadas à redução da emissão de carbono na atmosfera e à prestação de serviços especificamente voltados ao combate ao aquecimento global e à preservação do meio ambiente. Entretanto, com o passar dos anos e o avanço da emergência climática, tornou-se evidente a necessidade de ampliar esse escopo, expandindo o alcance das chamadas green skills para além das fronteiras do dito “mercado sustentável”.
Saiba quantos empregos podem ser gerados até 2030 com a preservação da natureza
Prova disso são os resultados do “Global Green Skills Report 2023”, produzido pelo LinkedIn e repercutido pelo “Relatório sobre o Futuro dos Empregos 2023”, publicado pelo Fórum Econômico Mundial. De acordo com o levantamento feito pela rede social corporativa, embora tenha sido registrado um crescimento contínuo de “empregos verdes” nos últimos quatro anos, a requalificação e o aprimoramento de green skills, no mercado como um todo, não têm acompanhado esse ritmo.
Não à toa, a maior parte das organizações ouvidas pela pesquisa do LinkedIn aponta a “lacuna de habilidades” como um dos principais entraves a uma transformação ESG genuína, revelando, assim, a necessidade de treinamentos e atualizações em todos os setores e níveis hierárquicos.
O relatório aponta que seis em cada 10 trabalhadores em atividade atualmente precisarão ser treinados antes de 2027, caso se queira cumprir as metas climáticas estipuladas pela Agenda 2030 da ONU. Além disso, o estudo estima ainda que, em média, 44% de todas as habilidades do trabalhador individual precisarão ser atualizadas nesse mesmo prazo.
Com isso em mente, fica claro que, para alcançar a sustentabilidade, já não basta que as empresas contem com uma área, departamento ou divisão dedicada a práticas como gestão de recursos naturais, eficiência energética e conservação da biodiversidade.
Antes, é preciso que cada colaborador, em seu respectivo nível de responsabilidades atribuídas, esteja consciente de sua importância em meio a um pacto coletivo em favor da promoção da agenda ESG e do cumprimento de metas ambientais, sociais e de governança, cuja base deve estar estritamente firmada em KPIs e OKRs (indicadores de performance e resultados, respectivamente) sólidos e previamente estipulados.
Para isso, é indispensável que as organizações invistam em iniciativas de formação e atualização contínuas, capazes de suportar a jornada de aprendizado de seus profissionais. Só assim será possível fazer jus à atual demanda por talentos com green skills bem desenvolvidas e capazes de abarcar não só os expedientes voltados à redução dos impactos ambientais decorrentes das operações de uma empresa, mas também habilidades comportamentais que contribuam para a construção de um ambiente corporativo mais saudável e inclusivo, pautado pelo trabalho em equipe, pela comunicação acessível e eficaz e pela capacidade de solucionar problemas de maneira criativa e colaborativa.
*Diretor-executivo de RH da Volkswagen Financial Services Brasil