Fim dos santinhos? Especialista defende campanhas políticas mais sustentáveis

Nas Eleições de 2020, muitos “santinhos” de políticos foram jogados na Escola Municipal Bahia, na Maré, zona norte da capital fluminense/Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

A sustentabilidade é uma das pautas globais mais relevantes. E deve ter um papel de destaque nas eleições municipais deste ano, especialmente após as catástrofes climáticas (e de gestão) no Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Bahia.

Mas, além do discurso, o compromisso com a sustentabilidade precisa estar presente na campanha colocada nas ruas. É justamente isso o que defende a mestra em sustentabilidade pela USP, Leide Laje.

Um levantamento realizado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) apontou que o resíduo produzido pelo material impresso da propaganda eleitoral de 2012 poderia ser utilizado para a publicação de 40 milhões de livros escolares. Somente em Salvador, depois das eleições de 2016, mais de 100 toneladas de resíduos – majoritariamente, santinhos e panfletos de candidatos – foram retiradas das ruas. 

Para Leide, esses e outros danos causados ao meio ambiente pelas campanhas políticas podem ser mitigados por ações interdisciplinares e integradas, capazes de oxigenar a economia.

Economia Verde

“Da inclusão de cooperativas de catadores de materiais recicláveis para garantir destinação adequada dos resíduos à contratação de empresas que forneçam plásticos biodegradáveis ou papel reciclado, temos geração de emprego e renda num setor ainda pouco fomentado no país”, avalia a mestra em Sustentabilidade pela USP. 

Ela defende, ainda, a necessidade de minimizar o uso de recursos naturais, promover a economia circular e a conscientização ambiental dentro dos partidos, coligações e com os eleitores. Essas ações fazem parte do conceito de “eleições verdes”, que engloba a incorporação de práticas sustentáveis, ambientalmente responsáveis e socialmente engajadas nas campanhas eleitorais. Exemplos dessa prática já foram registrados em países como Alemanha, Canadá, Finlândia, Austrália e Nova Zelândia. 

Falta limite

No Brasil, os Tribunais Regionais Eleitorais têm desenvolvido ações de conscientização para estimular partidos, candidatos e eleitores a contribuírem para uma eleição mais limpa e sustentável. Porém, a Resolução 23.610/2019, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que regula a propaganda eleitoral, não menciona limites para impressão de santinhos.

Em 2018, a então senadora Lídice da Mata apresentou uma proposta de alteração na Lei 9504/1995, que estabelece normas para as eleições, para que os candidatos fossem obrigados a recolher material de campanha colocado nas vias públicas. No entanto, o PLS 44/2018 foi arquivado em 2022, no final da legislatura da proponente. 

Leide Laje: campanhas ambientalmente responsáveis alinhadas aos projetos políticos em pauta são fundamentais/Foto: Divulgação

Ações práticas

Na avaliação de Leide Laje, as campanhas educativas são importantes, mas faltam ações práticas mesmo nas candidaturas que abordam pautas, como racismo ambiental, mudanças climáticas, emissão de carbono, acessibilidade, vulnerabilidade social e diversidade. “Quando analisamos os eventos, as logísticas e todo o material produzido, não percebemos essa mesma preocupação. Campanhas ambientalmente responsáveis alinhadas aos projetos políticos em pauta são fundamentais”, critica. 

Para auxiliar candidatos, partidos e coligações a incorporar práticas sustentáveis, ambientalmente responsáveis e socialmente engajadas nas campanhas, a Laje Sustentável vai prestar consultoria durante as eleições de 2024. A empresa vai utilizar a expertise adquirida com os trabalhos realizados no Afropunk Bahia e Festival de Verão para aprimorar a eficiência de campanhas e promover um impacto positivo no meio ambiente e na sociedade.

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