Evento discute estratégias de conservação da harpia

Ave de rapina mais forte do mundo corre risco de extinção em virtude da supressão florestal. Mais de 90% da Mata Atlântica foi devastada ou degradada desde o período de colonização do Brasil/Foto:João Marcos Rosa

Entre os dias 7 e 10 de junho, se reúnem em Foz do Iguaçu, no Oeste do Paraná, especialistas em harpia, translocação e conservação da natureza do Brasil e do exterior para discutir estratégias para a conservação da espécie em florestas do Sul do país, na Argentina e no Paraguai.

A Oficina de Avaliação de Manejo Integrado para Conservação da Harpia na Mata Atlântica, com foco na região Sul, acontece em Foz para pesquisadores convidados e vai buscar caminhos para a conservação da ave no estado do Paraná. O evento é uma das ações do convênio firmado entre a Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS) e a Itaipu Binacional.

Além da SPVS e Itaipu Binacional, apoiam e organizam a iniciativa entidades como IUCN SSC Grupo Especialista em Planejamento de Conservação (CPSG) | Centro de Sobrevivência de Espécies Brasil (CSE Brasil), Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres (Cemave), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e Associação de Zoológicos e Aquários do Brasil (AZAB).

[Vídeo]: Conheça o trabalho da Itaipu para a conservação da fauna e da flora no Refúgio Biológico Bela Vista

Harpia registrada em Bonito_João Marcos Rosa

Harpias dependem de florestas bem conservadas para sobreviver 

A harpia (Harpia harpyja), habitante de florestas tropicais da América Central ao Sul, incluindo a Mata Atlântica, é considerada a ave de rapina mais forte do mundo, está ameaçada de extinção, em virtude da supressão florestal na Mata Atlântica. Mais de 90% da Mata Atlântica foi devastada ou degradada desde o período de colonização do Brasil.

A maioria dos grandes centros urbanos está em áreas que eram ocupadas por essa floresta. Com isso, a espécie passou a ter dificuldade para encontrar recurso alimentar – como preguiças e macacos, que só existem em florestas bem conservadas – e também árvores altas para a construção de seus ninhos. Eles têm cerca de dois metros de diâmetro e são construídos, principalmente, em árvores emergentes.

A harpia só sobrevive em florestas ricas em biodiversidade, também chamadas de antigas ou primárias, por ser um animal topo de cadeia e depender de um ecossistema completo e equilibrado para se alimentar, como também é o caso da onça pintada, por exemplo.

Por ser uma ave muito grande – as fêmeas podem chegar a nove quilos e ter uma envergadura de mais de dois metros de comprimento – precisa de espaço para voar e pousar na copa de árvores, daí a importância da existência de áreas naturais conectadas, que reúnem unidades de conservação, como reservas biológicas, parques nacionais, estações ecológicas e reservas particulares do patrimônio natural (RPPNs).

“Não há como falar sobre conservação e aumento da população de harpias na natureza, sem tratar da necessidade do investimento em conservação e proteção de florestas maduras. O investimento na conservação das florestas é tão urgente quanto a conservação da harpia em si”, explica Roberta Boss, técnica do projeto na SPVS.

A SPVS é responsável pela análise da qualidade de ambientes das áreas de maior remanescente de Mata Atlântica, na região Leste, inserida na área da Grande Reserva Mata Atlântica, e na porção Oeste, na região de Foz do Iguaçu.  Também conduz outras ações estratégicas de conservação da harpia no estado do Paraná.

A oficina acontece em Foz do Iguaçu, em razão do envolvimento direto da Itaipu Binacional com os esforços para a proteção da harpia. O Refúgio Biológico Bela Vista, criado pela empresa em 1994, na época da inundação de áreas para a construção do reservatório da Usina hidrelétrica de Itaipu, é responsável pelo maior programa de reprodução de harpias do mundo. Em 27 de junho de 2022, o Refúgio Biológico completa 38 anos.

Desde 2009, já nasceram ali 56 harpias e sobreviveram 38, um número bastante expressivo para uma espécie que sofre um risco tão agudo de extinção. Atualmente, o local conta com seis casais reprodutores, sendo que o primeiro indivíduo, um macho, que chegou no ano 2000, após ser encontrado em uma caixa de papelão na BR-277, quando ainda era um filhote. A taxa de sobrevivência dos filhotes nascidos no Refúgio é de até 80%.

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A SPVS utilizará o recurso para concretizar a sinalização de trilhas na natureza em uma recente parceria com a Rede Brasileira de Trilhas. Agora, as trilhas da SPVS e da Grande Reserva Mata Atlântica estão conectadas com outras Unidades de Conservação pelo país/Foto: João Marcos Rosa

Águia mais poderosa do mundo já perdeu mais de 40% de seu habitat natural 

Um estudo desenvolvido por pesquisadores da Unemat, campus de Alta Floresta, em colaboração com cientistas da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), e instituições de Israel, Inglaterra e Estados Unidos, mostrou que a redução da área de distribuição neotropical da harpia já chega a mais de 40%. O estudo foi divulgado em 2019 pela  revista internacional PLOS ONE.

Se nada for feito, é uma questão de tempo até que a distribuição da espécie fique restrita somente à Amazônia. Hoje, mais de 90% da distribuição geográfica da harpia se encontra nessa região por conta da baixa densidade populacional e da presença de florestas em melhor estado de conservação.

Entretanto, apesar de ser considerada uma extensa fortaleza da conservação para as harpias, a Amazônia tem diversas fragilidades. A degradação do habitat pelo corte seletivo de madeira, e a captura e morte das aves deixam a espécie vulnerável também nesta região.

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No passado, o estado do Paraná chegou a ser o lar perfeito para a harpia. O território era predominantemente florestal, coberto com quase 100% de Mata Atlântica. Mas a expansão das atividades humanas, a exploração e devastação das florestas por conta de interesses econômicos, como a retirada de madeira e o avanço da agropecuária industrial, causaram a perda do ambiente da espécie e, consequentemente, limitaram suas opções de alimentação e as áreas para a reprodução.

Ironicamente, mesmo diante da ausência de políticas públicas estaduais que impeçam o avanço da degradação, a harpia continua figurando em destaque no brasão do Paraná. Mesmo assim, graças aos esforços de pessoas e entidades que atuam em prol da conservação do patrimônio natural no Estado, ainda existem importantes remanescentes florestais do Paraná que poderiam ser considerados para comportar, em médio e longo prazos, a existência desses animais.

Com a oficina, espera-se encontrar caminhos que envolvam pesquisadores, instituições e entidades públicas e privadas a trabalhar juntas para avançar em ações concretas para a conservação da espécie.

(Via SPVS)

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