Estudo demonstra importância do manguezal para a estocagem de carbono

O aquecimento global é um assunto discutido em todo o mundo. A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-25), realizada recentemente em Madri, reuniu representantes de quase 200 países para pensar em ações que reduzam este problema. Enquanto líderes mundiais se reuniam na Europa, o projeto CO2 Manguezal trabalha com foco em reflorestamento e conservação de manguezais do Recôncavo Baiano, uma ação em que muito contribui para essa questão do clima.

Com patrocínio da Petrobras, o projeto CO2 Manguezal recuperou, entre 2018 e 2019, mais de 10 hectares (ha) de manguezais nos municípios de Maragogipe, São Francisco do Conde e Cachoeira, além de 2,5 ha de áreas de Mata Atlântica, que tem a função de formar um cinturão para proteger os bosques de mangue.

As ações de reflorestamento e conservação contaram com ações paralelas como ações de limpeza das áreas de mangue, a produção de mais de 50 mil mudas de manguezal e outras 10 mil de Mata Atlântica e educação ambiental, com grande envolvimento da comunidade.

“Além da equipe técnica, tivemos o apoio de mais de 20 colaboradores, que atuaram desde a coleta de sementes, organização do viveiro, até o plantio das mudas. Todos eles são pescadores e marisqueiras com muita experiência em manguezal”, explica Sarah Nascimento, bióloga do projeto.

Estocagem de carbono

A recuperação destas áreas de manguezal representa a garantia de renda para mais de 5 mil famílias que dependem da preservação da Reserva Extrativista Marinha Baía do Iguape, área em que o projeto atua. Porém, os benefícios ultrapassam as fronteiras e continentes. O manguezal é um ecossistema úmido que tem chamado a atenção de órgãos internacionais por conta da capacidade de captura de carbono (blue carbon) em relação a outros ecossistemas, como a Mata Atlântica e Caatinga.

O papel do mangue de armazenador de carbono é apresentado no livro CO2 Manguezal – Estudos Científicos.  Estudos coordenados pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, parceira do projeto, evidenciam a importância do ecossistema para a estocagem de carbono. Em uma avaliação não destrutiva com medição da biomassa da vegetação das áreas de manguezal do Quilombo Salamina Putumuju e de Ponta do Souza, ambas em Maragogipe, os pesquisadores perceberam que a localidade degradada por conta de situações como a urbanização, esgotamento sanitário, extração de árvores e a pressão de pesca estoca 16% de carbono a menos que o território preservado.

“Percebe-se que a degradação empobrece o mangue, tanto na abundância e quanto no porte das espécies. Isso tem reflexo na biomassa e, consequentemente, na quantidade de carbono que esta árvore pode estocar. Então, o lixo, aterros, retirada de madeira dificultam que o manguezal preste este importante serviço de sequestrar e estocar o carbono. Caso contrário, este carbono fica livre na natureza poluindo, aquecendo a terra, modificando a maré e tudo mais que estamos experienciando atualmente na terra”, explica a doutora Alessandra Nasser Caiafa, professora de biologia vegetal da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB).

CO2 Manguezal – Estudos Científicos reúne estudos realizados por seis pesquisadores ligados ao Laboratório de Ecologia Vegetal e Restauração Ecológica (LEVRE). Além da pesquisa sobre a capacidade de captura e estocagem de carbono da atmosfera em manguezais de Maragogipe e São Francisco do Conde, o livro traz também estudos sobre a contribuição de áreas de Mata Atlântica e seu componente ciliar para a conservação dos manguezais.

“O objetivo do livro é mostrar o quanto as coisas são correlacionadas. É importante a gente fazer um diagnóstico macro da paisagem, depois entender a companheira do manguezal, que é a Mata Atlântica, e, aí sim, entender a estocagem de carbono. Essas coisas são indissociáveis”, completa Alessandra Caiafa.

O livro CO2 Manguezal – Estudos Científicos pode ser adquirido gratuitamente, em versão digital no site https://co2manguezal.org

Educação Ambiental – conhecer para cuidar

Nos últimos dois anos, o projeto CO2 Manguezal realizou também atividades de educação ambiental, especialmente com crianças, pescadores e marisqueiras. Entre 2018 e 2019, foram atendidos mais de 4.500 estudantes do ensino fundamental I, com visitas a espaços interativos e atividades musicais. Além disso, 51 pessoas foram capacitadas em técnicas de produção de mudas, 228 agentes multiplicadores ambientais aprenderam a disseminar conhecimentos sobre a conservação do meio ambiente e 668 pescadores e marisqueiras conheceram alternativas sustentáveis para a atividade pesqueira e cuidados com a saúde.

“Nossa intenção é deixar um legado de uma educação ambiental para as próximas gerações, de gerar conhecimento para se preservar o ambiente. Com os pescadores tratamos especialmente sobre as artes de pesca, explicando sobre erros e acertos nas atividades deles. Para as crianças e professores buscamos levar mais consciência sobre do ambiente em que vivem, de forma lúdica e sem deixar de lado a cultura local,” ressalta o gerente de Meio Ambiente, Carlos Oliveira, mais conhecido em Maragogipe como Carlinhos de Tote.

Projeto CO2 Manguezal

Patrocinado pela Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental, o projeto CO2 Manguezal é executado pela Fundação Vovó do Mangue e tem foco no reflorestamento e conservação de manguezais e educação ambiental. A iniciativa produziu mais de 50.000 mudas de três espécies de mangue já recuperou mais de 10 hectares de áreas degradadas de manguezal em Maragogipe, São Francisco do Conde e Cachoeira. O CO2 Manguezal tem ainda o apoio da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), através do Laboratório LEVRE, e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

Fundação Vovó do Mangue

Com 22 anos de experiência na realização de projetos socioambientais, a Fundação Vovó do Mangue é uma organização não-governamental, com sede em Maragogipe, na Bahia, no Recôncavo Baiano. Além de atuar no reflorestamento e conservação de manguezais, já desenvolveu projetos nas áreas de educação, cultura, esporte e inclusão socioprodutiva.

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