Como criar espaços urbanos mais diversos e que considerem a perspectiva das mulheres foi tema do evento virtual “DiverCidade: O futuro que queremos“, na última terça-feira, 20 de outubro.
Organizado pela ONU-Habitat e pelo Escritório das Nações Unidas de Serviços para Projetos (Unops) no âmbito do Circuito Urbano 2020, contou com a participação do Unicef e das organizações sociais Think Olga e Turba. Foram discutidas as dificuldades de mulheres, meninas e jovens nas cidades, bem como soluções possíveis e executáveis, além de promover e motivar diálogos sobre as cidades que queremos no futuro.
O evento foi mediado pela analista de Programas do ONU-Habitat Brasil, Daphne Besen, que trouxe a importância e urgência de se pensar e planejar cidades mais inclusivas, seguras, resilientes e sustentáveis para todos e todas para o alcance do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 11.
Daphne lembrou que as cidades são mais que infraestrutura urbana: “Precisamos olhar para as cidades de forma interseccional, afinal elas são compostas também por cultura, lazer, identidade, é importante nos sentir parte da cidade, representados e acolhidos por ela”.
A ponto focal de gênero do Unops no Brasil, Lívia Alen, falou sobre as cidades do ponto de vista da infraestrutura, umas das principais áreas de atuação do Escritório. De acordo com ela, “não existe infraestrutura neutra para gênero, portanto é essencial considerar as necessidades de usuários e usuárias para se construir uma cidade mais inclusiva”. Lívia apresentou ainda alguns caminhos que contribuem para isso e podem ser encontrados na publicação Parques para Todas e Todos.
A oficial do Programa de Desenvolvimento e Participação de Adolescentes e Jovens do Unicef, Luiza de Sá Leitão, falou sobre o empoderamento de meninas e jovens e a importância dos processos participativos nas cidades. “A escuta é fundamental, não podemos construir políticas públicas apenas ‘para eles e elas’ e sim ‘com eles e elas’. Quando escutamos esses jovens, as soluções costumam ser incríveis, precisamos trazê-los para pensar com a gente o futuro que queremos”, afirmou.
Luiza chamou também a atenção para a necessidade das cidades protegerem os jovens para que alcancem um desenvolvimento seguro. “A ausência de uma cidade amigável impacta diversas áreas da vida dos jovens, como a violência, a saúde sexual e reprodutiva, a educação, o lazer. Meninas desistem de estudar por conta do medo e do assédio que sofrem no trajeto casa – transporte público – instituição de ensino”, ressaltou.
A gerente de inovação da Think Olga, Amanda Kamanchek, disse que 97% das mulheres já sofreram assédio no transporte público e privado no Brasil. “A instituição Think Olga, em uma jornada recente nesse tema, descobriu que o lugar onde as mulheres mais sentem medo são os pontos de ônibus”, relatou.
Segundo ela, a prova de que as cidades não foram planejadas ou pensadas para mulheres é que 86% delas têm medo de sair às ruas. “Este problema acontece porque elas sofrem violências diárias, com a importunação sexual e por outras deficiências estruturais como ausência de luz, muros altos que restringem a visão e circulação nas ruas, além de políticas que priorizam carros, ao invés de cuidar dos pedestres”, afirmou.
A co-fundadora da Turba, coletivo que estimula a igualdade de gênero na construção de cidades inclusivas através de ações colaborativas no espaço urbano, e atual vice-presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil, departamento RS (IAB-RS), Paula Motta, apresentou algumas iniciativas do coletivo em Porto Alegre, como o mapa da representatividade feminina na cidade que mostra o baixo uso do nome de mulheres em logradouros. “É importante que a gente pense na cidade nos ouvindo. Uma cidade pensada para a mulher é uma cidade a partir da sua experiência, pois somos as principais responsáveis pelas tarefas cotidianas”, disse.
A facilitação gráfica do evento, realizada por Maria Clara Rodrigues e Joyce Cavalcante, encontra-se na seção “Galeria de Artes” do site do Circuito Urbano.