[Artigo] ESG na economia local e global

ESG na economia local e global

Por Eduardo Athayde*

Ao falar no Fórum Econômico Mundial (WEF 2021), Larry Fink, presidente da Black Rock, maior gestora de fundos do mundo, atualmente com ativos da ordem de US$ 8 trilhões de dólares, enviou a tradicional carta de janeiro aos seus investidos colocando o ESG no topo da agenda. “A pandemia, ao contrário de desviar, intensificou o debate do clima, hoje temos um movimento de proporções tectônicas que se acelera neste sentido, precisamos agir rápido”, afirmou Fink.

Acompanhando os planos climáticos globais o Goldman Sachs analisou, no ‘Carbonomics’, o plano de US$16 trilhões da China para tornar o país “carbono neutro” até 2060, com investimentos em tecnologias limpas que podem criar 40 milhões de novos empregos e impulsionar o crescimento econômico sustentável; o do presidente Joe Biden, US$ 2 trilhões de combate a mudanças climáticas, aumentando o uso de energia limpa nos setores de transporte, eletricidade e construção, e o da União Europeia que inova em políticas ambiciosas para reduzir as emissões em 55% até 2030.

Traduzido do inglês, (ESG) Governança Ambiental, Social e Corporativa refere-se aos três fatores centrais na medição da sustentabilidade e do impacto social de um investimento em uma empresa ou negócio, ajudando a determinar melhor o desempenho financeiro e de governança das empresas perante o mercado e a comunidade. Para qualquer ação ser global, é necessário ser antes local. O global é um mosaico do que acontece nas localidades e a economia, conjunto de atividades desenvolvidas visando a produção, distribuição e o consumo de bens e serviços necessários à sobrevivência e à qualidade de vida, não foge a essa regra.

No Brasil, enquanto a Bolsa de Valores, B3 e a S&P Dow Jones lançaram o índice S&P/B3 Brasil ESG, selecionando empresas brasileiras para sua carteira; a XP Investimentos, mostrou seis tendências ESG a serem monitoradas em 2021. 1. Os fatores sociais devem ganhar mais atenção; 2. Mudanças climáticas: todos os olhos voltados para as emissões de CO2; 3. Economia circular e as novas oportunidades de investimentos; 4. Gestoras: prontas ou não, aí vem o ESG; 5. Engajamento corporativo como oportunidade e 6. Padronização das divulgações e métricas ESG: uma evolução necessária.

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No setor de saúde, um exemplo a ser citado é o da Liga Álvaro Bahia Contra a Mortalidade Infantil que completa cem anos de fundada em 2023, filantrópica e mantenedora do Hospital da Criança Martagão Gesteira, 100% SUS, já adotou os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), desde 2015, firmou parceria com a ONU, e busca orientações entre as chamadas Big 4 (PwC, Delloite, Ernest & Young e KPMG), maiores do mundo, para audita-la e orientá-la na governança. Unificando parâmetros ESG e criando uma métrica global, as quatro lançaram um relatório internacional com os pilares norteadores: Princípios de Governança, Planeta, Pessoas e Prosperidade.

A pauta ODS/ESG do setor de educação cresce rápido. Enquanto universidades públicas avançam nos debates da nova realidade, percebendo que no ESG o “S” é o que mais cresce globalmente; as universidades privadas entram em rotas de adaptação. A Universidade Católica do Salvador, que em 2021 comemora 60 anos, articula, com o respaldo da Cúria, parcerias entre universidades católicas do mundo que já operam na dimensão ESG, seguindo a “Encíclica Laudato Si”, o cuidado com a casa comum, do Papa Bento XVI, apresentada na bicentenária Associação Comercial da Bahia pelo então arcebispo Dom Murilo Krieger, convidando à ação os empresários locais.

No setor de mineração, a Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM), adotando ODS e ESG, lançou o Hub de Mineração na FIEB e articula com o Instituto de Geociências (UFBA), o Senai/Cimatec, as empresas de mineração e a Bolsa de Valores de Toronto, opções de investimentos para prospecções minerais na área de influência da Ferrovia Oeste Leste – FIOL, que corta a Bahia longitudinalmente até o Porto Sul, em Ilhéus, está 80% pronta e será privatizada, no padrão ESG, em abril de 2021.

A Federação da Agricultura da Bahia (FAEB) e o Senar, por sua vez, conversam com mineradoras organizando parcerias. Rejeitos de mineração são adubos e a agricultura, adubada, ajuda a mitigar impactos ambientais da mineração transformando em agronegócios, com energias limpas (ODS 7), rendas e riquezas novas geradas no campo, uma economia circular estimulada pelo ESG, já internalizada pela Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF).

No setor florestal também tem novidades. A conservação de florestas nativas foi incluída na Classificação Nacional de Atividades (CNAE), adotado para padronização das atividades econômicas no país, visando fomentar a valoração dos serviços ecossistêmicos via pagamento por serviços ambientais. Valoração, precificação e monetização do carbono e da biodiversidade – com valorosa garantia de preservação – estão na ordem ESG do dia. A Indústria Brasileira de Árvores (IBÁ), que oferece bioprodutos e biomateriais para o mercado nacional e internacional, prevê investimentos em expansão de R$ 35,5 bilhões até 2023.

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E mais, 2021 a 2030 foi declarada como a Década dos Oceanos pela ONU, estimulando cooperação internacional para promover a preservação dos oceanos (ODS 14) que geram mais de 50% do oxigênio global, absorvem metade do carbono produzido e respondem por 80% da biodiversidade do planeta. A gestão dos recursos naturais de zonas costeiras será estimulada por métricas ESG. A Baía de Todos os Santos, destacada como Capital da Amazônia Azul, e a Marinha do Brasil, entram, assim, no radar do observatório internacional de investimentos na economia do mar e dos eventos do Fórum Econômico Mundial, cenarizados e acompanhados pelo WWI.

*Eduardo Athayde é diretor do WWI no Brasil. eduathayde@gmail.com

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