De onde vem a energia das estações de metrô em Barcelona?

Cidade está aproveitando a frenagem regenerativa para fornecer energia a trens, estações e carregadores de carros elétricos/Foto: Lucía Garó/Unsplash

Por Natalie Donback, da FastCompany

A maioria dos passageiros que desembarca na estação de Bellvitge, um bairro de classe trabalhadora nos arredores de Barcelona, na Espanha, provavelmente nem imagina o quão avançado é o sistema de metrô da cidade.

Usando uma tecnologia semelhante à frenagem regenerativa presente em carros elétricos e híbridos, os trens que eles pegam todos os dias geram parte da energia que abastece os carregadores de veículos elétricos em um estacionamento próximo, as luzes que iluminam a estação e as escadas rolantes que levam às plataformas.

Toda vez que um trem freia, a energia gerada pelo atrito é convertida em eletricidade, que passa por conversores e depois é distribuída pelo sistema de metrô. Um terço é usado pelos próprios trens, enquanto o restante alimenta as estruturas das estações e uma rede em expansão de carregadores de carros elétricos.

O carregador ultrarrápido do lado de fora é uma das quatro “electrolineras” – como são chamados os “postos de gasolina elétricos” na Espanha – instaladas em julho. A principal operadora de transporte da cidade, a Transports Metropolitans de Barcelona (TMB), planeja adicionar mais três conforme o projeto, chamado MetroCHARGE, avança.

“Estamos aproveitando a energia já existente no sistema de metrô e usando o excedente para alimentar carregadores de veículos elétricos nas ruas”, explica Marc Iglesias, chefe de mobilidade sustentável da Área Metropolitana de Barcelona, que trabalha junto com a TMB no projeto.

Até o momento, a agência de transporte já instalou três conversores e outros 13 estão em andamento. Quando todos estiverem operando, até o final de setembro, espera-se que a frenagem regenerativa forneça 41% da energia necessária para alimentar os trens – uma fonte renovável que deve evitar cerca de 3,9 toneladas de emissões de CO2 por ano.

Embora várias cidades, como São Paulo, Filadélfia e Viena, já utilizem a frenagem regenerativa até certo ponto, Barcelona está entre as poucas que a usam de forma tão ampla, além de ser a primeira a aplicá-la também na infraestrutura de carregamento de carros elétricos.

Aproveitar a energia que seria perdida como calor quando um trem desacelera pode reduzir consideravelmente o consumo energético do sistema de transporte. Com o MetroCHARGE, 33% da energia usada pelos trens vem da frenagem regenerativa, o suficiente para abastecer 25 estações de metrô, de acordo com Jordi Picas, diretor do projeto e responsável pelos sistemas de metrô da TMB.

No ano passado, a eletrificação do transporte superou as energias renováveis como a maior categoria de investimento na transição energética global, recebendo cerca de US$ 634 bilhões.

Embora o custo da implementação tenha sido de aproximadamente US$ 8,6 milhões, a operadora espera recuperar esse valor em quatro ou cinco anos com a economia de energia e a receita gerada pelos carregadores – os motoristas pagam cerca de US$ 0,33 centavos por quilowatt-hora.

Faltam mais dados para adoção do sistema

Outras cidades já demonstraram interesse em replicar o projeto. Metrópoles como Nova York – que conta com o quinto maior sistema de metrô do mundo, com 472 estações e mais de mil quilômetros de trilhos – poderiam economizar uma quantidade considerável de energia com a frenagem regenerativa, devido ao tamanho da sua rede, segundo Ahmed Mohamed, diretor de estudos de pós-graduação do departamento de engenharia elétrica da City College de Nova York.

Um estudo de 2018 realizado por Mohamed e sua equipe descobriu que a Autoridade Metropolitana de Transportes, que administra o metrô da cidade, poderia reduzir o consumo de energia em até 35% se adotasse o sistema em toda a rede e usasse a eletricidade gerada para alimentar os trens e as estações.

Em 2022, apenas metade dos trens utilizava essa tecnologia, de acordo com a Autoridade de Pesquisa e Desenvolvimento Energético do Estado de Nova York.

Aproveitar a energia que seria perdida quando um trem desacelera pode reduzir bastante o consumo energético do sistema de transporte.

Mohamed explica que um dos maiores desafios para a adoção da frenagem regenerativa é a falta de dados que mostrem quanto de energia e dinheiro poderiam ser economizados. “Quando você não sabe exatamente os números, fica difícil fazer uma análise de custo-benefício, e isso complica as decisões”, diz ele. “É importante financiar projetos-piloto para obter dados reais.”

Aprender com iniciativas como o MetroCHARGE poderia ajudar outras cidades a entender os benefícios da frenagem regenerativa. Melhorar a modelagem e incentivar os sistemas de transporte a compartilhar suas experiências também seria útil.

Outro desafio é a quantidade de partes envolvidas – incluindo empresas de tecnologia e de energia –, o que torna difícil definir quem deve arcar com os custos do projeto. “Quem vai gerenciar? Quem vai controlar? E qual o papel de cada parte?”, questiona Mohamed.

Este artigo foi publicado originalmente na “Grist”, organização de mídia independente e sem fins lucrativos especializada na questão climática.

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