Por Alana Gandra, da Agência Brasil
Estudo realizado por pesquisadores do Projeto Albatroz, patrocinado pela Petrobras, constatou que os albatrozes-gigantes estão presentes no Brasil durante todo o ano. Este foi o primeiro estudo a verificar a distribuição espacial e sazonal das diferentes espécies de albatrozes-gigantes associados a embarcações pesqueiras de espinhel pelágico.
A pesca de espinhel pelágico é um tipo de pesca industrial em águas profundas, que utiliza linhas com anzóis e é voltada à captura de peixes de grande porte e alto valor comercial, como atuns e espadartes.
O estudo deu uma resposta sobre a importância dos mares brasileiros para a ecologia dessas aves, para a conservação e o ciclo de vida delas, disse na sexta-feira, 15 de outubro, à Agência Brasil, o biólogo Gabriel Canini Sampaio, doutorando em oceanografia biológica pela Universidade Federal do Rio Grande (FURG) e pesquisador colaborador do Projeto Albatroz em Rio Grande (RS).
Segundo o biólogo, o estudo foi realizado em parceria com o setor produtivo de pesca e abrangeu um período de dados de monitoramento dos últimos 20 anos. O Projeto Albatroz tem 30 anos de cooperação com o setor pesqueiro.
Impactos
Os pesquisadores do Projeto Albatroz participaram, a bordo das embarcações, de cruzeiros de pesca que se estenderam até 200 milhas da costa. “A gente conseguiu pegar uma área de estudo muito grande, graças à parceria com os pescadores”, disse Sampaio. Ele explicou que os barcos funcionam como um atrativo para as aves. Isso tem um efeito positivo de um lado, porque as aves acessam recursos alimentares, como presas mortas encontradas na superfície e descarte de iscas, mas têm, de outro lado, um potencial negativo que é a captura incidental de albatrozes.
A principal missão do Projeto Albatroz é reduzir a captura incidental de albatrozes e petréis. “Trabalhamos em colaboração com os pescadores para entender quais são as áreas em que isso acontece mais e quantificar, ver quantas aves podem morrer em interação com a pesca.”
Gabriel Sampaio informou que, junto com o setor pesqueiro, o projeto desenvolve métodos, dispositivos e estratégias de pesca que reduzem o potencial impacto. Este é o principal objetivo do Projeto Albatroz e do Plano de Ação Nacional de Conservação dos Albatrozes e Petréis, do qual o projeto é o braço executivo. O projeto é coordenado pelo Instituto Albatroz, organização da sociedade civil de interesse público (Oscip).
De acordo com o Projeto Albatroz, as águas brasileiras abrigam cerca de 40 espécies de aves da ordem dos procellariiformes, aves que habitam o oceano aberto. O número representa um terço da diversidade global do grupo e mais de dois terços da diversidade no Oceano Atlântico.
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O estudo divulgado agora revelou a presença de quatro espécies de albatrozes-gigantes durante todo o ano na costa brasileira: albatroz-viageiro, albatroz-real-do-sul, albatroz-real-do-norte e o albatroz-de-Tristão (do arquipélago de Tristão da Cunha). “Isso mostra que as águas territoriais brasileiras são importantes para todo o ciclo de vida dessas aves; tanto para o período em que elas não estão com filhote no ninho, como no período em que têm filhote no ninho.”
Estações
A pesquisa apurou que, entre a primavera e o verão, houve registro de albatrozes-gigantes em 35,5% dos 285 lances de pesca amostrados e, no período de outono/inverno, em 44,1% dos 627 lances. Os padrões de frequência de ocorrência por espécie variaram sazonalmente: nos meses quentes, o grupo formado por albatrozes-viageiros e albatrozes-de-Tristão foi o mais frequente (17,5%) nos arredores dos barcos de pesca, seguido pelos indivíduos não identificados em nível de espécie (12,6%), albatroz-real-do-sul (4,2%) e albatroz-real-do-norte (1%).
Já nos meses mais frios, o grupo de espécie não identificada foi o mais frequente no entorno dos barcos de pesca monitorados (18,5%), seguido pelo grupo albatrozes-viageiros e albatrozes-de-Tristão (13%), albatroz-real-do-norte (6,5%) e albatroz-real-do-sul (6,2%).
Os albatrozes se apresentam em maior quantidade nos mares brasileiros durante o outono e o inverno. Tais aves aparecem em maior número e em maior quantidade de espécies nas águas brasileiras, inclusive de outros lugares, como a Nova Zelândia e a Austrália, disse o biólogo. Na primavera e verão, os albatrozes estão em período reprodutivo.
Extinção
Espécies oceânicas subantárticas, os albatrozes são aves que passam a maior parte da vida sobre o oceano e retornam às ilhas localizadas no Atlântico Sul e na Nova Zelândia, a cada um ou dois anos, para se reproduzir. O albatroz-gigante mede até 3,5 metros de ponta a ponta de asa. “É maior que o condor, que chega a 3,4 metros”. De acordo com Sampaio, praticamente todas as espécies de albatroz estão ameaçadas de extinção.
Vários fatores levam à ameaça de extinção desses animais. Um deles é a captura acidental na pesca, que o Projeto Albatroz trabalha para reduzir no Brasil. A frota de espinhel pelágico brasileira apresenta uma das maiores taxas de captura de aves marinhas do mundo. Estima-se que tal tipo de pesca de espinhel responda, em todo o mundo, pela morte de até 320 mil aves marinhas anualmente. Desse total, até 14 mil podem ocorrer em águas brasileiras, sendo 5 mil em pescarias de espinhel pelágico e 9 mil em pescarias de petrecho misto.
Outro fator é a introdução de espécies não nativas nas colônias de albatrozes-gigantes, tais como ratos, porcos e cabras, que destroem o ambiente e, muitas vezes, comem os filhotes das aves. “São as duas principais ameaças de extinção de albatrozes e petréis”, disse o biólogo.
Mudanças climáticas também contribuem para o risco de extinção. “Com a variação do clima, as condições ambientais nas colônias, principalmente, ficam muito modificadas, o que pode levar à destruição dos locais onde eles costumam fazer sua reprodução”. A poluição dos mares também é um problema, acrescentou Sampaio.
Educação ambiental
O Projeto Albatroz, que nasceu em 1990, em Santos, no litoral de São Paulo, visa ao desenvolvimento de pesquisas para subsidiar políticas públicas e promover ações de educação ambiental entre pescadores, jovens e escolas. “A gente tem uma conversa muito ampla e constante com a sociedade”, afirmou Gabriel Sampaio.
O trabalho feito nas escolas e redes sociais visa à formação de lideranças jovens na construção de saberes pela conservação marinha. Tal esforço tem resultado na formulação de medidas que protegem as aves, na sensibilização da sociedade quanto à importância da existência dos albatrozes e petréis para o equilíbrio do meio ambiente marinho e no apoio dos pescadores ao uso de medidas para reduzir a captura dessas aves no Brasil.
O projeto mantém, atualmente, bases nas cidades de Santos, Itajaí e Florianópolis, em Santa Catarina; Itaipava, no Espírito Santo; Rio Grande, no Rio Grande do Sul, Cabo Frio, no Rio de Janeiro, e em Natal, capital do Rio Grande do Norte.