Por Shirlei Camargo e Claudia Coser*
Todo ano, quando se aproxima o Natal, a icônica música da cantora Simone invade lojas, redes sociais, eventos e até nossa mente. Memes à parte, a frase “então é Natal, e o que você fez?” cai como uma luva quando falamos em Natal e consumo consciente. Nessa reta final, passamos por tantas datas comemorativas – tendo início com a Black Friday (no dia 24 de novembro) –, que somos quase instintivamente impelidos ao consumo excessivo.
A movimentação intensa do setor estimula, além da economia, a abertura de vagas em diversas áreas, desde produção, passando por logística e vendas. Contudo, à medida que essa prática de descontos e compras impulsivas se dissemina, tornam-se cada vez mais claros e preocupantes os impactos ambientais ligados a esse período de promoções, especialmente em um contexto de mundo que já consome recursos a uma taxa 75% mais rápida do que a capacidade de renovação da Terra (DW, 2022).
Segundo o neuromarketing, somos vítimas do viés conhecido como “efeito manada” e, nesse caso, para fazer parte do grupo, sentimos um forte desejo de nos comportar como os demais, ou seja, comprar compulsivamente.
Para além das óbvias implicações financeiras desses exageros, precisamos também pensar nas consequências para nosso planeta. Só para ilustrar, segundo o site de moda sem fins lucrativos Mimicry, anualmente, cerca de 54 milhões de dólares em presentes indesejados acabam nos aterros do Reino Unido.
Já nos Estados Unidos, um estudo da Universidade de Stanford, estimou que se cada família embrulhasse somente 3 presentes em materiais reutilizados, seria economizado papel suficiente para cobrir 45.000 campos de futebol. E ainda, se reutilizasse 60 centímetros de fitas decorativas, os 38.000 quilômetros de fitas economizados poderiam amarrar um laço ao redor do planeta.
Enquanto isso, a busca por preços mais baixos pressiona os fabricantes a reduzir custos na produção, resultando em produtos de qualidade inferior e a recorrência de práticas de produção em massa, frequentemente em condições precárias de exploração de trabalhadores, com salários inadequados e condições desumanas.
Esses produtos, com a vida útil mais curta e maior propensão a falhas, aceleram o ciclo de substituição e descarte, gerando mais resíduos sólidos do que somos capazes de descartar apropriadamente e contribuindo para a poluição visual, do solo e da água.
Estima-se que 104,6 milhões de pessoas devem ir às compras com o objetivo de se auto presentear em 2023. Em média, os consumidores pretendem comprar 4 presentes no Natal para dar a terceiros e o ticket médio será de R$ 138. Com isto, estipula-se movimentar na economia aproximadamente R$ 74,6 bilhões em vendas, noticiou o Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas.
Portanto, à medida que nos deparamos com os resultados adversos desse frenesi de compras, a reflexão torna-se fundamental nesse cenário, afinal, é urgente assumirmos um estilo de vida mais sustentável e isso inclui estar atento e consciente também na forma como presenteamos no Natal.
Então, seguem algumas dicas de como podemos minimizar os impactos negativos de nosso consumo nessa época festiva:
1) Embrulhar os presentes em um papel reciclável como o pardo, ou usar um lenço (que já vira um segundo presente), ou até reusar um papel de outro presente que você já ganhou (sim, guardar embalagens e papeis para usar depois é um excelente hábito)
2) Fazer uma boa reflexão para dar algo que a pessoa realmente valorize e use. Ela tem algum hobby ou interesse? Ela mencionou algo de que precisa recentemente? Que tipo de coisas ela costuma comprar para si? Essa atitude com certeza reduzirá a chance do presente ou “lembrancinha” acabar num lixão.
3) Comprar um item de segunda mão. Isto é especialmente importante para produtos eletrônicos. Há muitas pessoas vendendo esses produtos praticamente novos. Essa é uma excelente maneira de aliviar a pressão sobre nossos recursos do mundo.
4) Confeccionar os presentes. Caso você tenha algum talento com artesanato, costura ou culinária, que tal colocá-lo em prática. Nada mais valorizado que receber um presente feito a mão, totalmente personalizado.
5) Comprar presentes de empresas que têm iniciativas ecologicamente e socialmente corretas.
6) Realizar suas compras em comércios locais para incentivar os pequenos empreendedores e empreendedoras, diminuir os deslocamentos e, portanto, as emissões de carbono.
7) Seja a “Ovelha Sustentável” da família. É bem provável que você tenha que explicar os motivos para tais escolhas. Aliás, é uma boa saída para aquelas conversas familiares inconvenientes na Ceia de Natal. Pesquise sobre como podemos ser mais gentis com o planeta e com as pessoas.
Enfim, que tal aproveitar o Natal para modificar suas atitudes e responder à pergunta da música da Simone com um “Eu fui melhor com o planeta”. Afinal, não dá mais para ficar só reclamando e apontando o dedo para outros. Em meio às celebrações, que nossas escolhas ecoem não apenas a alegria dos presentes, mas também o compromisso com o futuro de nosso planeta.
*Shirlei Camargo é doutora em Administração pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e atua como Brand Manager da Plataforma Nobis.
*Claudia Coser é doutora em Administração e referência para ESG. Fundadora da Plataforma Nobis focada em projetos regenerativos socioambientais.