Desastres climáticos causaram prejuízo de US$2,97 trilhões em 20 anos

Em países de baixa renda, como as Fiji, que foram atingidas por um ciclone em 2016, as taxas de mortalidade são maiores/Foto: Ocha/Danielle Parry

Os primeiros 20 anos do século 21 foram marcados por um aumento “impressionante” dos desastres climáticos, segundo um novo relatório do Escritório da ONU sobre Redução de Risco de Desastres.

De acordo com a pesquisa, as nações ricas pouco fizeram para reduzir as emissões associadas a ameaças climáticas responsáveis pela maior parte desses eventos.

Vista aérea das áreas em Moçambique que foram afetadas por ciclone 

Consequências

De acordo com o relatório, houve 7.348 desastres em todo o mundo nas últimas duas décadas. Aproximadamente 1,23 milhão de pessoas morreram, cerca de 60 mil por ano. Além disso, mais de 4 bilhões de pessoas foram afetadas.

Essas duas décadas causaram US$ 2,97 trilhões em perdas para a economia global. Os dados mostram que as nações mais pobres tiveram taxas de mortalidade mais de quatro vezes superiores às economias mais ricas.

Em comparação, o período anterior de 20 anos, de 1980 a 1999, teve 4.212 desastres relacionados com desastres naturais. Estes eventos causaram 1,19 milhão de mortes e perdas econômicas de US$ 1,63 trilhão. Mais de 3 bilhões de pessoas foram afetadas.

Aumento

Um melhor registro explica a diferença nas últimas duas décadas, mas o aumento das emergências relacionadas ao clima foi a principal razão para o crescimento.

Para os autores do relatório, “esta é uma prova clara de que em um mundo onde a temperatura média global em 2019 era 1,1º C acima do período pré-industrial, os impactos estão sendo sentidos.”

Segundo eles, isso é evidente na maior frequência de ondas de calor, secas, inundações, tempestades de inverno, furacões e incêndios florestais.

As inundações foram responsáveis ​​por mais de 40% dos desastres, afetando 1,65 bilhão de pessoas, seguidas por tempestades, terremotos, e temperaturas extremas

As inundações foram responsáveis ​​por mais de 40% dos desastres, afetando 1,65 bilhão de pessoas, seguidas por tempestades, 28%, terremotos, 8%, e temperaturas extremas, 6%.

Esforços

Em comunicado, a representante especial do secretário-geral para Redução de Risco de Desastres, Mami Mizutori, disse que “as agências de gestão de desastres conseguiram salvar muitas vidas com uma melhor preparação e a dedicação de funcionários e voluntários.”

Apesar disso, Mizutori afirmou que “as probabilidades continuam sendo adversas, em particular devido a nações industrializadas que estão falhando miseravelmente na redução das emissões de gases de efeito estufa.”

Para a representante, é “desconcertante” que as nações continuem, de forma consciente, a plantar as sementes da sua destruição, apesar da ciência e das provas de que estão transformando sua única casa em um inferno inabitável para milhões de pessoas.”

Seca em Angola deixou famílias desesperadas e crianças sem tempo para educação/Foto: Unicef Angola/2019/Carlos César

Pandemia

O relatório também destaca a pandemia de Covid-19, dizendo que a situação “expôs muitas deficiências na gestão de risco de desastres, apesar de avisos repetidos.”

A pesquisa recomenda ação urgente para melhor gerenciar fatores de risco, como pobreza, poluição do ar, crescimento populacional em locais perigosos, urbanização descontrolada e perda de biodiversidade.

O estudo aponta riscos climáticos que se tornaram permanentes nas últimas décadas, afirmando que devem ser o foco de medidas de preparação nacional.

A mudança nos padrões de chuva, por exemplo, representa um risco para 70% da agricultura global e para 1,3 bilhão de pessoas que dependem da degradação de terras agrícolas.

Apesar destes eventos climáticos se terem tornado mais frequentes nos últimos 20 anos, apenas 93 países implementaram estratégias em nível nacional.

Leia também: A importância de ações climáticas nos sistemas alimentares

O mundo está a caminho de um aumento de temperatura de 3,2º C ou mais, a menos que os países industrializados consigam reduzir as emissões de gases de efeito estufa pelo menos 7,2% ao ano

Mami Mizutori disse que a resposta a este problema “depende da liderança política acima de tudo.” Para ela, a Covid-19 “é apenas a prova mais recente de que os políticos e líderes empresariais ainda não estão em sintonia com o mundo ao seu redor.”

O relatório destaca algum sucesso na proteção de comunidades vulneráveis, graças a sistemas de alerta precoce, preparação e resposta, mas realça que aumentos da temperatura em nível global devem tornar essas melhorias obsoletas em muitos países.

Dia Mundial

Neste 13 de outubro é marcado o Dia Internacional para Redução de Riscos de Desastres. Em mensagem sobre o dia, o secretário-geral da ONU afirma que “uma boa gestão do risco destes eventos significa agir com base na ciência e em provas.”

Para António Guterres, “isso requer compromisso político ao mais alto nível para cumprir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e a Convenção-Quadro de Sendai para a Redução do Risco de Desastres.”

Atualmente, o mundo está a caminho de um aumento de temperatura de 3,2º C ou mais, a menos que os países industrializados consigam reduzir as emissões de gases de efeito estufa pelo menos 7,2% ao ano na próxima década.

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