Primeira semana de corrida eleitoral é vazia no debate ambiental

Debate da Band realizado no domingo, 28 de agosto, teve raras menções aos temas ligados à sustentabilidade/Foto: TV Band

A última semana foi marcada pelo início oficial da corrida eleitoral, na qual a sociedade brasileira assistiu aos candidatos à presidência falarem sobre Amazônia, desmatamento e mudanças climáticas.

Se por um lado é positivo que o tema ambiental tenha sido citado nos debates e entrevistas, por outro, ainda preocupa o pouco espaço e a maneira como nossos futuros governantes encaram a Amazônia.

É preciso impedir o retrocesso

Apesar de pautada ao longo de toda a semana, a agenda ambiental ainda vem sendo tratada de maneira superficial e com pouca conexão com outros temas, como a economia, pelos presidenciáveis – e isso não é suficiente para reverter o atual cenário de crise climática e do grave contexto enfrentado pela população brasileira.

Para Mariana Mota, coordenadora de Políticas Públicas do Greenpeace Brasil, o próximo governo precisa de propostas mais ambiciosas para reverter o desmonte ambiental que assola o Brasil atual. “O próximo governo precisa se comprometer verdadeiramente em implementar uma reversão concreta nos rumos das políticas ambientais atuais, o que passa por priorização orçamentária, coordenação interministerial e ampla participação da sociedade civil para a construção e implementação das políticas públicas”, destaca.

Desde 2019, o Brasil vem colecionando recordes negativos de desmatamento e queimadas, que cresceu, respectivamente, em mais de 75% e 218% nesse período em comparação com 2018.

Na última segunda-feira (22), por exemplo, enquanto o presidente Jair Bolsonaro, candidato à reeleição, afirmou no Jornal Nacional que o ribeirinho “taca fogo”, a Amazônia registrava o maior número de queimadas em 15 anos. Foram 3.358 focos de incêndio em 24 horas.

O tema da devastação da floresta e os seus impactos na economia do país, no desenvolvimento social da região Norte e até na política internacional do Brasil não podem ser tratados com superficialidade.

Conheça o posicionamento de Mariana Mota, coordenadora de Políticas Públicas do Greenpeace Brasil, sobre os principais temas abordados na primeira semana da corrida eleitoral:

Agronegócio

“O país tem um modelo de produção agrícola que envenena a população para beneficiar o agronegócio, enquanto 33 milhões de pessoas estão em situação de insegurança alimentar grave no país. O governo atual bateu recorde de liberação de agrotóxicos, com mais de 1784 novas substâncias aprovadas, representando mais de 30% de todo histórico de 20 anos de registros. O Brasil precisa reverter esse modelo, e isso passa pelo fortalecimento da agricultura familiar, que realmente alimenta a população, e da agroecologia, que é uma importante solução para as atuais crises da fome e do clima.”

Fome

Se o próximo governo continuar negando o papel da agricultura familiar e da agroecologia, não haverá garantia de comida de verdade na mesa dos brasileiros. É preciso mudar o modelo atual que prioriza a exportação de commodities. Não é o agronegócio que alimenta o Brasil. Uma agricultura baseada na diversidade será a grande transformação na luta contra a fome.”

Desmatamento

“Se compararmos 2018 com 2021, vemos que o desmatamento da Amazônia aumentou em mais de 75% e os incêndios florestais aumentaram em 218%. Apesar dos dados, 97% dos alertas de desmatamento emitidos desde 2019 não foram fiscalizados. Esses números são um reflexo do desmonte atual das estruturas e de políticas públicas que promovem a proteção ambiental. Para o Brasil cumprir o compromisso no esforço global para limitar o aquecimento global a 1.5˚C, o próximo governo precisará reduzir, no mínimo, 60% do desmatamento até 2025.”

Clima

”Após décadas de alertas por parte de cientistas sobre a crise climática e seu impacto na vida das pessoas, esse tema precisaria ser mais debatido e os candidatos apresentarem propostas concretas. Cada decisão nos próximos anos precisa passar obrigatoriamente pelo envolvimento de múltiplos setores governamentais para que o compromisso do Brasil no esforço global para limitar o aquecimento global a 1.5˚C seja cumprido, sobretudo em um momento em que o Brasil tem aumentado sua emissão bruta, batendo em 2020 a maior desde 2006. Sem enfrentar a crise climática, não há como superar os demais males que ameaçam a vida dos brasileiros, como a fome.”

Energia

A conta de luz é uma das que mais pesam no orçamento das famílias brasileiras. Se hoje o consumidor paga 20% mais caro na conta de luz, comparado a 2020, é por conta de um modelo energético predatório que depende do acionamento das termelétricas. Além de ser muito poluente, é altamente impactado pelas secas. Um plano de governo comprometido com o povo brasileiro deve necessariamente incluir a transição energética para fontes de energia renováveis, como a solar e a eólica.”

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Saúde

“A saúde da população passa pelo meio ambiente protegido. Quanto mais desmatamento, mais chances de aparecimento de doenças, que podem se transformar em novas epidemias e pandemias que ameaçam a vida de toda a sociedade. O desmatamento atual tem batido sucessivos recordes, sendo em 2022 o maior dos últimos 15 anos. Só o desmatamento zero poderá garantir bem estar social e saúde dessa e das futuras gerações.”

Igualdade de gênero

As mulheres estão entre os grupos que mais sofrem os impactos da crise econômica, ambiental e climática que vivemos. E, em 2019, elas chegaram a 80% da participação na agricultura familiar, que é o que alimenta de fato a população brasileira, mostrando o papel incontestável das mulheres na soberania alimentar. Como uma parcela significativa dos brasileiros aptos a votar, elas têm atuação social e política determinante para o futuro do país e do planeta. As mulheres brasileiras precisam de candidatos e candidatas que representem os seus ideias e que as respeitem acima de tudo.”

Liberação de armas

“Os recentes assassinatos de Bruno Pereira e Dom Phillips mostram que o aumento da violência, estimulado pela facilitação do porte de armas, compromete a proteção do meio ambiente e coíbe os direitos dos povos indígenas. O Brasil é o quarto país que mais assassina ativistas ambientais no mundo e essa situação se agrava com uma política desenfreada de armar a população.”

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