É preciso mobilizar as lideranças políticas para superar as mudanças climáticas e acabar com a guerra contra a natureza. A opinião é do secretário-geral da ONU, António Guterres, e foi manifestada nesta quinta-feira, 22 de abril, em reunião virtual da Cúpula do Clima.
“A mãe natureza não está esperando. A última década foi a mais quente já registrada. Gases de efeito estufa perigosos estão em níveis nunca vistos em 3 milhões de anos. As temperaturas globais já subiram 1,2 grau Celsius, chegando a esse limiar da catástrofe”, disse Guterres, na cúpula, por videoconferência.
O chefe da ONU ressaltou que o nível do mar está cada vez mais alto, as temperaturas estão escaldantes, há ciclones tropicais devastadores e incêndios florestais épicos. “Precisamos de um planeta verde, mas o mundo está em alerta vermelho. Estamos à beira do abismo, devemos dar o próximo passo”, observou.
Para Guterres, os líderes mundiais devem construir uma coalizão global para emissões líquidas zero até meados do século, com envolvimento de “todos os países, todas as regiões, todas as cidades, todas as empresas e todos os setores”.
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Metas mais ambiciosas
“Todos os países, começando com os principais emissores, devem apresentar novas e mais ambiciosas medidas e contribuições para mitigação, adaptação e financiamento, definindo ações e políticas para os próximos 10 anos, alinhadas com as emissões líquidas zero até 2050. Precisamos traduzir esses compromissos em ação imediata concreta”, enfatizou.
Estados Unidos
Na Cúpula do Clima, o governo do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, prometeu cortar as emissões de gases de efeito estufa do país entre 50% e 52% até 2030, em comparação com os níveis de 2005. Com a nova meta, espera induzir outros grandes emissores a mostrarem mais ambição no combate à mudança climática.
China
O presidente da China, Xi Jinping, disse que o país – maior poluidor mundial – começará a reduzir o consumo de carvão no período 2026-2030, como parte de seus esforços para reduzir as emissões de gases de efeito estufa que causam o aquecimento do clima. A China pretende se tornar neutra em carbono até 2060.
Reino Unido
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, considerou o compromisso do presidente dos Estados, Joe Biden, um divisor de águas.
“Estou realmente emocionado com o anúncio de mudança de jogo que Joe Biden fez”, disse Johnson, elogiando Biden “por devolver os Estados Unidos à linha de frente da luta contra a mudança climática.”
Na terça-feira (21) Johnson havia anunciado que a Grã-Bretanha cortaria as emissões de carbono em 78% até 2035, a meta mais ambiciosa de mudança climática do mundo, que colocará o país no caminho para a emissão neutra.
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Brasil
O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, se comprometeu a alcançar, até 2050, a neutralidade zero de emissões de gases de efeito estufa no país, antecipando em dez anos a sinalização anterior, prevista no Acordo de Paris. “Entre as medidas necessárias para tanto, destaco aqui o compromisso de eliminar o desmatamento ilegal até 2030, com a plena e pronta aplicação do nosso Código Florestal. Com isso, reduziremos em quase 50% nossas emissões até essa data”, disse Bolsonaro em discurso na Cúpula de Líderes sobre o Clima.
A neutralidade zero (ou emissões líquidas zero) é alcançada quando todas as emissões de gases de efeito estufa que são causadas pelo homem alcançam o equilíbrio com a remoção desses gases da atmosfera, que acontece, por exemplo, restaurando florestas. De acordo com Bolsonaro, “como detentor da maior biodiversidade do planeta e potência agroambiental”, nos últimos 15 anos o Brasil evitou a emissão de mais de 7,8 bilhões de toneladas de carbono na atmosfera.
Bolsonaro disse ainda que é fundamental contar com os recursos financeiros de países, empresas, entidades e pessoas “dispostos a atuar de maneira imediata, real e construtiva na solução desses problemas”.
Posicionamento criticado
Esta posição do presidente da República, entretanto, foi bastante criticada por organizações ambientalistas brasileiras. “O governo pede dinheiro, mas tem US$ 3 bilhões parados no Fundo Amazônia, sem uso. Fazem isso para terceirizar a culpa. O problema não é falta de dinheiro, é falta de governo”, afirmou Márcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.
Por sua vez, o colunista do UOL, Leonardo Sakamoto, acusou Bolsonaro de ter mentido ao afirmar que, sob sua gestão, houve fortalecimento dos órgãos ambientais. “Apesar das limitações orçamentárias do governo, determinei o fortalecimento dos órgãos ambientais, duplicando os recursos destinados a ações de fiscalização”, disse na cúpula o presidente brasileiro. “Tanto o Ibama quanto o ICMBio vivem desafios diários para a realização de suas atividades impostos pelo presidente da República e pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles”, contrapôs Sakamoto.
Os artigos 5º e 6º do Acordo de Paris tratam sobre os procedimentos financeiros para alcançar a redução das emissões, tema que deverá ser debatido na 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, a COP26, que será realizada em novembro em Glasgow, na Escócia.
Com informações da Reuters e Agência Brasil.