“Financiamento climático não é caridade”, diz chefe da UNFCC na abertura da COP29

O secretário executivo da ONU para Mudanças Climáticas, Simon Stiell, faz discurso em Baku, Azerbaijão, na abertura da COP29. Atrás dele está uma imagem da devastação causada pelo furacão Beryl, que atingiu sua ilha natal, Carriacou, Granada, em julho passado/Foto: ONU/Kiara Worth

Por ONU News

A 29ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP29) começou na segunda-feira, 12 de novembro, em Baku, no Azerbaijão, em meio a novos recordes de calor e eventos climáticos extremos, contexto que reforça a necessidade por ações coletivas.

Na abertura do evento, o secretário executivo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), Simon Stiell, disse que é preciso “acabar com qualquer ideia de que o financiamento climático é caridade”.

Aumento da ambição no financiamento

Para Stiell, definir uma nova meta ambiciosa de financiamento climático é crucial para o bem-estar de todas as nações, incluindo as mais ricas e poderosas. Ele ressaltou que a mudança climática impacta “cada indivíduo no mundo de uma forma ou de outra”.

Em 2009, os países se comprometeram com investimentos de US$ 100 bilhões anuais, mas o valor é considerado muito menos do que o necessário para lidar com o rápido aumento das temperaturas do ar e do mar. Mesmo assim, muitas nações reclamam não ter recebido a contribuição.

Dirigindo-se aos negociadores da COP29, Stiell disse que a conferência é o único lugar onde os países podem “abordar a crise climática desenfreada e cobrar uns dos outros ações de resposta”.

Brasil pede “compromissos ousados” com proteção de florestas

Em entrevista à ONU News, em Baku, o secretário de Economia Verde, Descarbonização e Bioindústria do Brasil disse que há uma expectativa muito positiva em relação ao financiamento, “tanto para a mitigação de emissões como para a adaptação climática de infraestruturas e cidades”.

Rodrigo Rollemberg declarou que na COP30, que será sediada na cidade de Belém, no Brasil no próximo ano, o foco será no financiamento da preservação da floresta amazônica. Ele afirmou que os países desenvolvidos devem estar comprometidos em incluir o tema em suas respectivas contribuições nacionalmente determinadas.

Falando em inglês, o secretário ponderou que “se há um valor perdido no desmatamento, há também um valor a ganhar em manter a floresta em pé”. Nesse sentido, ele defendeu “compromissos ousados” de financiamento climático na preservação e restauração das matas.

Risco de colapso da economia

O chefe de Clima da ONU afirmou que o processo estabelecido pelas COPs está funcionando, pois sem ele “a humanidade estaria caminhando para 5°C de aquecimento global.”

Ele ressaltou toda a economia mundial pode entrar em colapso se os países não conseguirem fortalecer suas cadeias de suprimentos diante do aumento dos custos associados aos choques climáticos.

Stiell citou como exemplo a queda dos níveis de água no Canal do Panamá, que teve um impacto dramático nos volumes de transporte globais.

O secretário-executivo do Unfccc questionou os participantes da conferência se eles estavam dispostos a permitir que as contas de supermercado e energia em seus países aumentassem ainda mais, ou que suas nações se tornassem menos competitivas economicamente, ou que houvesse ainda mais instabilidade global.

Capacidade de cair e se levantar novamente

Ele seguiu o discurso dizendo que se a resposta a qualquer uma dessas perguntas fosse “não” é sinal de que um novo acordo de financiamento climático é essencial.

Stiell é natural de Granada e sua ilha natal, Carriacou, foi quase devastada pelo Furacão Beryl em julho. Ele mostrou a foto da sua vizinha Florence, de 85 anos, que perdeu a casa e se tornou mais uma dos milhões de vítimas do caos climático.

Segundo Stiell, mesmo com as perdas, ela se manteve forte para sua família e para sua comunidade. O secretário-executivo lembrou que existem pessoas como  Florence em todos os cantos do planeta, que revelam a capacidade humana de cair e se levantar novamente.

O furacão Beryl causou devastação na Union Island, em São Vicente e Granadinas/Foto: WFP/Fedel Mansour

Mundo mais imprevisível e perigoso para gerações futuras

O alto comissário de Direitos Humanos da ONU emitiu uma declaração em alusão à abertura da COP 29 afirmando que “um planeta superaquecido é o maior gerador de violações dos direitos humanos de todos os tempos”.

Volker Turk afirmou que em todo o mundo, as pessoas estão sendo forçadas à pobreza e à fome pelo caos climático.

Ele citou famílias que estão “vendo suas casas e meios de subsistência serem varridos por repetidas inundações”, tempestades e secas “apagando comunidades”. Para Turk, as gerações futuras herdarão “um mundo mais imprevisível e perigoso”.

O chefe de Direitos Humanos disse que enquanto os líderes “brigam e competem, o mundo está queimando”.

Enquanto isso, ativistas climáticos, defensores dos direitos humanos e jovens em todos os lugares estão mostrando verdadeira liderança, assumindo responsabilidades e destacando soluções, adicionou ele.

Temperatura acima de 1,54 C°

Com a abertura da COP29, a Organização Meteorológica Mundial, OMM, divulgou a Atualização do Estado do Clima em 2024 e emitiu um Alerta Vermelho sobre a mais rápida progressão das mudanças climáticas em uma única geração.

Os anos de 2015 a 2024 marcarão a década mais quente já registrada, com uma perda acelerada de gelo glacial, elevação do nível do mar e aquecimento dos oceanos.

De janeiro a setembro de 2024, a temperatura média global do ar na superfície foi 1,54 °C acima dos valores pré-industriais, de acordo com uma análise de seis conjuntos de dados internacionais usados ​​pela OMM.

O que observar na COP29?

  • No que está sendo chamado de “COP de financiamento climático”, espera-se que representantes de todos os países estabeleçam uma nova meta quantificada coletiva (NCQG). Ela substituirá a meta existente de US$ 100 bilhões que expira em 2025.
  • Os países estão buscando operacionalizar o ‘fundo de perdas e danos ‘ acordado na  COP28 e visto como o principal fundo internacional que abordaria os prejuízos inevitáveis ​​da mudança climática. Não está claro quando o fundo será lançado e começará a fazer pagamentos.
  • Espera-se que todos os países apresentem novas metas climáticas, os compromissos nacionalmente determinados, NDCs, até fevereiro de 2025, alinhados com o nível de redução de emissões necessário para limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C.
  • Os negociadores estão focados em completar as diretrizes necessárias para  operacionalizar completamente o Artigo 6 do Acordo de Paris, que permite que as nações cooperem voluntariamente para atingir as metas de redução de emissões delineadas em suas NDCs. Entre outras coisas, o Artigo 6 permitiria que elas trocassem créditos de carbono produzidos pela eliminação ou corte de suas emissões de gases de efeito estufa, auxiliando outras nações a atingir suas metas climáticas.
  • Os países devem enviar seus primeiros relatórios bienais de transparência, exigidos pelo acordo de Paris.

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