Por ClimaInfo
A 29ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP29) começa nesta segunda-feira, 11 de novembro, em Baku, no Azerbaijão, com a tarefa principal de desenrolar o emaranhado de fios que amarram o financiamento climático.
A missão, que já era árdua, ganhou mais dramaticidade com a vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos. E um gosto amargo com a denúncia de que um dos diretores da conferência estaria disposto a discutir investimentos em combustíveis fósseis.
Com a reunião de cúpula do G20 acontecendo simultaneamente à conferência do clima, vários líderes decidiram não ir ao Azerbaijão, optando pelo encontro no Rio de Janeiro. Além do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, não irão a Baku os líderes dos EUA, Joe Biden, da China, Xi Jinping, da Índia, Narendra Modi, da França, Emmanuel Macron, e da União Europeia, Ursula von der Leyen, lista a IstoÉ. Um esvaziamento que certamente impactará as negociações da COP29 e joga para o G20 a pressão de anunciar diretrizes efetivas para o clima.
Apesar do ponto de interrogação que o negacionismo de Trump traz para as negociações do clima, há quem aposte que será a hora da China assumir de vez um protagonismo nesse tabuleiro geopolítico, destaca a Folha.
Contribuição positiva
Seria uma maneira de se aproximar da União Europeia e outros países ricos, “que gostariam de se distanciar dos EUA de Trump” na questão climática, segundo Myllyvirta. No entanto, ele, que esteve na semana passada em Pequim, para reuniões e um seminário, descreveu chineses e europeus em campos opostos até o momento.
Outro fato que vem azedando a COP29 envolve o diretor executivo da conferência, Elnur Soltanov, discutindo “oportunidades de investimento” na Socar, empresa estatal de petróleo e gás fóssil do Azerbaijão, com um homem que se passa por um potencial investidor. “Temos muitos campos de gás que devem ser explorados”, diz Soltanov.
As falas constam de documentos e gravações secretas de vídeo feitas pela Global Witness e enviadas à BBC. Um dos representantes da organização abordou a equipe da COP29 se passando por chefe de uma empresa de investimentos fictícia de Hong Kong especializada em energia.
Ele disse que esta empresa estava interessada em patrocinar a COP29, mas queria discutir oportunidades de investimento na Socar, em troca. Assim, foi organizada uma reunião online com Soltanov, que também é vice-ministro de energia do Azerbaijão e está no board da estatal de petróleo do país.
Durante a reunião, Soltanov disse que o objetivo da conferência era “resolver a crise climática” e “fazer a transição dos hidrocarbonetos de forma justa, ordenada e equitativa”. No entanto, falou que estava aberto a discussões sobre acordos também – incluindo petróleo e gás fóssil.
Soltanov ainda afirmou que o futuro energético do país incluiria combustíveis fósseis “talvez para sempre”. E sugere que, mesmo com a meta de zero emissões líquidas, petróleo e gás continuariam a ser produzidos indefinidamente, relatam Um Só Planeta, Folha e Valor.
Não é um fato novo envolvendo conferência do clima e investimento em combustíveis fósseis. No ano passado, poucos dias antes da COP28, em Dubai, o presidente da conferência, Sultan al-Jaber, também foi acusado de aproveitar as negociações climáticas para defender os interesses da petroleira estatal ADNOC, dos Emirados Árabes Unidos.
As revelações foram feitas pela BBC e pelo Centre for Climate Reporting, do Reino Unido, que obtiveram documentos internos da equipe de al-Jaber que mostravam a “atuação dupla” dos representantes dos Emirados Árabes nas conversas preparatórias à Conferência de Dubai.
Novo modelo
Em tempo: para o físico e climatologista Paulo Artaxo, um dos principais especialistas brasileiros em mudanças climáticas, a meta de limitar o aumento da temperatura média global a 1,5°C só permanece na cabeça dos diplomatas e já caducou. “Este ano já vamos ter aumento de 1,5°C”, disse em entrevista no UOL. Às vésperas da COP29, no Azerbaijão, o integrante do IPCC ressaltou a urgência de um novo modelo de governança climática que realmente funcione.
“As COPs são os mecanismos adequados para que essas metas sejam negociadas e verificadas. No entanto, hoje elas não têm efeito prático porque existe apenas um sistema voluntário dos países de colocar quais mecanismos estão fazendo. Não existe um sistema de governança, não há nenhum mecanismo global de verificação de emissões”, ressaltou.