Foi aprovado na 29ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP29), encerrada em Baku, no Azerbaijão, no último final de semana, um acordo de US$ 300 bilhões por ano de apoio a países em desenvolvimento na luta contra a emergência do clima.
Em reação ao anúncio feito na manhã de domingo em Baku, o secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que “esperava um resultado mais ambicioso”.
Insatisfação com o volume de investimentos
Guterres afirmou que ainda assim, este acordo promove “uma base sobre a qual é possível construir”. Para ele, era fundamental que a conferência entregasse algum resultado, para manter viva a meta de limitar o aumento da temperatura global a 1,5° C.
Ele pediu que o acordo definido na COP29 seja “honrado integralmente e dentro do prazo” e que os compromissos “se traduzam rapidamente em recursos financeiros”.
As negociações climáticas em Baku terminaram com os países ricos se comprometendo a investir pelo menos US$ 300 bilhões em contraste com a demanda dos países em desenvolvimento, que buscavam mais de US$ 1 trilhão em apoio.
As nações mais vulneráveis ao caos climático chamaram o acordo de uma “ofensa”, alegando que ele não forneceu o volume necessário de recursos.
Organizações da sociedade civil também reforçaram as críticas ao resultado final da COP29 na parte financeira. “O acordo de financiamento fechado em Baku distorce a UNFCCC e subverte qualquer conceito de justiça. Com a ajuda de uma presidência incompetente, os países desenvolvidos conseguiram mais uma vez abandonar suas obrigações e fazer os países em desenvolvimento literalmente pagarem a conta”, avaliou Claudio Angelo, do Observatório do Clima.
Na mesma linha, Tasneem Essop, da Climate Action Network (CAN), acusou os países desenvolvidos de má-fé nas negociações em torno do financiamento climático. “Esta deveria ser a COP das finanças, mas o Norte Global apareceu com um plano para trair o Sul Global. No final, vimos a mesma história se desenrolar, com os países em desenvolvimento ficando com pouca opção a não ser aceitar um acordo ruim”, afirmou.
“[A nova meta] é uma amarga decepção. US$ 300 bilhões [anuais] até 2035 é muito pouco, muito tarde. Os países desenvolvidos chegaram em Baku com os bolsos vazios e vergonhosamente pressionaram os países em desenvolvimento a concordar. Mas essa meta de financiamento não vem com nenhuma garantia de que não será entregue por meio de empréstimos ou financiamento privado, em vez do financiamento público baseado em subsídios os quais os países em desenvolvimento precisam desesperadamente”, afirmou Tracy Carty, do Greenpeace International.
A manobra da presidência da COP29, ocupada pelo Azerbaijão, para aprovar o texto final também foi bastante criticada. “A inépcia da presidência azeri da COP29 em intermediar um acordo nesta COP de financiamento climático cairá na ignomínia”, destacou Rachel Cleetus, da Union of Concerned Scientists (UCS).
Mercado de carbono como vitória do multilateralismo
Os países também concordaram com as regras para um mercado global de carbono apoiado pela ONU. Esse mecanismo facilitará o comércio de créditos de carbono, incentivando os países a reduzir as emissões e investir em projetos ecologicamente sustentáveis.
O líder da ONU ressaltou que 2024 foi “um ano brutal”, marcado por temperaturas recordes e desastres climáticos, enquanto as emissões de gases do efeito estufa continuam aumentando.
Ele enfatizou que os países em desenvolvimento, “sufocados por dívidas, devastados por desastres e deixados para trás na revolução das energias renováveis, estão em necessidade desesperada por recursos financeiros”.
Guterres afirmou que a negociação sobre o mercado de carbono foi “complexa, em um cenário geopolítico incerto e dividido”. Ele elogiou o esforço para construir consenso, que considerou como uma demonstração de que o multilateralismo pode “encontrar um caminho mesmo nas questões mais difíceis”.
“Nunca desistiremos”
Para Guterres, o fim da era dos combustíveis fósseis é uma “inevitabilidade econômica”. Ele afirmou que as novas Contribuições Nacionalmente Determinadas, os planos climáticos de cada país, devem acelerar essa mudança e garantir que ela ocorra com justiça.
O chefe das Nações Unidas reconheceu os esforços de todos os delegados, jovens e representantes da sociedade civil que foram a Baku para pressionar por “máxima ambição e justiça”.
Ele pediu que essas vozes continuem ativas e contem com o apoio das Nações Unidas, que continuará lutando, “sem nunca desistir”.
Com informações da ONU News e do ClimaInfo