Com a participação de autoridades, acadêmicos, empresas e organizações da sociedade civil de todo o mundo, a Conferência dos Oceanos das Nações Unidas foi aberta nesta segunda-feira, 27 de junho, em Lisboa (Portugal).
O evento, organizado em parceria pelos governos de Portugal e Quênia, busca ampliar os compromissos entre os países para aumentar a cooperação e o investimento em soluções inovadoras baseadas na ciência, destinadas a iniciar um novo capítulo na ação global pelo bem do oceano. A programação segue até sexta-feira, 1º de julho.
“O evento tem potencial para ser um marco na mobilização em torno da necessidade de buscar soluções para um oceano limpo, resiliente, saudável e sustentável. Sabemos que as políticas públicas têm papel fundamental nessa busca, mas também precisamos ampliar a cooperação com diferentes atores sociais, compartilhando diferentes saberes e experiências”, afirma Omar Rodrigues, gerente sênior de Engajamento e Relações Institucionais da Fundação Grupo Boticário.
Esta é a segunda conferência da ONU dedicada ao oceano. A primeira foi realizada em 2017, em Nova York, ano em que as Nações Unidas declararam o período de 2021 a 2030 como a Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável.
Avanços e compromissos
“Desde a primeira conferência, houve avanços e compromissos importantes, especialmente em relação à redução do uso de plástico descartável em diversos países e nos instrumentos para aprimorar a gestão da pesca, coibindo práticas predatórias. A economia azul, que pressupõe um desenvolvimento sustentável das diversas atividades econômicas que dependem diretamente do mar, também está ganhando cada vez mais relevância”, analisa Ronaldo Christofoletti, membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN) e professor do Instituto do Mar da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
O professor, que também é assessor de Comunicação para a Década do Oceano no Brasil, defende o engajamento de todos os setores interessados em um oceano saudável, incluindo as comunidades tradicionais, iniciativa privada, sociedade civil e o poder público. “
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Oceano saudável
Todos somos influenciados pelo oceano, ainda que não tenhamos consciência disso. Basta lembrar que mais de 50% do oxigênio que respiramos vem das algas marinhas e o clima do planeta depende muito dos mares. Um oceano saudável é fundamental para a economia, alimentação, turismo, transporte, entre outros aspectos. Sem falar na saúde, no bem-estar, na cultura e na tradição”, observa o pesquisador.
Durante o evento em Portugal, os participantes devem fazer um balanço sobre o avanço das metas relacionadas ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 14 – Vida na Água, que busca conservar e usar de forma sustentável o oceano, mares e os recursos marinhos para o desenvolvimento. Os 17 ODS, estabelecidos em 2015, integram a Agenda 2030 da ONU.
Além da programação dedicada aos governos, dezenas de eventos paralelos estão previstos na Conferência, envolvendo universidades, empresas, ONGs e fundações que também devem assumir compromissos.
“Apesar da extrema importância do oceano para a vida no planeta, segundo dados do Relatório Mundial sobre a Ciência Oceânica da Unesco, os gastos com estudos sobre o assunto somam, no máximo, 4% dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento no mundo. Precisamos encontrar formas de ampliar esse suporte”, pontua Janaína Bumbeer, especialista em Conservação da Biodiversidade da Fundação Grupo Boticário.
Ela lembra que a instituição, reconhecida pela Unesco e pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Informação como representante da sociedade civil da Década do Oceano no Brasil, destina cerca de 25% do total de investimentos em pesquisa científica para ecossistemas marinhos e regiões costeiras em todo o Brasil.
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Respostas e soluções
Para Alexander Turra, professor titular do Instituto Oceanográfico da USP, responsável pela Cátedra UNESCO para Sustentabilidade do Oceano e também membro da RECN, a conferência em Portugal deve reforçar a importância de buscar respostas científicas e soluções inovadoras em diferentes áreas.
“Será um momento crucial para fortalecermos as articulações, parcerias e ações para a efetiva implementação do ODS 14, mas também para iniciarmos a pactuação da agenda pós-2030, tendo o oceano como elemento central da sustentabilidade global”, frisa o pesquisador.
Consequências das ações humanas
O professor aponta ainda que a ciência e a inovação devem guiar a construção de planos estratégicos dos países para o futuro da aquicultura, pesca, novos alimentos, fármacos, turismo, transporte marítimo e energia renovável, entre outros temas.
Conforme alerta a Segunda Avaliação Global do Oceano, publicada pela ONU em 2021, as pressões provocadas pelas atividades humanas estão causando elevação do nível do mar, acidificação da água, perda da capacidade dos mares em absorver carbono, destruição de hábitats, pesca não sustentável, invasão de espécies exóticas, formas variadas de poluição e desenvolvimento costeiro desordenado.