Houve um tempo em que o valor de uma baleia era calculado pela quantidade de barris de óleo que um animal podia render quando morto, e milhões de baleias foram massacradas para fornecer iluminação pública, lubrificantes e parte da argamassa usada para erguer as grande igrejas e prédios públicos dos séculos 18 e 19, ainda visíveis nos centros históricos das cidades brasileiras.
Toda essa riqueza temporária gerada pela caça à baleia ao longo de séculos, entretanto, empalidece diante do valor de uma baleia viva nos tempos atuais de emergência climática e da necessidade de restaurar o equilíbrio dos ecossistemas costeiros para gerar e manter mais emprego e renda.
Como protetores da população remanescente de baleias-jubarte que se reproduz ao longo da costa do Brasil e que vem se recuperando depois da proibição da caça em 1987, estando já próximas dos seus números originais, os pesquisadores do Projeto Baleia Jubarte se entusiasmaram com os estudos de uma equipe de economistas do Fundo Monetário Internacional (FMI), que avaliou recentemente o valor global das grandes baleias em cerca de um trilhão de dólares norte-americanos em serviços ecossistêmicos, tais como sequestro de carbono e fertilização dos oceanos, além do uso não-letal ´por meio do Turismo de Observação de Baleias.
Os pesquisadores brasileiros se comunicaram com seus parceiros nos Estados Unidos, a organização Great Whale Conservancy (GWC), para buscar apoio dos economistas do FMI e conduzir uma estimativa de quanto poderiam valer as baleias do Brasil, que abrangem oito espécies totalmente protegidas em águas brasileiras, incluindo residentes como cachalotes ou migratórias como as jubartes.
Metodologia
As duas ONGs reuniram uma equipe de especialistas para examinar a questão, incluindo economistas do
FMI e da Universidade Duke que participaram no estudo global anterior. Primeiro, eles estimaram os
números remanescentes de baleias em águas brasileiras com base em estudos existentes e dados sobre
proporção de cada espécie no censo global de baleias.
Eles então calcularam os valores dos serviços oferecidos pelas baleias – ecoturismo, sequestro de carbono, e estímulo ao crescimento do fitoplâncton (portanto da produtividade dos oceanos, que aumenta a produção pesqueira e ajuda a capturar enormes quantidades de dióxido de carbono) – baseado nas mais recentes pesquisas científicas e econômicas. Uma vez que, graças à proteção legal, espera-se que as baleias voltem no futuro a recuperar plenamente suas populações, projeta-se que esses serviços devam ainda crescer e atingir valores ainda maiores.
Décadas de serviços
Por fim, utilizando as ferramentas de Economia Financeira, a equipe converteu os valores de décadas desses serviços em uma soma que representasse o valor das baleias atualmente vivendo em águas brasileiras.
Da mesma forma que o cálculo global surpreendeu os economistas, também este impressiona pela
magnitude: as baleias protegidas pela jurisdição brasileira foram avaliadas em cerca de US$ 82,5 bilhões.
Segundo Eduardo Camargo, coordenador-geral do Projeto Baleia Jubarte, patrocinado pela Petrobras por
meio do Programa Petrobras Socioambiental, “o fato de que uma grande parte desse valor se refere à
contribuição das baleias para o armazenamento e ciclagem de carbono nos oceanos pode ser um fator
muito importante para o papel efetivo do Brasil no esforço global para combater as mudanças climáticas
e restaurar o equilíbrio dos ambientes marinhos. A recuperação das populações de baleias no Brasil
ocorreu como resultado de políticas públicas em longo prazo desenvolvidas numa colaboração entre a
sociedade civil, diversos governos ao longo do tempo, e outros países da nossa região. Além de
demonstrar os resultados ambientais e econômicos dessas políticas para o mundo, devemos tirar disso
outras lições que sejam relevantes para lidar com outros desafios climáticos no Brasil e no mundo”.
Números subestimados
Camargo ainda salientou que os números utilizados para as populações de baleias no Brasil estão
provavelmente subestimados pela falta de dados, e que mais trabalho de campo em nossas águas é
necessário para que se tenha valores mais detalhados, que poderão ser ainda mais expressivos que os
apontados nesse estudo preliminar.
O Dr. Connel Fullenkamp, economista e professor da Universidade Duke, acredita que “o Brasil é um
excelente estudo de caso sobre o valor econômico dos recursos naturais, e como esse valor pode ser
preservado e aumentado pelo trabalho de projetos como o Baleia Jubarte”.
Iniciativas nacionais
A equipe de especialistas também reiterou a importância das iniciativas nacionais empreendidas pelo
Projeto Baleia Jubarte voltadas a prevenir e reduzir a mortalidade acidental de baleias em redes de pesca
e por colisões com embarcações. “A Great Whale Conservancy espera que o Brasil continue seus
excelentes esforços para eliminar as mortes acidentais de baleias em suas águas, dando um exemplo de
liderança para todas as nações do planeta. Assim, as baleias poderão seguir se recuperando
numericamente e com isso ajudando cada vez mais a mitigar os efeitos das mudanças climáticas”, disse
Michael Fishbach, diretor-executivo da GWC.
O Projeto Baleia Jubarte e seus parceiros pretendem agora publicar um artigo científico sobre a valoração
das baleias brasileiras como recurso econômico e levar os resultados do estudo ao conhecimento das
autoridades ambientais e econômicas do País, com vistas a não apenas consolidar a política de Estado
brasileira de proteção integral das baleias, mas também ajudar a conscientizar os tomadores de decisão
sobre a importância do “carbono azul” nas negociações globais sobre o clima e a conservação dos
oceanos.