Talvez você não saiba, mas o seu smartphone, computador ou videogame tem boas chances de ter um passado sangrento – atado à mineração do tântalo, metal raro que financia a guerra na República Democrática do Congo. Ao relatar sua trajetória, o ativista e refugiado político Bandi Mbubi nos faz um vibrante chamado para a ação.
Para trazer o assunto ao público, ele pede que todos os presentes peguem seus celulares e pensem em como seria um mundo sem aqueles aparelhos, que ele chama de “símbolo de um mundo interconectado”.
Foi essa tecnologia que possibilitou a cidadãos de diversas partes do mundo compartilharem graves problemas locais, como as eleições antidemocráticas do Congo ou a Primavera Árabe. “O celular deu às pessoas, mundo afora, uma ferramenta importante na direção da liberdade política. Ele, verdadeiramente, revolucionou a forma como nos comunicamos no planeta”, diz o ativista.
O problema, segundo Mbubi, é que essa mesma ferramenta essencial para a comunicação no mundo de hoje “deixa uma trilha de sangue” no caminho que faz até chegar em nossas mãos, e tudo por causa de um mineral: o tântalo, extraído no Congo e usado como condutor de calor anticorrosão.
Sofrimento humano
“Infelizmente, o que seguram nas mãos não apenas possibilitou um incrível desenvolvimento tecnológico e uma expansão industrial, mas também contribuiu para um sofrimento humano inimaginável”, lamenta.
Mbubi conta que, desde 1996, mais de 5 milhões de pessoas morreram no Congo por conta dos conflitos, “incontáveis mulheres, homens e crianças foram raptados, torturados ou escravizados. Estupro é usado como arma de guerra, instaurando o medo e despovoando grandes áreas. A busca pela extração desse mineral não apenas auxiliou, como alimentou, a guerra já em andamento no Congo”, diz.
Alguns avanços
Apesar de não existir uma solução definida para o problema, o palestrante lembra que muito progresso já foi feito, como leis nos Estados Unidos e Reino Unido que tentam limitar o suborno e a má administração no Congo, e novas posturas internas de empresas como a Nokia, que recentemente revelou uma política focada no abastecimento mineral do país.
“Há ainda uma petição à Apple para fazer um iPhone livre de conflitos, campanhas se espalhando pelos campi universitários para que suas universidades sejam livres de conflito. Mas ainda não chegamos lá. Precisamos continuar colocando pressão nas empresas de celular para mudar seu processo de abastecimento. É hora de exigirmos comércio justo de celulares. Essa é uma ideia que vale a pena semear”, conclui.
Assista abaixo à palestra na íntegra (para ver com legenda em português, selecione a opção ao lado do play):