Um retorno de investimento com mediana de 15,8%, podendo alcançar 28,4% ao ano: esta é uma das principais conclusões da análise de 40 projetos de plantio de árvores nativas brasileiras em quatro dos seis biomas brasileiros.
O estudo constatou ainda que modelos produtivos com espécies nativas podem retirar de 6,7 a 12,5 toneladas de dióxido de carbono equivalente da atmosfera por hectare ao ano. Eles também reduzem a erosão do solo, melhorando a qualidade da água que chega aos rios e reservatórios.
Liderado pelo Força-Tarefa Silvicultura de Espécies Nativas da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, com apoio e coordenação do WRI Brasil, o estudo avaliou 40 casos implementados ou apoiados por 30 diferentes agentes econômicos – desde agricultores familiares a parcerias com finalidade experimental, bem como empresas rurais. Juntos, eles ocupam mais de 12 mil hectares em oito estados, com predominância nos dois principais biomas florestais do Brasil, Amazônia e Mata Atlântica.
“Há um enorme potencial para os produtos florestais brasileiros nas cadeias produtivas nacionais e globais. No caso do mercado de madeira tropical, por exemplo, menos de 10% da produção mundial tem origem no Brasil”, explica Miguel Calmon, líder da Força-Tarefa Silvicultura de Espécies Nativas da Coalizão Brasil.
A análise se concentrou em três diferentes modelos que possibilitam o cultivo de árvores nativas brasileiras: a silvicultura de espécies nativas, os sistemas agroflorestais (SAF) e o sistema integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF). Ao todo, os 40 casos avaliados cultivam mais de 100 espécies florestais e agrícolas, entre nativas e exóticas.
Um desses casos é da Agro Industrial Ituberá, empresa pioneira na heveicultura na Bahia, com atuação principal no beneficiamento de borracha natural. Atualmente, está diversificando a produção com novas culturas. O caso analisado é de uma área de 60 hectares do consórcio cacau-seringueira-banana, desenvolvido pela Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac).
As seringueiras são plantadas em blocos duplos, com o cacau na zona intermediária. Isso propicia uma insolação plena do cacau nos primeiros anos e posterior sombreamento ao atingir a idade juvenil, que são requisitos dessa espécie.
A produção plena do cacau se inicia aos quatro anos e a seringueira, aos sete. A banana é inserida nas entrelinhas do cacau, produzindo do ano 1 ao 4 e propiciando retorno econômico no curto prazo. O consórcio entre banana e cacau também é usado pelo Instituto Arapyau, que conduz duas modelagens com cacau no sul da Bahia: cabruca e SAF.
Projeto busca salvar araucárias da extinção
Em Teixeira de Freitas, a reNature e Viveiro Anauá desenvolvem arranjos de SAF com cacau, empregando espécies nativas ameaçadas de extinção e com alto potencial madeireiro. A expansão esperada para até 40 hectares beneficiará pessoas de grupos quilombolas, indígenas e locais.
Outro caso avaliado na Bahia é o da Fazenda Limeira. O plantio experimental visa propor alternativas de uso da terra para a região da Chapada Diamantina com regeneração ambiental, geração de renda e segurança alimentar. O experimento produziu alimentos nos primeiros anos de produção e tem gerado informações silviculturais sobre o desenvolvimento de 30 espécies arbóreas de valor madeireiro.
Em Valença, a Sucupira Agroflorestas – empresa produtora de madeiras nobres e alimentos orgânicos em agroflorestas sucessionais de elevada biodiversidade – implantou 45 hectares de uma agrofloresta sucessional consorciada com 18 espécies produtivas e duas adubadeiras.
Em Porto Seguro, a Symbiosis desenvolveu um plantio florestal multiespecífico. As plantações combinam de quatro a seis espécies separadas em parcelas e em linhas. Sua produção é comercializada para indústria e madeira nobre serrada e de produção de móveis.
O estudo também avaliou dois projetos de ILPF do Adapta Group: o sistema silvipastoril com cordeiro e o sistema silvipastoril com pecuária leiteira, ambos localizados na Bacia do Jacuípe e território do Sisal. Eles se baseiam em melhores práticas de manejo de pastagens, alimentação e genética animal, gestão da propriedade rural e uso de árvores integrados ao sistema produtivo e para recuperação ambiental. Os módulos mínimos implantados com pequenos produtores têm o objetivo de prover ao menos dois salários mínimos por módulo.
“O Brasil tem mais de 90 milhões de hectares de pastagem com algum nível de degradação. Desse total, mais de 40 milhões encontram-se em estado severo. O que este estudo mostra é que essa imensa fronteira que exige restauração pode ser uma oportunidade rentável de investimento para o produtor”, destaca Daniel Soares, analista de investimento do WRI Brasil e um dos autores do estudo.
Os resultados
A avaliação econômica dos 40 projetos mostrou que as taxas internas de retorno (TIR) dos investimentos variam de 2,5% a 28,4% ao ano, com mediana de 15,8%. Com exceção de dois casos, todos os resultados mostram TIR superior a 9% – percentual competitivo na comparação com outras atividades agropecuárias.
A rentabilidade para o produtor é também um indicativo de que o Brasil tem uma grande oportunidade de gerar emprego e renda se aumentar e der escala a atividades de silvicultura de espécies nativas na produção de madeira, óleos vegetais, alimentos como castanhas, frutas e diversos outros produtos florestais.
Além da taxa de retorno do investimento, o produtor ainda se beneficia dos serviços ambientais oferecidos pelas espécies nativas, tais como melhora dos recursos hídricos e aumento da resiliência e produtividade de outras atividades que podem ser consorciadas com as árvores.
A remoção de carbono da atmosfera, por sua vez, é um benefício para todo o planeta, mas também pode contribuir com o fluxo de caixa do produtor, já que oportunidades no mercado de carbono vêm ganhando impulso mundialmente.
A análise dos 40 casos de produção envolvendo árvores nativas brasileiras foi feita com a Ferramenta de Investimento Verena, do WRI Brasil, com base em um modelo financeiro de fluxo de caixa descontado. As informações para compor os modelos financeiros foram fornecidas pelos executores e parceiros dos casos.
As principais informações para fazer a análise econômica e financeira foram a produtividade esperada para cada espécie, os custos de implementação e manutenção e as despesas administrativas. O custo de oportunidade da terra foi baseado no valor da terra, em reais por hectare, referente ao uso e ao município mais próximos ao caso.
A avaliação um a um dos casos mostrou que o investimento necessário e o retorno variam entre os modelos. A silvicultura de nativas, em geral, requer maior exposição de caixa e um período maior para que o investimento cumpra o retorno esperado. Os SAFs e sistemas ILPF, os quais incluem culturas agrícolas ou pecuária, permitem antecipar a entrada de caixa.
Para a análise de carbono, utilizou-se o GHG Protocol Florestas e Sistemas Agroflorestais. A silvicultura de nativas mostrou potencial para retirar 12,5 toneladas de dióxido de carbono equivalente da atmosfera por hectare ao ano (tCO2eq/ha/ano). Os sistemas agroflorestais, por sua vez, mostraram potencial de remover 6,7 tCO2eq/ha/ano. O estudo não quantificou a remoção de carbono dos sistemas ILPF.