[Artigo] Como transformar nossos sistemas alimentares?

O acesso a alimentos seguros e nutritivos é uma parte essencial da resposta à COVID-19, particularmente para as comunidades mais pobres e vulneráveis.
Foto | Dan Gold / Unsplash

Por Rafael Zavala, Claus Reiner, Daniel Balaban e Christian Fischer*

Apesar de o direito humano à alimentação adequada estar contemplado no artigo 25 da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, a fome no mundo — considerada a partir de uma estimativa do número de pessoas que não consomem calorias suficientes para viver uma vida ativa e saudável— vem aumentando nos últimos anos.

Projeções indicam que, até 2030, quase 67 milhões de pessoas serão afetadas por essa situação, ou seja, cerca de 20 milhões a mais do que em 2019. Isso evidencia que precisamos unir ainda mais nossos esforços e fazer mais. Transformar os sistemas alimentares como um todo é fundamental para que possamos obter melhores resultados e reverter esse quadro.

É diante desse contexto desafiador que chegamos a mais uma celebração do Dia Mundial da Alimentação. No Brasil, quatro agências das Nações Unidas se reuniram para celebrar a data e promover novas e melhores formas de produzir e consumir alimentos: o Centro de Excelência contra Fome do Programa Mundial de Alimentos (WFP); o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida); o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (Iica); e a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).

Preservar o acesso a alimentos seguros e nutritivos é — e continuará a ser — uma parte essencial da resposta à Covid-19, particularmente para as comunidades mais pobres e vulneráveis, que são as mais afetadas pela pandemia e pela crise econômica. Agora, mais do que nunca, os sistemas das Nações Unidas e Interamericano pedem solidariedade internacional para os mais vulneráveis se recuperarem e que os sistemas alimentares sejam fortalecidos de forma mais sustentável e resiliente. A comida é a essência da vida e a base de nossas culturas e comunidades.

Em um momento como este, é importante reconhecer a importância daqueles heróis da alimentação que, todos os dias, trabalham para que os alimentos cheguem até o prato dos brasileiros e brasileiras, desde a produção até a distribuição e comercialização.

Este é também o momento de repensarmos nossos sistemas e ampliarmos o uso de práticas agrícolas inteligentes e ecológicas que incorporem inovação e digitalização para a redução da destruição do habitat, que contribui para surtos de doenças. Portanto, a comunidade internacional precisa fechar a lacuna digital e garantir que a tecnologia flua para os países em desenvolvimento, incluindo também os agricultores familiares.

Além disso, empresas do setor privado ligadas ao setor de alimentos e varejo precisam tornar as opções de alimentos sustentáveis atraentes, disponíveis e financeiramente acessíveis. Todos nós precisamos fazer nossa parte para que nossos sistemas alimentares sejam capazes de cultivar uma variedade de alimentos para nutrir a população e preservar o planeta.

Já os governos precisam construir respostas de proteção social eficazes e políticas que garantam condições seguras e rendimentos decentes para pequenos agricultores e trabalhadores da cadeia alimentar, além de adotar medidas que evitem a volatilidade dos preços dos alimentos.

Para conter os efeitos da Covid-19 entre as populações mais vulneráveis, deve haver coordenação estratégica de políticas nas áreas de saúde, agricultura e proteção social.

A crise econômica, que se amplia em decorrência da pandemia, terá efeitos devastadores sobre as populações mais vulneráveis. É preciso agir rapidamente, pois uma resposta tardia pode criar efeitos colaterais globais.

O melhor caminho para isso é praticar a solidariedade e a cooperação como mecanismos para reconstruir melhor, tornando os sistemas alimentares mais resistentes a impactos e mais sustentáveis por meio da natureza e de soluções baseadas na ciência. Isso significará o estabelecimento de medidas políticas e marcos legais que apoiem sistemas alimentares sustentáveis.

Precisamos começar a agir agora para garantir que esses avanços aconteçam no futuro. Mãos à obra!

*Rafael Zavala (representante da ONU para a Alimentação e a Agricultura), Claus Reiner (diretor de país do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola), Daniel Balaban (diretor do Centro de Excelência contra a Fome do Programa Mundial de Alimentos) no Brasil e Christian Fischer (representante do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura).

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