[ARTIGO] Meninas e Mulheres na Ciência

As mulheres representam, segundo relatório da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), menos de 30% dos pesquisadores e cientistas de todo o mundo

Por Nelzair Vianna*

Desde 2015, a partir de uma iniciativa da Unesco e ONU, comemora-se em 11 de fevereiro o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência. Um dia para comemorar ou reivindicar? Diria que especialmente um dia para lembrar a luta que as mulheres enfrentaram e enfrentam até hoje para ocupar seu espaço num meio de acentuada desigualdade de gênero.

Desde tempos remotos a mulher contribui de forma significativa para a ciência, mas infelizmente seus nomes não têm sido associados às grandes descobertas da humanidade que tiveram mulheres como protagonistas, em todas as áreas de conhecimento.

São muitos exemplos. Só para citar alguns: a primeira pessoa a criar um programa de computador foi uma mulher, a Ada Lovelace, matemática e escritora, ainda no século 19, assim como a descoberta do cromossomo X e Y, que determina o sexo feminino e masculino (Nettie Stevens, geneticista).

Mulheres também aparecem como pioneiras em pesquisas sobre radioatividade, contemplada com premio Nobel (Marie Curie, Física e Química). Contribuiu para o desenvolvimento de drogas para tratamento de câncer, Aids, herpes e outras doenças (Gerirude Elion, farmacologista e bioquímica), descoberta da estrutura da penicilina, vitamina B12 e Insulina (Dorothy Hodking, bioquímica) modelos atômicos (Maria Geoppert-Mayer, física), descoberta do campo da álgebra (Emmy Noether, matemática e física), dentre tantas outras descobertas importantes.

Muitas mulheres já até permitiram que seus trabalhos fossem assinados por homens ou mesmo se escondiam atrás de pseudônimos. Culturalmente, o papel da mulher sempre foi estimulado à vida doméstica. Historicamente, o acesso as universidades era restrito. Felizmente, muito se avançou neste aspecto, em termos de acesso.

Entretanto, as mulheres representam, segundo relatório da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), menos de 30% dos pesquisadores e cientistas de todo o mundo. No Brasil, faltam números mais precisos sobre a ocupação como cientistas e distribuição nas diversas áreas, mas temos alguns relatórios, como o do Ipea (Instituto de pesquisa Econômica e Aplicada), que apontam, por exemplo, que 54% dos estudantes de doutorado são mulheres e menos de 30% dos pesquisadores cientistas são mulheres.

Dra. Nelzair Vianna é especialista em Saúde Pública

Dados da Plataforma Lattes levantados pela Open Box da Ciência, revelam que as mulheres representam 40% das pesquisadoras com doutorado. Uma detalhada descrição deste cenário é trazido pelo lançamento do relatório intitulado Menina Hoje, Cientista Amanhã, lançado hoje pela OBSMA – Organização das Olimpíadas Brasileiras de Saúde e Meio Ambiente da Fiocruz.

Além da compilação destes dados, o relatório discute ainda a desigualdade de gênero neste campo. Em muitos cursos universitários as mulheres tem representado maioria, entretanto, os espaços de poder em todas as áreas são ocupados na grande maioria por homens.

O que naturalmente se observa é uma decrescente atuação feminina à medida que avança na vida profissional, na maioria das vezes participando apenas como coadjuvantes em grupos de pesquisa predominantemente liderados por homens. Não faz sentido observar a curva inversa em posição de poder, considerando que a mulher representa uma maior força de trabalho em números e demonstra capacidade intelectual competitiva para ocupar posições de liderança.

A astronauta, educadora e médica, primeira mulher afro-americana numa viagem espacial, Mae Jemison, disse sabiamente – a primeira coisa sobre empoderamento é entender que você tem o direito de ser envolvido, a segunda é que você tem alguma coisa importante para contribuir e a terceira é que você precisa assumir o risco para que isto aconteça.

Então, mais do que nunca, é tempo de lutar para diminuir as gritantes desigualdades, incentivar mais mulheres e meninas a se dedicarem a carreira de cientista, exigir participação e políticas de conscientização e promoção de igualdade de gênero na ciência, ampliando a possibilidade de soluções para os diversos problemas que atingem a humanidade. Ciência é a esperança de futuro!

*Nelzair Vianna é pesquisadora em Saúde Pública da Fiocruz.

Leave a Comment

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

*