Por Eduardo Athayde*
Quando o Papa Gregório XIII introduziu seu calendário gregoriano, em 1582, adiantando a data em 10 dias, passando o dia seguinte da quinta-feira, 4 de outubro de 1582, para sexta-feira, 15 de outubro do mesmo ano; a Europa resistiu mantendo o antigo calendário Juliano, implementado por Júlio César em 46 a.C. Mais de 300 anos passaram para que todos os países adotassem o calendário gregoriano, hoje usado na maior parte do mundo.
Na Grã-Bretanha a adoção do calendário gregoriano gerou tumultos e protestos. Os cidadãos ingleses reagiram quando o parlamento adiantou o calendário durante a noite de 2 de setembro para 14 de setembro de 1752, indo às ruas e exigindo que o governo “nos desse nossos 11 dias de volta”.
Do outro lado do Atlântico, Benjamin Franklin (1706 -1790), fundador da Universidade da Pensilvânia, deu as boas-vindas à mudança: “É agradável para um homem idoso poder ir para a cama em 2 de setembro e não ter que se levantar até 14 de setembro”. A Grécia foi o último país europeu a adotar o calendário gregoriano em 1923.
Nesta terceira década do Século XXI, a pandemia, que paralisou o mundo, parece mexer no calendário dando a sensação de aceleração da história. Antecipando tecnologias, a inteligência artificial mudou modos de vida, esvaziou escritórios e o trânsito, desmetropolizando cidades.
De repente o home-office removeu carros descarbonizando pulmões e centros urbanos. 2020 fluiu como um hiato sem lógica nem explicação, abateu planejamentos e orçamentos com estruturas que não fazem mais sentido e dissolve-se sem acabar, enquanto 2021 dá ares de já estar no curso pós carnaval, iniciado sem festa, antes do Natal.
No intervalo de espaço tempo covidiano, o sistema financeiro internacional, influenciado por ventos da pandemia e pela inteligência da plataforma de gestão dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), Agenda 2030, já adotada pela academia, governos, empresas e fundos de investimentos ao redor do mundo; acelerou na adoção dos critérios ambientais, sociais e de governança (ESG), já exigidos para concessão da licença social local.
Enquanto investidores puramente rentistas ainda reagem – como os ingleses do Século XVIII, reclamando os velhos tempos de volta – o Fórum Econômico Mundial (WEF), recomendou padrões comuns para auxiliar empresas, independentemente do setor, na criação de valor sustentável divulgando documento intitulado “Medindo o Capitalismo das Partes Interessadas: Rumo a Métricas Comuns e Relatórios Consistentes da Criação de Valor Sustentável”, extraindo métricas do Global Reporting Initiative (GRI) para permitir a adoção acelerada.
Desenvolvidos para treinar serviços financeiros, corporativos e outros profissionais que buscam entender como ESG impactam o desempenho da empresa, o valor para os acionistas e a tomada de decisões de investimento, os cursos da PRI Academy foram elaborados para ajudar a maximizar a aplicação prática desses novos conceitos.
A S&P Dow Jones, maior provedor de índices do mundo, lançou o índice S&P/B3 Brasil ESG, em parceria com a B3, a bolsa do Brasil. O indexador utiliza critérios baseados em práticas ambientais, sociais e de governança para selecionar empresas brasileiras para sua carteira.
Investimentos ESG, que já atingem montantes internacionais de US$40 trilhões – e deverão acelerar em 2021 – são um conjunto de padrões para operações de empresas que investidores socialmente conscientes usam para avaliar seus investimentos, influenciando diretamente o desenvolvimento local. As plataformas ODS/ESG são base dos novos algoritmos que pilotarão o sistema operacional global.
Editor da conceituada revista The Economist, Tom Standage, inspirado em Benjamin Franklin, apresenta tendências na última edição de título ‘The World in 2021’, mostra lições e chances de mudanças positivas que surgiram com a crise. “Quaisquer que sejam as cartas que 2021 possa dar a você, as chances são sempre a seu favor”, afirma Standage. Feliz ano novo.
* Eduardo Athayde é diretor da Rede WWI no Brasil – eduathayde@gmail.com