Por Claudia Guadagnin
A SPVS (Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental), participou da viabilização do primeiro edifício residencial a compensar emissões por sua obra no Brasil, que vai ser entregue no início do segundo semestre de 2024.
O Árten, desenvolvido pelas incorporadoras HIEX e ALTMA, construído em Curitiba (PR), está com a entrega do empreendimento prevista para os próximos meses. O prédio incorporou diversas soluções para redução de gases do efeito estufa durante e após a construção. E o saldo de emissões da obra, calculado em 2.640 toneladas de CO2, já está sendo compensado, por meio da manutenção dos estoques de carbono de uma área de Mata Atlântica, localizada em Antonina, no litoral do Paraná, na Reserva Ambiental das Águas, uma das três Reservas Ambientais de propriedade da SPVS.
Junto com a Reserva Natural Guaricica também fica localizada em Antonina, e a Reserva Natural do Papagaio-de-cara-roxa, que fica em Guaraqueçaba, todas, no litoral do estado, as três reservas somam mais de 19 mil hectares de Mata Atlântica, e foram adquiridas pela SPVS no início dos anos 2000. Até hoje, desde então, vivem processos de restauração e enriquecimento florestal, além de outras atividades de manejo que garantem a sua proteção.
As Reservas, vale lembrar, ficam localizadas dentro do território da Grande Reserva Mata Atlântica, uma área que reúne três milhões de hectares de floresta nativa, localizada entre os Estados do Paraná, São Paulo e Santa Catarina. O território é um importante patrimônio natural, cultural e histórico e um valioso e singular destino de turismo de natureza, nacional e internacional.
Compensação: 5 hectares de floresta em pé
Considerando as estratégias de redução do impacto ambiental do Árten, o saldo da obra, calculado com o uso da metodologia confiável e validada por terceira parte, ficou em 2.640 toneladas de dióxido de carbono. A fim de compensar 100% das emissões, as incorporadoras ALTMA e HIEX optaram pela parceria com a SPVS, umas das mais importantes organizações brasileiras dedicadas à conservação do bioma Mata Atlântica no Brasil e no mundo.
Firmado oficialmente em dezembro de 2021, o Termo de Cooperação Técnica e Científica prevê a adoção de cinco hectares de floresta em pé na Reserva das Águas, no Litoral do Paraná. O compromisso vai garantir o estoque de 734 toneladas de carbono, correspondente ao total de emissões de CO2, com a conservação da área por no mínimo 30 anos. O parâmetro é calculado com base na capacidade de captura de gás carbônico presente na atmosfera pelas florestas biodiversas, por meio do método de sequestro de carbono.
A metodologia usada pela SPVS para compensação de emissões e escolhida para o Árten está embasada no conceito de “produção de natureza”, que considera que ecossistemas completos são capazes de gerar cada vez mais serviços ecossistêmicos, garantir e incrementar o estoque de carbono já presente em ambientes florestais. “As áreas naturais bem conservadas funcionam como uma grande ‘fábrica produtora de natureza’, sendo capazes de produzir e ofertar, à toda sociedade e formas de vida, as melhores condições para a manutenção da vida na Terra”, explica o diretor-executivo da SPVS, Clóvis Borges.
Para isso, são desenvolvidas atividades de manejo de alta qualidade nas áreas protegidas, que são precificadas pelo Método de Valoração Ambiental de Custo Evitado, chegando a um valor médio por hectare necessário para sua execução. “Avaliamos quanto se deve gastar para que os recursos naturais se mantenham inalterados tanto em qualidade como em quantidade, evitando, assim, qualquer dano ao ambiente e preservando a biodiversidade presente no local”, detalha a analista de processos ambientais da SPVS, Natasha Choinski, responsável pelos projetos de compensação da SPVS.
Pegada de carbono
Com oito pavimentos e 34 apartamentos, o Árten tem 5.845m² de área construída. A fórmula que tornou possível a construção de um empreendimento carbono zero desse porte partiu do cálculo de footprint (pegada de carbono), feito por uma metodologia internacional contratada pelas incorporadoras. O projeto inicial, de 2019, foi lapidado para alcançar a máxima eficiência, endossada com o selo PROCEL Edifica A. Além disso, foi adotado um check list de boas práticas que reduziram de forma significativa o impacto ambiental da obra.
De acordo com a engenheira Júlia Berticelli Basso, coordenadora de Sustentabilidade Corporativa da HIEX, foram consideradas as emissões associadas à construção do empreendimento. “Levamos em conta o carbono incorporado, associado aos impactos atribuídos aos materiais ao longo de seu ciclo de vida”, explica.
Com a escolha de materiais de menor impacto ambiental e gestão eficiente das sobras da obra, mais de 107 toneladas de resíduos de construção civil – o que corresponde a 156 caçambas – foram desviadas de aterros sanitários. Ao longo da construção, o material passou por triagem e, em vez de descartado, foi reaproveitado, por meio de doações e destinação para reciclagem.
O cálculo de emissões do Árten também considerou o combustível usado no transporte de matéria-prima e estruturas para o canteiro de obras. Para reduzir o impacto com os deslocamentos e fomentar a economia local, foram priorizados fornecedores locais. A seleção resultou em 40% de empresas e indústrias situadas em um raio de até 200 km da obra.
Além das medidas de redução do impacto ambiental da obra, o projeto do Árten recebeu uma série de itens de sustentabilidade com efeito nas emissões pelo uso do empreendimento, após a entrega. Entre as soluções de eficiência energética e hídrica, foi implantado no edifício um sistema fotovoltaico para uso da energia elétrica de matriz solar nas áreas comuns, equipadas com sensores de presença e lâmpadas de LED. Nos apartamentos, foram instalados os sistemas de ecoclick – que permite o desligamento de interruptores e lâmpadas de forma remota – e de banho inteligente com recirculação da água, que possibilita acionar o aquecimento da água dos chuveiros por smartphones.
As soluções de conforto térmico, como ventilação cruzada e esquadrias termoacústicas, contribuíram para a redução das emissões futuras, em função da redução do uso de climatizadores. No manual do proprietário, os moradores serão orientados a optar por modelos de ar condicionado com fluído R032, de baixo impacto de GWP (Potencial de Aquecimento Global). A partir de simulações, o projeto arquitetônico do Árten também incorporou a eficiência lumínica, para máximo aproveitamento da iluminação natural.
Como medidas de eficiência hídrica, o empreendimento recebeu metais hidrossanitários com controle de vazão, nas áreas comuns e nos apartamentos, além de sistema de coleta e reaproveitamento da água da chuva para rega dos jardins suspensos, com sistema automatizado de irrigação.
Com VGV (Valor Geral de Vendas) de R$40 milhões, o empreendimento será inaugurado com 80% das unidades vendidas. Segundo o engenheiro Gabriel Falavina Dias, sócio e diretor da ALTMA, o excelente resultado das vendas ratifica a preferência crescente do consumidor imobiliário por produtos de menor impacto ambiental, especialmente em um setor que está entre os maiores emissores de gases de efeito estufa.
“A construção civil é responsável por cerca de 40% das emissões globais de CO2 e nos sentimos cobrados a assumir um posicionamento mais consciente com relação à emergência climática. Para nós, que participamos de todo o processo pioneiro que viabilizou o primeiro edifício carbono zero do país, a missão cumprida é a de inspirar e encorajar iniciativas semelhantes”, afirma.
1 hectares de Floresta Ombrófila Densa ou Mata Atlântica = 152,9 toneladas de carbono
5 hectares = 764,5 toneladas de carbono
Total de emissões da obra do Árten: 2.640 toneladas de dióxido de carbono = 734 toneladas de carbono.