
Quase um terço da população brasileira — cerca de 59 milhões de pessoas — vive atualmente em trechos de ruas sem nenhuma árvore, segundo dados da pesquisa Características Urbanísticas do Entorno dos Domicílios, divulgada na quinta-feira, 17 de abril, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com base no Censo Demográfico de 2022.
A ausência de arborização urbana afeta diretamente a qualidade de vida nas cidades, comprometendo o conforto térmico, a saúde pública e a sustentabilidade ambiental.
Arborização urbana no Brasil: o cenário atual
Apesar de 66% da população — cerca de 115 milhões de pessoas — viverem em vias com algum nível de arborização, os dados mostram que a densidade ainda é baixa em muitas regiões.
Distribuição da arborização urbana:
- 20,4% da população vive em trechos com até duas árvores;
- 13,5% residem em locais com três ou quatro árvores;
- Apenas 32,1% vivem em trechos de ruas com cinco árvores ou mais.
A metodologia do IBGE considera trechos distintos de uma mesma rua. Se uma residência está localizada em uma parte com árvores, ela é considerada arborizada — mesmo que outras partes da mesma via não tenham vegetação.
Infraestrutura urbana analisada pelo IBGE
A pesquisa contemplou 63,1 milhões de domicílios, o que representa 69,5% do total no país, abrangendo 174,1 milhões de brasileiros (86% da população total). Além da arborização, foram avaliadas condições de:
- Iluminação pública
- Pavimentação
- Calçadas e acessibilidade
- Transporte e sinalização
Estados com mais e menos ruas arborizadas
Os mais arborizados:
- Mato Grosso do Sul: 92,5% da população vive em ruas com árvores
- Distrito Federal: 84,2%
- Paraná: 82,6%
Os menos arborizados:
- Sergipe: apenas 38,5% das vias têm árvores
- Acre: 42% da população vive em ruas arborizadas
- Amazonas: 44,6%
A densidade de árvores também varia: no Mato Grosso do Sul, 59% dos moradores vivem em ruas com cinco ou mais árvores; no Acre, esse número cai para apenas 10,7%.
Cidades com menor cobertura vegetal nas ruas
Algumas concentrações urbanas apresentam percentuais alarmantemente baixos de arborização. Veja os piores índices:
Concentração Urbana | Percentual de ruas arborizadas |
---|---|
Brusque/SC | 22,2% |
Barbacena/MG | 23,1% |
Tubarão – Laguna/SC | 24,9% |
Alagoinhas/BA | 27,1% |
São Bento do Sul – Rio Negrinho/SC | 31,6% |
Lavras/MG | 32,0% |
Florianópolis/SC | 32,8% |
São Luís/MA | 33,0% |
Cametá/PA | 34,3% |
Vitória de Santo Antão/PE | 34,8% |
Apesar de estarem localizadas em regiões com floresta nativa abundante, estados amazônicos como Acre e Amazonas figuram entre os piores em arborização urbana, evidenciando a falta de planejamento e investimento nas cidades.
Iluminação pública: uma realidade mais consolidada
Em contrapartida, 97,5% da população brasileira vive em ruas com iluminação pública. O único estado abaixo dos 90% é o Amapá, com 88,5%.
Ao todo, apenas 51 cidades brasileiras têm menos de 80% da população vivendo em trechos iluminados — o que representa apenas 0,9% dos municípios pesquisados.
Falta de árvores é um reflexo da desigualdade urbana
A ausência de arborização em mais de um terço dos lares brasileiros revela um descompasso entre crescimento urbano e sustentabilidade. As árvores são fundamentais não apenas para o embelezamento urbano, mas para a regulação térmica, qualidade do ar, redução de alagamentos e bem-estar da população.
Investir em infraestrutura verde é urgente para transformar as cidades brasileiras em ambientes mais equilibrados, saudáveis e resilientes.