No mês do 76º aniversário da ONU, conheça Cristina Montenegro, que trabalhou no Programa das Nações Unidas (Pnuma) no Brasil e no exterior.
“Fui uma das primeiras funcionárias da ONU a começar a carreira como servidora local e migrar para a carreira internacional, e depois me aposentei como chefe de agência, o que para uma mulher ainda era raro”. Assim Cristina Montenegro resume seus 30 anos de carreira nas Nações Unidas. “Eu abri caminho para muitas mulheres no Sistema ONU”.
Foi a habilidade com idiomas que levou Cristina a buscar, ainda na década de 1980, uma vaga nas Nações Unidas, uma das poucas áreas de trabalho em Brasília que na época valorizava o conhecimento de outras línguas. Formada em inglês e literatura inglesa pela Universidade de Brasília, Cristina começou a trabalhar no Escritório das Nações Unidas de Serviços para Projetos (Unops) em 1981. Dois anos depois migrou para o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PnuD).
A trajetória que começou por uma aptidão com línguas logo se tornou o caminho de uma ambientalista. Em 1990, a ONU começou a se preparar para a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, mais conhecida como Rio-92 ou Cúpula da Terra. Foi criada uma área de meio ambiente na estrutura do PNUD, onde Cristina assumiu a função de oficial de programas, juntamente com uma equipe de assessores com experiência no tema.
“O PnuD trabalhou ativamente em toda a preparação da Rio-92, desde a logística até as negociações”, conta. Quando a Conferência acabou e com o destaque que o tema adquiriu na década de 1990, Cristina seguiu coordenando a área de meio ambiente da instituição. Para ampliar seus conhecimentos, voltou a estudar e fez um mestrado em relações internacionais, e seu objeto de estudo foi a governança ambiental.
“Vivemos a época dourada da cooperação internacional. Tivemos a oportunidade de fazer um trabalho interessante no Brasil e o país acabou se tornando referência nos modelos de administração de projetos, em inovação”, relata.
Em 1998, a transição para a carreira internacional: Cristina foi trabalhar no escritório regional do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) na Cidade do México. Depois de cinco anos como diretora regional adjunta, voltou ao Brasil para abrir o primeiro escritório do Pnuma em um país.
“Até então, o Pnuma trabalhava por meio da sede, em Nairóbi, e de uma rede de escritórios regionais. O escritório do Brasil foi o primeiro a ser aberto para atender a um único país, e depois foi seguido por China e Rússia”. Cristina dirigiu o escritório local do Pnuma de 2004 a 2011, quando se aposentou.
Em sua avaliação, a área de meio ambiente avança como se estivesse numa montanha russa: “Partimos de uma época em que pouco se falava sobre meio ambiente, tomamos impulso em 92 com a conferência no Rio, e o tema saiu fortalecido, as instituições foram fortalecidas”. No entanto, segundo ela, aos poucos esse impulso foi se arrefecendo, e a atuação da ONU e dos países nessa área foi se concentrando em temas específicos, como biodiversidade e clima.
“A ONU fez grandes contribuições ao mundo e ao Brasil, mais especificamente. Só para citar alguns exemplos: o avanço da aeronáutica, o desenvolvimento da Embraer, a formação de controladores de voo, o crescimento da Embrapa e o programa de HIV/Aids receberam apoio das Nações Unidas. E o Brasil deu uma grande contribuição ao sistema Nações Unidas ao inovar nos modelos de gestão e cooperação”.
Apesar de estar afastada da instituição há uma década, ela segue acompanhando o trabalho da ONU. “Ataques à ONU me tocam muito diretamente. Já estive dos dois lados do balcão – já trabalhei aqui no Brasil, mas também na arena internacional. Então sei como funciona o sistema de chegar a consensos, de estabelecer políticas, como viabilizar agendas e recursos. Como conheço as dificuldades da ONU por dentro, quando vejo críticas desinformadas me incomodo muito”, conta.
Para Cristina, o papel da ONU continua extremamente relevante. “Existem situações em que o mundo só tem a ganhar com o multilateralismo. Para resolver questões como mudanças climáticas, por exemplo, não adianta que um ou outro país se engaje, é preciso ter um organismo multilateral para dar conta de abordar o alcance e a complexidade desse e de outros desafios. Não existe ainda quem possa intervir com eficiência como as Nações Unidas podem”, conclui.
Aniversário
A ONU completa 76 anos no próximo dia 24 de outubro. Para marcar a data, a ONU Brasil contará semanalmente a trajetória profissional de quatro pessoas que ajudaram a construir a história da instituição no país.