Quarenta anos depois de “Os Carbonários”, um clássico sobre a geração que enfrentou a ditadura de 1967 a 1971, Alfredo Sirkis, prestes a completar 70, lança outro robusto depoimento geracional. “Descarbonário”, sua décima obra, tem narrativa ágil e relatos curiosos de sua trajetória como político e ambientalista.
O livro contará com um lançamento virtual nesta quinta-feira, 25 de junho, às 19h, através do youtube do Centro Brasil no Clima, think tank dirigida por ele; e estará disponível no aplicativo de audiolivros Ubook, em e-book e impressões sob encomenda. “Os carbonários”, vencedor do Prêmio Jabuti de 1981, também vai ganhar uma edição em versão eletrônica para marcar suas quatro décadas de sucesso.
“Descabornário” não é uma desconstrução da obra prima de 1980. A espinha dorsal do novo livro é o tema crucial ao qual Sirkis dedicou-se nas últimas décadas: a redução de gás carbônico na atmosfera para desacelerar as mudanças climáticas, dinamizar a economia e gerar empregos. Mas a causa ambiental não é o único assunto. Longe disso. O livro traz preciosas histórias pessoais e reflexões sobre temas diversos como drogas, milícias, corrupção, ascensão e queda da esquerda, ressurgimento e vitória da extrema-direita e a sobrevida curta das duas “vacas sagradas” da economia brasileira: o petróleo e o boi.
Direita e esquerda
As quase 500 páginas de “Descarbonário”, nas quais a ação pelo clima é o fio da meada, são um passeio pela história do Brasil contemporâneo, uma prosa descontraída sobre vivências no Congresso, em dezenas de conferências internacionais e até no enfrentamento às milícias cariocas. Episódios com Fernando Henrique Cardoso, Fernando Collor, Dilma Rousseff, Michel Temer, Jair Bolsonaro e líderes mundiais como Al Gore, Emmanuel Macron e outros diversificam as páginas do novo livro.
Sirkis esbanja franqueza ao opinar sobre política e políticos. O jovem revolucionário, que nas últimas décadas sentou-se à mesa com meio mundo de liberais e comunistas, hoje define-se como um “centrista radical”. Cutuca mitos da esquerda e direita e culpa os verdes americanos por terem tirado votos de Hillary Clinton, o que teria levado à vitória de Donald Trump e à ascensão do negacionismo como ameaça ao planeta. Ele classifica como “repugnante” o apoio lulista a Nicolás Maduro, “aliás a quem Bolsonaro mais se parece”.
E o futuro?
A nova obra de Sirkis faz contraponto a uma leva de autores “colapsólogos”, que encaram a crise climática como praticamente sem solução. Para Sirkis, ela existe e passa por uma revolução cultural, tecnológica, política e financeira, “uma demanda para além do Green New Deal, uma Bretton Woods da descarbonização”. O livro questiona o modelo de financeirização neoliberal e propõe ação do estado na promoção de um novo ciclo de desenvolvimento sustentável, descarbonizante e gerador de empregos. São reflexões que ganham urgência no cenário da pandemia. Ele defende um mecanismo de financiamento da descarbonização produtiva que faça do menos-carbono o “novo ouro”.
Sobre o autor
Alfredo Sirkis, 69, é carioca, escritor, jornalista, gestor ambiental e ex-deputado federal, tendo presidido a Comissão Mista de Mudanças Climáticas do Congresso Nacional. Foi secretário de Urbanismo (2001-2006), de Meio Ambiente (1993-1996), vereador de quatro mandatos no Rio de Janeiro. Fundador do Partido Verde (PV) e seu presidente nacional entre 1991 e 1999, em 1998 aventurou-se em uma “campanha quixotesca” a presidente da República.
Participou do movimento estudantil de 1968 e, depois, da resistência à ditadura. Em 1971, foi para o exílio. Morou na França, no Chile, na Argentina e em Portugal. Começou sua carreira de jornalista em 1972, em Paris, no jornal Libération, fundado por Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir. Foi correspondente no Chile na época do golpe que derrubou Salvador Allende e também na Argentina. Depois de residir em Portugal, retornou ao Brasil na anistia de 1979.
No Brasil, trabalhou como repórter nas revistas Veja e Isto é e foi colunista o Jornal do Brasil. Escreveu outros sete livros, além de roteiros para a série Teletema da TV Globo e colaborações para os jornais Estado de S. Paulo, Folha de S.Paulo, Valor Econômico e O Globo. Sirkis não quis se candidatar à reeleição para deputado federal em 2014, abandonando a política partidária/eleitoral para voltar a atuar na sociedade civil. Ele dirige o think tank Centro Brasil no Clima (CBC) e representa no Brasil o Climate Reality Project do ex-vice presidente americano Al Gore.
Serviço:
Lançamento “Descarbonário”
Data: 25 de junho
Horário: Às 19h
Onde: Youtube “Centro Brasil no Clima” – youtube.com/centrobrasilnoclima
Aberto ao público