Água de qualidade transforma a vida de crianças em escolas de Roraima

Com a escola revitalizada, banheiros adequados à altura das crianças e água de qualidade chegando até as torneiras das pias e bebedouros, a próxima etapa foi colocar toda a comunidade escolar dentro do plano para fazer a mudança real acontecer/Foto: © UNICEF/BRZ/Mauro Lima

Por ONU News

São quase 9h30 quando os estudantes da Escola Municipal Cristo Redentor começam a deixar as salas de aula. O cheirinho do lanche começa a invadir os corredores e, no banheiro, uma pequena fila de crianças se forma para lavar as mãos antes do lanche. A cena parece comum, mas foi apenas nos últimos quatro anos que a ação se tornou hábito na segunda maior escola do Cantá, localizada na Vila São José, que fica a 142 quilômetros de Boa Vista, capital de Roraima. 

“Minha escola era pequena e feia. A água era amarelada, não dava para beber e nem lavar as mãos”, lembra Anna Carla, de dez anos. 

Ela estuda há mais de seis anos na unidade de ensino e é uma das principais testemunhas das mudanças que a escola está vivendo nos últimos anos. Os banheiros quebrados e fechados deram lugar a toaletes adaptados para crianças. A água, antes não tratada, hoje sai cristalina das torneiras da escola. É que com 28 anos de existência, é a primeira vez que a cidade participa do Selo UNICEF, uma importante certificação dada aos municípios que assumem o compromisso de manter em suas agendas prioritárias políticas públicas pela infância e adolescência. 

Entre os principais avanços, Cantá se destacou em um resultado fundamental: o de levar hábitos de higiene, acesso à água e saneamento a crianças e adolescentes. 

Os banheiros quebrados e fechados deram lugar a toaletes adaptados para crianças.
Os banheiros quebrados e fechados deram lugar a toaletes adaptados para crianças/Foto: © UNICEF/BRZ/Mauro Lima.

Identificada em uma zona com altos índices de doenças estomacais causadas pela água, onde crianças e adolescentes eram os principais afetados, o município deu um importante passo para garantir o acesso a água de qualidade a meninos e meninas. Em um trabalho intersetorial entre saúde, educação e água, saneamento e higiene (WASH, na sigla em inglês), os locais mais afetados foram mapeados e um plano para começar uma revolução na vila foi traçado. 

As escolas se tornaram o ponto de partida. “Com o norte dado pelo Selo, mapeamos as escolas que ficavam nessas zonas endêmicas e fizemos uma avaliação. Notamos que não só a revitalização do prédio era necessária, como também havia a necessidade de uma revitalização do comportamento”, explicou o articulador do Selo UNICEF no município, Marcos Abreu. 

Foi a partir das ações previstas no Selo que não só todas as escolas ganharam um sistema de água próprio, como o índice de qualidade da água passou a ser acompanhado pela Vigilância Sanitária do Município, mensalmente. Em 2024, 100% das escolas do município estão recebendo água de qualidade. 

“Até pouco tempo atrás, o município estava no século 18. Hoje estamos no século 21”, conta Marcos, animado. 

“Nos últimos quatro anos, começamos a trabalhar com o programa saúde na escola, ao mesmo tempo que aderimos ao Selo UNICEF. Esses dois programas, mas principalmente o Selo, nos deram um caminho para o que deveríamos fazer. Já tínhamos vontade, mas faltava o norte”.

Com a escola revitalizada, banheiros adequados à altura das crianças e água de qualidade chegando até as torneiras das pias e bebedouros, a próxima etapa foi colocar toda a comunidade escolar dentro do plano para fazer a mudança real acontecer. Gestores, professores e profissionais da saúde trabalharam em conjunto para implantar o programa de lavagem de mãos para as crianças e adolescentes e trabalharam para fazer a informação chegar até a família. 

“A criança é um grande colaborador. Trabalhamos sua conscientização na escola e ela faz o papel de transmitir esse conhecimento para a família. Ela não só leva esse conhecimento para casa, como começa a atuar como um fiscal da higiene, da lavagem das mãos, dos alimentos”, explicou Marcos. 

“A escola está inserida dentro da comunidade. Por isso, não é possível separar ‘criança’ de ‘família’. A família faz parte da comunidade, da comunidade escolar principalmente”. 

Agatha Hadassa, de sete anos, é uma das impactadas pelas atividades de lavagem de mãos. Na escola, a menina aprendeu a como e quando lavar as mãos, conhecimento que faz questão de reforçar com os pais. 

“Eu lavo as mãos antes e depois de comer, quando brinco com o cachorro. E falo para minha mãe como fazer também”, conta com um sorriso no rosto. 

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