A revista Nature Climate Change publicou nesta segunda-feira, 29 de agosto, um editorial defendendo a desobediência civil de pesquisadores diante do que eles definem como uma inação global que está levando o mundo a níveis catastróficos de aquecimento. O texto é assinado por cientistas climáticos que atuam no Reino Unido e na Suíça.
A necessidade de atuação política não é uma novidade para os cientistas brasileiros, principalmente aqueles que estudam temas ambientais e climáticos, e este ativismo se tornou indispensável no governo Bolsonaro.
Logo no início de seu mandato, o presidente acusou o então diretor do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), Ricardo Galvão, de fraudar os números de desmatamento da Amazônia. À época, Galvão teve que defender o trabalho da instituição publicamente.
A iniciativa de publicar um editorial na Nature defendendo que os cientistas tomem partido foi liderada pelo professor Aaron Thierry, da Universidade de Cardiff. Ele é membro da Scientists for Extinction Rebellion.
A organização é formada por cientistas inspirados pelo movimento político Extinction Rebellion, que reivindica que os governos do mundo declarem emergência climática e abandonem os combustíveis fósseis.
Novos projetos poluentes
Thierry se juntou a um protesto em abril para denunciar que o departamento do governo britânico responsável pela política de mudança climática estaria incentivando novos projetos de extração de combustíveis fósseis em vez de liderar a transição para a energia limpa.
“Já que os governos de todo o mundo continuam a ignorar os avisos científicos, como um cientista em posse dos fatos sobre a situação terrível em que nos encontramos, senti-me obrigado a agir com base nesse conhecimento”, afirma Thierry. “Esta não foi uma decisão que tomei de ânimo leve, mas um ato de desespero. Foi, a meu ver, uma resposta racional a uma situação cada vez mais insana.”
“Há uma razão pela qual os especialistas em clima estão se voltando para a desobediência civil: a cada vez mais alarmante e robusta evidência científica de ruptura climática não tem sido suficiente para levar os governos a nos ouvir”, continua Thierry.
“Quando os cientistas se sentem pressionados a fazer isto, os governos devem ouvir e ficar alarmados, e então avançar muito mais rápido com suas políticas climáticas”, defende a ativista Farhana Yamin, advogada e professora visitante da UAL (University of the Arts London), que não está envolvida no editorial.
Ação direta
A evidência do impacto positivo da desobediência civil dos cientistas já foi documentada, inclusive, no mais recente relatório do IPCC (AR6 WG3): “O IPCC conclui com ‘alta confiança’ que a ação coletiva ligada aos movimentos sociais tem desempenhado um papel substancial ao pressionar os governos a criar novas leis e políticas, observando que as táticas mais conflitantes de desobediência civil e ação direta têm se tornado cada vez mais comuns nos últimos anos”.
A The Lancet já tinha publicado em 2020 uma reflexão sobre desobediência civil de cientistas da área de saúde em relação à mudança climática.
(Via ClimaInfo)