Cenário de mudanças climáticas preocupa África

As nações do leste e do sul da África enfrentaram um aumento nas enchentes, secas e outros eventos relacionados ao clima nos últimos anos/Pnud/Arjen van de Merwe

O aumento das temperaturas e dos níveis do mar, a alteração dos padrões de precipitação e condições meteorológicas mais extremas ameaçam a saúde humana, a segurança alimentar e hídrica, além do desenvolvimento socioeconômico na África.

Essa é a principal conclusão do relatório Estado do Clima na África 2019. O estudo de várias agências, publicado na última semana de outubro, é coordenado pela Organização Meteorológica Mundial (OMM).

Em comunicado, o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas, disse que a mudança climática vem “atingindo os mais vulneráveis ​​e contribuindo para a insegurança alimentar, deslocamento da população e estresse sobre os recursos hídricos.”

Taalas destacou vários desastres dos últimos meses, como inundações, uma invasão de gafanhotos do deserto e o espectro da seca devido a um evento La Niña. Segundo ele, o custo humano e econômico também foi agravado pela pandemia de Covid-19.

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Já a secretária-executiva da Comissão Econômica da ONU para a África, Vera Songwe, disse que “a limitada aceitação e uso de serviços de informação climática no planejamento e prática do desenvolvimento na África se deve, em parte, à escassez de informações climáticas confiáveis ​​e oportunas.”

Segundo ela, o novo relatório “irá percorrer um longo caminho para abordar essa lacuna.”

Mudanças

O ano de 2019 foi um dos três anos mais quentes já registrados para o continente e essa tendência deve continuar.

As últimas previsões, cobrindo o período entre 2020 a 2024, mostram o aquecimento contínuo e a diminuição das chuvas, especialmente no norte e no sul do continente, e o aumento das chuvas no Sahel – faixa de 5.400 km de extensão, entre o deserto do Saara, ao norte, e a savana do Sudão, ao sul.

Segundo previsões da ONU, extensas áreas da África excederão 2° C de aquecimento acima dos níveis pré-industriais nas últimas duas décadas deste século. Grande parte do continente já aqueceu mais de 1 ° C desde 1901, com mais ondas de calor e dias quentes.

O ano de 2019 foi um dos três anos mais quentes já registrados para o continente e essa tendência deve continuar

Em relação ao nível do mar, existe uma variabilidade significativa. A subida do nível do mar atingiu 5 mm por ano em várias áreas e ultrapassou essa cifra no sudoeste do Oceano Índico. Esses valores são superiores ao aumento médio global de 3-4 mm por ano.

A degradação e erosão costeira é outro grande desafio, especialmente na África Ocidental. Cerca de 56% das costas do Benim, Costa do Marfim, Senegal e Togo sofrem erosão, e o cenário deve piorar.

O relatório documenta ainda eventos de alto impacto em 2019, como o ciclone Idai, que atingiu Moçambique e foi um dos mais destrutivos já registrados no Hemisfério Sul.

No mesmo ano, a África do Sul sofreu uma grande seca e, no sudeste do continente, a situação passou de secas para inundações e deslizamentos de terra associados a fortes chuvas. As inundações também afetaram o Sahel e áreas circundantes.

Segurança alimentar

Nos países da África Subsaariana, o número de pessoas subnutridas subiu 45,6% desde 2012.

Seca em Angola deixou famílias desesperadas e crianças sem tempo para educação, Unicef Angola/2019/Carlos César

A agricultura é a espinha dorsal da economia e garante grande parte dos meios de subsistência. Projeções da ONU sugerem que os cenários de aquecimento podem ter efeitos arrasadores na produção agrícola e na segurança alimentar.

Os principais riscos incluem a redução da produtividade e o aumento dos danos causados ​​por pragas, doenças e impactos de inundações. Em meados deste século, as principais safras de cereais sofrerão impactos adversos.

No pior cenário, projeta-se uma redução no rendimento médio de 13% na África Ocidental e Central, 11% na África do Norte e 8% na África Oriental e Austral.

Saúde e economia

Temperaturas mais quentes e mais chuvas elevam o risco de picadas de insetos e propagação de doenças transmitidas por vetores, como dengue, malária e febre-amarela.

Além disso, novas doenças estão surgindo em regiões onde não havia casos. Em 2017, cerca de 93% das mortes globais por malária ocorreram na África.

O Centro de Política Climática Africano projeta que o Produto Interno Bruto nas cinco sub-regiões africanas sofreria uma diminuição significativa como resultado de uma subida da temperatura global.

Para cenários que variam de 1° C a 4° C de aumento, o PIB do continente deve diminuir de 2,25% para 12,12%.

(Via ONU News)

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